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domingo, 11 de setembro de 2016

Links da Semana #10

Divulgação do documentário Mulheres Negras: Projetos de Mundo - Arteretirada da fan page

O feriado do 7 de setembro foi produtivo por aqui! Consegui fechar o post 10 álbuns lançados em 2016 que você precisa ouvir, conversar com quem acabou de descobrir o blog (isso é sempre muito fera) e me animar para fazer o Links da Semana #10. Talvez ele não esteja tão recheado, mas vem com temas extramente pertinentes. E me diga, qual link legal você viu esta semana?


Mulheres Negras: Projetos de Mundo
Estava no Twitter quando vi este link do Prosa Livre, que contém uma entrevista com Dayane Rodrigues, sobre o documentário Mulheres Negras: Projetos de Mundo. Até então não conhecia o projeto e antes de ler a entrevista, conferi o trailer do longa. Ele começa com uma citação poderosa de Gloria Anzaldúa. Depois, Luana Hansen, Djamila Ribeiro e Preta-Rara (citando apenas as mulheres que reconheci) aparecem lacrando. No fim do trailer senti aquela "pedrada" daquele tipo de trabalho que é pesado, urgente importante. Na entrevista, Dayane fala sobre como surgiu o documentário e a necessidade de criar narrativas das mulheres negras. Para empoderá-las, para lutar contra o racismo e visibilizar a resistência. O trailer é muito bom, recomendo muito que você assista e leia a entrevista, é só clicar no primeiro link deste parágrafo. E para quem está em SP: o documentário será lançado no dia 12 de setembro, às 19h, no Centro Cultural Olido - Av. São João, 473. A entrada é gratuita. 


Preta, Gorda, Sapatão e Riot Grrrl
Bah Lutz, do projeto Riot Grrrl Brasil, é vocalista da mineira Bertha Lutz. A banda de hardcore tocou em julho no 2º Distúrbio Feminino Fest, em São Paulo. Lá, elas tocaram a música "Preta, Gorda e Sapatão", que fala sobre esta resistência que é tão invisibilizada. Após o show, uma mulher branca e magra abordou Bah, sugerindo que ela substituísse o último verso da letra por "branca, magra e sapatão" porque segundo a moça, "nós também existimos". E é sobre isto que ela escreve para o blog Gorda e Sapatão. Isto é absurdo e problemático porque mulheres brancas, magras e lésbicas têm visibilidade esmagadora em relação à mulheres negras, gordas e sapatonas. Este é um texto urgente, importante, que precisa ser lido por tods, especialmente por quem colam nos roles. Leia aqui.



Aline Valek faz vídeo para Think Olga sobre como começar sua newsletter
Eu estava no trabalho quando a Think Olga publicou um vídeo no qual Aline Valek fala sobre como você pode começar a sua newsletter. Fiquei super satisfeita, porque já contei aqui que leio o Bobagens Imperdíveis - a newsletter fodona da Aline - e foi assim que comecei a ler outras e até em pensar em escrever uma. Claro, parei o que estava fazendo para assistir o vídeo. Ver uma pessoa que admiro e que está fazendo tanta coisa legal de forma independente me deixou muito feliz e deu aquela energia boa pra minha tarde. Por isso, acho que você também pode ver, para se inspirar e iniciar aquele projeto (seja ele qual for) que está querendo sair da gaveta.




Punk Rock Não é Só Pro Seu Namorado
Você precisa ler ou compartilhar um bom texto que fale sobre o que é o Riot Grrrl? Que faça um apanhado de algumas bandas e relacione o RG no contexto punk? Então os seus problemas acabaram! A Babi, do coletivo Non Gratxs, escreveu o texto "Punk Rock Não é Só Pro Seu Namorado" para o blog Crítica Persona. E no fim, rola uma playlist. Aprecie sem medo de ser feliz. Aqui!


Setembro Amarelo
A campanha Setembro Amarelo tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre o suicídio e alertá-las aos sinais de pessoas que possam estar passando por esta situação. E ontem, dia 10 de setembro, foi o Dia Mundial de Combate ao Suicídio. É um dia de luta, porque cada dia é um e é uma batalha. A Kaol Porfírio fez um post a respeito que espero que te toque tanto quanto me tocou. Leia aqui. Outra ilustradora e feminista que falou sobre o tema hoje foi a Renata Nolasco (que já saiu em outro Links da Semana). Com o apoio de profissionais da área, ela preparou seis cartões sobre como lidar com depressão. A cada semana serão publicados dois, sendo que o primeiro já foi publicado. Acompanhe tudo pela fan page dela. A realidade do suicídio não pode ser ignorada, tão pouco a saúde mental das pessoas. Tenha atenção consigo e com o outro. Você vai conseguir.

Arte: Atóxico/Renata Nolasco

As Mina na História
Por conta do Setembro Amarelo, pipocou no meu feed uma newsletter da página As Mina na História sobre escritoras suicidas. Ainda não li, mas fiquei super contente por poder ler mais uma newsletter feita por mulheres que estão se movimentando muito. Você pode ler o texto e se inscrever aqui!

The Sad Ghost Club
É um clube para qualquer um que está se sentindo triste ou perdido. É o clube para aqueles que nunca se sentiram parte de outro clube. Esta é a descrição da fan page do zine The Sad Ghost Club, que fala principalmente sobre ansiedade e depressão de uma forma muito delicada e única. Lá, as vezes encontro uma compreensão e sensibilidade que não vejo em outras pessoas ou projetos. E eles publicaram uma tirinha especial sobre prevenção de suicídio com a legenda "conexão, comunicação, cuidado". Achei que essa era a melhor forma de terminar este Links da Semana. Continue vivendo! Fan page.

Livre tradução: "Eu passei por tudo isso... e eu mereço continuar vivendo"

sábado, 16 de abril de 2016

Links da Semana #3




Mais uma semana de Links da Semana! E isso é sinônimo de um cadinho de satisfação pra mim, por ter tido aquela disposição para sentar e fazer esse compilado. Tem notícia massa para as fãs de The Julie Ruin, playlist pra embalar aquela siririca delícia, indicações de livros e mucho mas!


The Julie Ruin
Na semana passada nós falamos sobre a banda de Kathi, Sara e Kathleen e o teaser sobre o novo álbum. E pimba, essa semana The Julie Ruin anunciou que Hit Reset será lançado no dia 8 de julho. Mas elas lacraram um pouquinho mais e lançaram junto o lyric vídeo de "I Decide", que conta com a participação de Katie Crutchfield (PS Elitot, Waxahatchee). Assista e saiba mais.




Punk's not White
Dica quente do Afropunk, sobre os artistas de Bogotá Juan e Diego, que criaram a série Punk's not White. Os ilustradores retratam diversas punks que não são brancas, para se contrapor a narrativa principal que não celebra ou populariza bandas punks formadas por pessoas negras. Siga os artistas no TumblrInstagram e Flickr. Leia a matéria do Afropunk




5 biografias de mulheres fortes 
A Revista Polen indica cinco biografias sobre mulheres fortes. Pessoalmente, tenho um tiquinho assim de antipatia pelo termo 'mulheres fortes', porque sou dessas que acredita que todas somos fortes, mas algumas não descobriram ainda sua força. Porém, não vou fazer aloka problematizadora, porque entendo a dificuldade que é criar títulos que deem conta do que se quer falar. Da lista, já apenas 'Olga' e achei interessante as indicações. Leia aqui!

#1000blackgirlsbook
A Marley Dias, de 11 anos, encheu o saco de só ler livros sobre meninos brancos e os seus cachorros. E o que você faz quando está incomodada? Tenta resolver o problema. Com a ajuda de sua mãe, Janice, ela começou a coletar livros com os quais ela conseguisse se relacionar. Foi quando ela começou a colecionar livros sobre meninas negras. Sua meta era juntar 1000 livros, mas ela dobrou e bateu a meta. Leia mais.

Siririca Set
A Xotanás convidou a DJ e produtora brasiliense Athena Ilse para criar um set list especialmente para aquele momento lindo do dia: a siririca. Eu recomendaria você ouvir para ver se esse som é a tua praia. Confira!

She's a Punk Rocker UK
Rubella Ballet lançou em 2010 o documentário She's a Punk Rocker UK, que registra as mulheres punks da cena londrina dos anos 1970. Somente recentemente, Rubella o disponibilizou no Youtube. O longa, de pouco mais de uma hora, entrevista Polly Styrene, Gee Vaucher, Gaye Advert e etc. Saiba mais.




Constanza Moreira
A senadora uruguaia foi uma das principais articuladores dentro do Senado urugaio em prol do projeto que, desde 2012, permitiu que as mulheres interrompessem voluntariamente a gestação. A Revista Capitolina entrevistou Constanza. O link é do início do mês, mas acho válido estar aqui. Leia mais. 


Diabetes
"Saúde é subversiva bom porque não dá lucro pra ninguém", Sonia Hirsch já disse isso inúmeras vezes. Quem lucra com a doença é a indústria farmacêutica e a alimentícia. Uma, 'cura', a outra fornece substancias viciantes, presentes em quase tudo que é industrializado. Açúcar, corante, conservante são substâncias nocivas para o nosso organismo. O açúcar, pra mim, é uma das piores drogas. E esta matéria das Nações Unidas informa que o número de pessoas vivendo com diabetes quase quadruplicou em 34 anos. A estimativa é que 422 milhões de adultos no mundo (8,5% da população) viviam com diabetes em 2014. Em 1980, esse número era de 108 milhões (4,7%). Isso tudo uma cortesia daqueles que têm liberdade para colocar quanto açúcar quiserem em tudo. Mais do que nunca, é importante politizarmos a nossa alimentação, pois isso é sobre sobrevivência e autocuidado. Leia mais.

Theresa Kachindamoto
Ela é supervisora de um distrito em Malwi (África) e se destaca como líder feminista. Nos últimos três anos ela anulou mais de 850 casamentos infantis. Isso porque mais da metade das mulheres em Malawi se casam antes dos 18 anos. Por mais Theresas Kachindamotos nesse mundo. Saiba mais.



Receitas naturais para falta de energia física e mental
Que tal começar a tentar lidar com stress de forma menos farmacêutica? O Jardim do Mundo dá várias dicas e receitas para diminuir o stress e ansiedade. Claro que, feitas de forma isolada provavelmente não surtirão muito efeito. Mas esse pode ser um bom começo para viver melhor. Confira!

10 ótimas bandas punks contemporâneas 
A Rolling Stone listou 10 bandas contemporâneas que, para eles, definem o punk rock na atualidade. Sheer Mag, GxLxOxSxS, RVIVR, Tacocat e Downtown Boys estão na lista. Vale a pena leitura.


Atóxico/Renata Nolasco
Na semana passada uma tirinha da Laura Athayde entrou no links da semana, e a partir de agora vou sempre tentar colocar um trabalho bacana de alguma ilustradora/quadrinista/desenhista brasileira neste post. A desta semana é a Atóxico/Renata Nolasco, que fez esse gif lindeza total de presente para a Devaneios Com Canela. Confira o trabalho de Renata Nolasco.

"Quer esmagar o patriarcado junto comigo?" Por Renata Nolasco - Atóxico

Porque a história do punk é tão branca?
Não é desta semana, mas o questionamento é fundamental e urgente. Quantas bandas formadas por pessoas negras são lembradas, celebradas e estão na ponta da língua? E no Riot Grrrl? É por essas e por outras que representatividade é tão importante. Leia mais.

Mulheres poderão ter spray de pimenta
Olha, é um exercício hercúleo para mim colocar esse link aqui. Usando todo (todinho) meu super poder de abstração e minimizando todo o (muito) sexismo e machismo do textinho, somo informadas que há um debate sobre a venda de spray de pimenta (hoje ilegal) para mulheres se defenderem de assaltantes, sequestradores e estupradores. Isso são palavras do textinho, não minhas. E o melhor, a proposta é que este spray tenha tampa rosa. Caso alguém tenha um link menos imbecil sobre o assunto pode compartilhar nos comentários? Leia o textinho do O Dia.

Programação para não programadores
Gente, eu não faço post ad, ok? Ninguém nunca me procurou com uma proposta assim. Mas achei essa proposta interessante, por isso estou divulgando. Trata-se de um workshop que será realizado dia 27, na Vila Olímpia (SP), que ensinará programação para quem não sabe nada a respeito. Não há pré-requisitos e a iniciativa é de Camila Achutti, que lidera o projeto 'Semana da Mulher na Tecnologia', que me pareceu ser interessante. Saiba mais.



E hoje a gente termina o Links da Semana com essa foto esplêndida demais da conta :D

Via Gatomia

domingo, 22 de novembro de 2015

A voz rasgante de Elza Soares



Desde a minha infância ouço o timbre rasgante de Elza Soares, uma cortesia da minha mãe. A aspereza e beleza de sua voz é o que a torna tão encantadora. No recém lançado A Mulher do Fim do Mundo, primeiro álbum de inéditas, essa característica fica ainda mais notável. Especialmente em "Maria da Vila Matilde", música que denuncia a violência doméstica, ela esbraveja com a força necessária "Cadê meu telefone? Eu vou ligar para o 190 (...) Aqui você não entra mais eu digo que não te conheço e jogo água fervendo se você se aventurar". 

A canção já ocupa minha categoria de "melhor música brasileira de 2015", com folga. Não só pela letra, mas pela interpretação e sensações despertadas pela voz dela, que - literalmente - sofrida, não se cala. Graças as deusas. Porque a cada disco, esse lançado os 78 anos, Elza ensina mais. E parece que ela quer viver mais e mais e mais.

8 pinos recém colocados na coluna não a fizeram cantar com menor gana, que começa esse álbum entoando "Me deixe cantar, eu quero cantar até o fim". O que por bem, e com liberdade poética, interpreto  como "eu quero viver até o fim", coisa que ela está fazendo muito bem. E ela nos inspira, em tempos especialmente difíceis para ser mulher sobrevivendo no Brasil.

Se ainda te falta alguma motivação para ouvir esse álbum e argumentos feministas são do seu agrado, em uma entrevista recente para o El País, ela disse "A mulher está sendo violentada de todos os jeitos" e se opõe abertamente ao PL 5069/2013 (que proíbe a venda da pílula do dia seguinte e cria diversos empecilhos para mulheres vítimas de violência sexual). Elza é uma das artistas mais verdadeiras e isso fica claro em sua voz, de mulher negra que gritou sozinha durante muito tempo - em que poucas outras vozes ecoavam.

Rasgante, ela enverga, mas não quebra.


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

guest post: Witch fala sobre ser grafiteira e feminista


Gaffitti de Witch e Kalyne Lima

Todas as fotos foram retiradas da página da Witch

Me chamo Priscila, sou fotógrafa e grafiteira, nas ruas sou conhecida como Witch, sou de João Pessoa, na Paraíba, nordeste do Brasil. Comecei a ter envolvimento com intervenções urbanas através da pixação por volta de 2004, época da escola ainda, onde conheci outros meninos que também pixavam e eu achava massa, a adrenalina ia à mil. Naquele tempo não existiam muitas pixadoras por aqui, acho que além de mim, só algumas meninas que iam com seus namorados. Parei um tempinho por alguns “probleminhas” com a polícia e com a família. Mas nesse tempo em que fiquei parada, comecei a fotografar e a acompanhar alguns rolês de uns amigos da pixação que faziam bombs e conheciam uns grafiteiros da cidade. Foi conversando com esses grafiteiros que , em 2008, soube de umas oficinas de graffiti gratuitas e a que tinha perto da minha casa era ministrada por uma mulher, a Dedoverde – com quem hoje tenho uma crew: a Borboletas de Passagem - e eu achei o máximo, pois o número de mulheres grafitando por aqui sempre foi bem reduzido.

Graffiti das Borboletas de Passagem - crew formada por Dedoverde e Witch - no Recifusion Art 7, em Recife



Apesar de toda a dificuldade que tínhamos em relação ao material, ao preconceito que ainda existia na época, ao menor apoio de nossas famílias, eu e Dedoverde decidimos montar a crew, com a ideia de espalhar mais graffitis feitos por mulheres e convidar outras meninas para pintar conosco. Só que todas as meninas que grafitaram e tentaram participar da crew não ficaram por muito tempo. São muitas dificuldades colocadas, principalmente a nós mulheres, ao fator “ir para a rua”. Tinha o preconceito da sociedade, cólicas, namorados machistas, gravidez, falta de grana pra compra do material (que era péssimo por aqui quando começamos), e se fossémos pintar à noite então, os obstáculos dobravam. Vinha a tensão de talvez ser assaltada -antes, durante e depois da pintura-, de ser estuprada, vários fatores. Isso fez com que a crew virasse um duo. Hoje em dia somos só nós, Witch e Dedoverde.

Em relação ao preconceito por parte de grafiteiros daqui, acho que nem passamos por isso. Pelo contrário, eram nossos amigos e eles mesmos incentivaram e ajudaram a não desistirmos, como várias que pararam de pintar. Mas dentro do movimento graffiti em si, existe sim bastante preconceito, bastante assédio, bastante desigualdade ainda, infelizmente. Como em qualquer movimento existem alguns machistas –por mais que eles digam “não sou machista, tampouco feminista” kkkkkkk- e sempre rola de em alguns eventos a gente não ter um número de participação igual ao dos homens, sempre rola de que se incomodem com o tamanho da roupa que usamos para grafitar, sempre rola de tratarem as mulheres super bem, jurando que por que estão sendo prestativos terão alguma chance de ficar com a pessoa.




O nome Witch, significa bruxa em inglês e as bruxas sempre foram condenadas por serem hereges, por não seguirem o cristianismo pregado pela igreja, e em muitos lugares, bastava a mulher ser esquisitona para ser considerada bruxa, perseguida e levada à fogueira, ou seja, apenas  preconceito explícito que causou muitas mortes. Digamos que não estou “nos padrões” impostos pela sociedade. Sou negra, periférica, não estou no padrão de "corpo ideal", não vou à igreja e luto pelos meus direitos, isso já seria motivo para eu ser uma bruxa! Hahahaha (imaginem uma risada maquiavélica!)

Nos graffitis faço críticas diretas e indiretas ao machismo, ao racismo, à homofobia e a qualquer tipo de violência que nós mulheres e amigas sofremos todos os dias. Coloco nos muros imagens femininas através da minha personagem, a Catrina, seja utilizando spray ou fazendo colagens. Às vezes, ela vem acompanhada com mensagens feministas sobre amor próprio, aceitação do seu corpo e empoderamento.

Camisas da personagem Catrina

Um dos quadros de Witch

A partir do momento em que alguma mulher se identifica com nossos graffitis, acredito que a mensagem que eu queria transmitir  foi passada, mais que isso, o feminismo e a sororidade das frases também. Mesmo que incomode muitas vezes. Se alguém criticou construtivamente ou negativamente, é porque foi visto.

Sinto falta ainda de mais mulheres fazendo interveções nas ruas, seja ela graffiti, colagem, stencil, pixação. Mas o número de mulheres intervindo já é bem maior que antigamente e acho isso lindo, ver que outras mulheres querem e precisam se expressar usando a rua como suporte. Espero que esse número só cresça!

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O objetivo deste guest post é proporcionar um relato em primeira pessoa a respeito da experiência da Witch, para conhecermos mais do universo do graffiti e dos desafios que ela superou para fazer o que faz. A conheci no Vulva La Vida e desde então acompanho os trampos talentosos da Pri. Vida longa, Witch!

Para informações sobre os preços de telas, blusas e demais criações da Witch é só mandar mensagem direta para a página dela.
Facebook | Matéria pra o G1 Paraíba | Dedoverde 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

5 zines disponíveis online que você precisa ler logo

Ilustração do zine Girl Gang Coletivo, de Jéssica Lisboa


Quando esse blog começou, a proposta - mal executada, é verdade - era falar sobre zines. Os que eu fazia - e faço até hoje - e os demais que chegavam na minha casa, pelas famosas trocas de zines pelos correios. Apesar disso, hoje em dia não falo tanto sobre zines quanto gostaria. É que rolam outras pautas também. Mas.. a boa filha a casa torna, né? Por isso, separei cinco zines, todos feitos por mulheres, disponíveis no Isssuu que vocês precisam ler.

O Issuu não tem nem um pouquinho da graça dos zines de papel que chegavam inesperadamente em casa. As vezes amassados, outras com muitas coisas nos pacotes, eles fazem o dia. "Fazem" porque de vez em quando ainda faço umas trocas assim. Mas, se não fosse o Issuu conheceríamos menos zines. O lance é correr atrás da versão física quando ela está disponível. Bora para listinha? Quais zines vocês acham que deveria estar nesse post?

*Todas as imagens são prints dos zines


Selvatik
Publicação com poesias e desenhos de Jane Gomes e colagens da minha parça Laíza Ferreira. A inspiração do zine é a deusa grega da caça e das florestas selvagens, Ártemis. Filha de Leto e Zeus, ela ainda inspira magia e liberdade para as mulheres. O encontro das mulheres com os animais e a natureza é retratada no zine, que vale a pena ser adquirido na versão impressa. Leia aqui.
Para quem gostou do trabalho da Laíza, pode conferir o Witchcraft Collage, projeto em que fazemos colagens juntas há cerca de um ano.



Girls Get Busy
Em sua 24ª edição, o Girls Get Busy é o zine da plataforma feminista homônima que há alguns anos compila e organiza arte feminista produzida de forma independente. O coletivo é de Londres, e sempre publica zines com conteúdo de artistas que se identificam como mulheres. 
A edição atual chamou a minha atenção pela arte "Finish Him", de Beth  Siveyer, curadora do zine. A arte brinca com a clássica passagem do jogo Mortal Kombat, mostrando apenas as mulheres do jogo como as vencedoras. Eu sempre dava muitas coças nos meus primos com a Sindel, por isso foi uma referência muito boa, haha!  Leia aqui a 24ª edição e as demais.




Girl Gang Coletivo
24 artistas brasileiras - entre elas a Aline Lemos (Desalineada) e a Jéssica Lisboa, que já entrevistamos - se juntaram e formaram o Girl Gang Coletivo. A organização desse big zine é da Bruna Morgan, ilustradora do Rio de Janeiro. A publicação traz muitos desenhos e ilustrações, sendo que a grande maioria deles trabalha com a temática feminista. O role do Girl Gang Coletivo é a nova leva de zineiras brasileiras, especificamente das ilustradoras e artistas feministas que estão se organizando e criando publicações, feiras de zines em um ritmo contínuo. Vale muito a pena conferir, leia o zine!



4xamor
O 4xamor é o primeiro zine da editora independente Drunken Buterfly, do Rio de Janeiro. Lançado em março deste ano, ele é feito pelas quatro amigas que fazem a editora, e tem ilustrações, colagens e fotografias. Autoral e pessoal, como todo bom zine sempre é. A editora vai participar, nos dias 29 e 30 da I Kraft, feira que vai rolar no Instituo de Artes da Unesp. Leia o zine! 





Alpacalipse
O Alpacalipse zine é a primeira publicação da Editora Alpaca, focada na literatura e em artistas mulheres. Lançado neste mês, elas abriram uma chamada pública para contribuições com a temática de memória. O resultado final é mais um zine que apresenta a produção de 15 mulheres artistas contemporâneas, que trabalham com colagem, fotografia, poesia e ilustração. O zine está sendo vendido por $13 (sem transporte). Leia a resenha do lançamento do zine e o próprio zine.

Essa é a colagem que eu e Laíza fizemos e que foi selecionada. Angela Davis 4 the win!


terça-feira, 12 de maio de 2015

"Punk Rock Não é Só Pro Seu Namorado" de Bulimia, é ilustrada por Jéssica Lisboa



Todas as ilustrações do post são de Jéssica Lisboa



Atenção! Só só vale ler esse post cantando e ouvindo o som:




Na maioria das vezes, o feed do Facebook não é o melhor local para se estar. Mesmo que você tire o que te incomoda, sempre aparece algo meio nada a ver. Mas recentemente, tive uma dessas surpresas boas. Sabe quando você lê uma frase exatamente do jeito que ela é cantada? 

Foi isso que aconteceu comigo quando vi as ilustrações do hino "Punk Rock Não é Só Pro Seu Namorado", de Bulimia. Rapidamente entrei na fanpage e conheci o trabalho da Jéssica Lisboa, que com muita qualidade representou a música em quadrinhos. As cores, o traço dela e os desenhos são super bonitos, dá uma olhada:









Assim que vi o post, marquei a Ieri (vocalista do Bulimia), porque esse tipo de afeto faz muito bem. Se para mim que sou fã da banda já foi incrível ver as ilustrações, imagina para ela! Para mim, o trabalho da Jéssica mostrou o legado das minas e bandas punk feministas, que é empoderador e marcante, mesmo que hoje em dia a banda não toque mais. 

A Jéssica, que é da zona leste de São Paulo, é talentosa e tem muitas coisas produzidas, e os desenhos sempre me remetem a um universo meio sereia-subversivo que é bem agradável de se estar. Para mim, o traço dela e os "derretimentos" das ilustrações são parte importante da identidade visual dos trampos. Nós aproveitamos a ocasião e conversamos um pouco com a Jéssica. Ah, e a boa notícia é que ela pretende ilustrar mais trechos da música!


Como surgiu a ideia de ilustrar "Punk rock não é só pro seu namorado"?
Bom, eu já curtia punk rock desde a minha pré-adolescência mas de um ano pra cá mais ou menos venho conhecendo e interagindo mais com o feminismo e consequentemente introduzindo isso nas minhas ilustrações. "Punk rock não é só pro seu namorado" se tornou praticamente um hino pra mim quando conheci Bulimia, então eu resolvi ilustrar pela mensagem mesmo, pra que talvez outras meninas também se identifiquem e se emponderem, mesmo que não curtam punk rock.

Como você encarou a receptividade das ilustrações?
R: Sempre que posto algo mais relacionado ao feminismo a receptividade é muito boa, mas realmente me surpreendi e fiquei muito feliz de ver tantas meninas se identificando não só com as ilustrações mas principalmente com a mensagem que a música passa.


Puro amor 

Há uma previsão para as próximas ilustrações da música? Pretende ilustrar mais alguma música de banda punk feminista?
Pretendo sim, até porque minha maior inspiração vem da música. Ainda não tenho uma previsão exata mas ainda esse mês faço mais algumas com certeza.

Quando você começou a ilustrar? Você vende as ilustrações? Já tem algum zine lançado?
Essa é uma pergunta difícil rs, eu desenho desde criança e nunca parei, mas só tive tive coragem de mostrar minha arte pro "mundo" quando criei a página há um ano mais ou menos. Eu sempre fui tímida, então desenhar pra mim sempre foi uma válvula de escape, um lugar onde eu pudesse me expressar e criar uma outra realidade. Mas qualquer coisa que eu faço pode ser comprada e também
aceito encomendas. Zine ainda não tenho nenhum mas pretendo criar em breve.

Os desenhos são de aquarela? Qual técnica você usou? É possível comprar prints deles?
Foi uma mistureba de aquarela, nanquim e canetinha marca texto haha, mas ainda dei uma editada digitalmente nas cores. Ainda não fiz prints deles, mas pretendo abrir uma lojinha online em breve pra facilitar com ilustrações, prints, telas e outras coisinhas.

Para saber mais, acompanhe o trabalho da Jéssica no Facebook e no Tumblr.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Lutas e afetos aquareláveis: uma entrevista com a Desalineada

Hermione Granger por Desalineada

A leveza da aquarela não mente, há muita força no traço da mineira Aline Lemos, a Desalineada. Feminismo, moradia popular, amorosidade entre mulheres, memória, sexualidade e bruxaria são alguns dos temas trabalhados por essa professora de História, que é também graduanda em Artes Plásticas. Ela participa do coletivo ZiNas, formado por artistas mineiras, e do coletivo Girl Gang, que traz um time de artistas brasileiras que está enchendo o rolê dos quadrinhos de feminismo.

Seus zines mais recentes são Vênus e Liturgia das Bruxas - que entraram para a minha lista de melhores zines de 2014. Quando os li fiquei com a impressão que eles falavam de mim, das minhas experiências e histórias. As publicações são carregadas de poesia, beleza e força, muito bem marcadas pelas ilustrações. Nada melhor do que esse sentimento de identificação para querer descobrir mais e mais do universo da artista. Por isso, convidei a Aline para conversar conosco sobre empoderamento, tema que trabalhamos no mês de luta da mulher. Nada melhor do que conhecer a experiência de empoderamento de outra mulher para se inspirar né?

*Todas as imagens são da Desalineada e reproduzidas de suas redes sociais

Por Aline Lemos


Cabeça Tédio) Você é ilustradora e trabalha com criação e arte em um país onde essas atividades não são muito celebradas. Seu objetivo é trabalhar com ilustração? Como foi seu processo de empoderamento para estar em uma área que é, como outras, machista?

Desalineada: Meu objetivo é trabalhar com ilustração, mas principalmente, quadrinhos. É um objetivo difícil mesmo se fossem desconsiderados os obstáculos machistas, pois é uma área complicada aqui no Brasil, mas mesmo assim estou investindo nela, tendo paciência e conciliando outras atividades profissionais.

CT) Quando foi que você se deu conta que você se empoderou, em algum aspecto da sua vida? 

D: Acho que meu processo de empoderamento começou quebrando as barreiras dentro de mim mesma, aqueles impedimentos e formas de opressão que você internaliza. Ter confiança suficiente para acreditar que eu poderia ser uma artista foi algo que demorou muito para mim. Acredito que isso aconteceu muito pelas dificuldades próprias da área, de acreditar na viabilidade profissional da arte. Mas também tomaram parte a falta de confiança, timidez e sentimento de não pertencimento que nós, como mulheres, muitas vezes internalizamos de modo geral, e que nessa área também acontecem a seu modo. Então fui construindo aos poucos minha possibilidade como artista. Os grupos de mulheres artistas e quadrinistas e as iniciativas incentivando quadrinistas amadoras foram fundamentais nesse processo.


Foto: Samanta Coan

Autoretrato de 2015

Outra forma de empoderamento que comecei a viver na mesma época foi com relação ao meu corpo. Passei a ter muito mais prazer e confiança na forma de lidar com ele, dançando, vivendo minha sexualidade e minha autonomia cuidando da minha saúde. Meu cabelo, meu piercing e minhas tatuagens, que são coisas que muita gente acha superficiais, foram parte desse processo. Quando eu fiz essas mudanças, fui ficando cada vez mais consciente disso.

Tirinha - Desalineada


CT) O que significa empoderamento para você? Já viveu uma situação onde antes era insegura e em outro momento percebe que se empoderou? Se for possível, conta um pouco sobre?

D: Acho que empoderamento é tomar consciência de si e de suas ações, para tentar superar as opressões que vivemos. É uma luta interna e externa, como diz uma amiga minha. Toda essa situação que mencionei sobre minha relação com o meu corpo e com a possibilidade de ser artista eram coisas que me causavam muito sofrimento quando era adolescente. Eu era insegura com o meu corpo, com a minha identidade como mulher, com a minha sexualidade (sou bissexual), com a minha possibilidade de independência. É até difícil citar um exemplo, mas a raiva e o isolamento eram sentimentos muito constantes na minha vida. É claro que ainda tenho inseguranças e sofrimentos, como é natural, mas consigo lidar com eles de forma muito melhor. Nesse sentido, acho que de certa forma empoderamento também tem a ver com cuidar de si. Mas não estou desconsiderando que "empoderamento" vem de poder, quer dizer, de tomar poder para si, de combater algum poder que te oprime. Aprendi com o feminismo que nossas lutas internas, nossas vivências particulares e íntimas, também estão ligadas às relações de poder da nossa sociedade. Esse também é um campo político. Luta interna e luta externa estão juntas.

Série Extinção - Desalineada


CT) Para mim, empoderamento é uma forma de resistência. Como você se despertou para o empoderamento?


D:Também acho que é uma forma de resistência. Para mim, foi em contato com o feminismo, primeiro na prática da forma que eu sabia resistir, e depois nas leituras e convivências. No meu caso, a análise com uma psicóloga também ajudou muito. Mas os grupos de apoio e iniciativas de incentivo, como o de mulheres quadrinistas e artistas que mencionei, foram fundamentais. Acredito muito no apoio mútuo e na solidariedade para o empoderamento de qualquer grupo marginalizado!

Utilidade Pública

Indico fortemente que você mergulhe no trabalho da Desalineada, especialmente comprando os zines e prints aqui. É sempre importante, quando podemos, apoiar uma artista mulher e nos cercarmos de cultura feministra. Indico as ilustrações sobre a MC Xuxu, MC Bárbara Sweet, Pussy Riot e os outros trabalhos que estão no Facebook e no Tumblr, confira!

Compilação de ilustrações - Foto: Desalienada

sábado, 3 de janeiro de 2015

Retrospectiva: Melhores de 2014

Bandas, discos, clipes, banda revelação, melhor show: tudo girlcentric! 


Por Carla Duarte


Já passou da hora da nossa lista dos melhores de 2014! Eu e Nandolfo compartilhamos com vocês a nossa lista, que é o crème de la crême do que lemos, vimos e ouvimos, lançado no ano que passou. O formato da lista é igual a outra que fizemos: cada uma com suas categorias. O critério é o de sempre: produzido por mulheres (cis e trans), feminista, elegêbetêtêtê. Bora?! 









Melhor banda
Parasol (Boston, Massachusetts,EUA)

O álbum Not There, lançado em janeiro, me conquistou na primeira ouvida. Com um ritmo uniforme, o disco mantém a sonoridade da banda, com riffs abafados que se conectam com a bateria e dão espaço pros solinhos que casam com a voz da Lily harmonicamente. Quanto mais ouvi, mais gostei, e acho que deve ter sido o lançamento que mais ouvi no ano. Minha música preferida é "At Bay", a baladinha que toda vez que eu ouvia dava uma dançadinha. As músicas, o posicionamento político e as letras fofas: tudo me faz gostar desse álbum. Ouça já!



Melhor disco
"EP", High Dive (Bloomington, Indiana, EUA)


É uma das minhas bandas preferidas? Sim. Tem o Toby Foster? Sim. Se a Ginger Alford entrou para a banda nessa gravação? Com certeza. É por essas, e por outras já vou falar delas, que o EP lançado em setembro pela Yoyo Recs me ganhou. Além da Ginger (Good Luck), Richard Wehrenberg Jr também entrou para a banda, que deixou de ser um power trio para ter cinco pessoas. O grande diferencial do álbum é o vocal, que agora Toby compartilha com a Ginger, que também toca guitarra. A voz dela é foda, e deu muita vida para as músicas. Claro que esse disco não é ótimo por acaso, não dá para serem ruim músicas feitas por quem toca/va no Defiance, Ohio e Good Luck. Claro, os pianos do Richard também deram outra sonoridade, que nesse disco diminui a velocidade e a "crudeza" dos sons. O álbum tem apenas cinco canções, e Seventeen é a minha preferida por motivos de "And i am getting used to growing up / but i still believe in the same things that i did when i was seventeeeen". Cheia de amor, essa música descreveu onde me encontro e foi muito reconfortante nos dias em que as responsabilidades e o "crescer" pisaram na minha cabeça. Quando o que queria era voltar no tempo, só um pouquinho. Ouça o álbum e assista o clipe de Untouched.



Melhor clipe
Making Art, JD Samson & MEN (Nova Iorque, EUA)
Como eu sou punk, vou quebrar uma regra porque. Making Art, de JD Samson & MEN, foi lançado em outubro de 2013, mas recentemente não encontrei outro mais bacana que esse. Não é novidade que MEN lacra muito nos clipes. Um réptil maravilhoso que não sei o nome se souber me conta? é a primeira imagem, e no fundo JD canta "my friends are making art and i wanna", como quem mostra para a sua comunidade o quanto ela é incrível. Conceitual, o vídeo - que mostra o processo de construção de algo - me fez pensar em todas as minhas amigas que mudam o meu mundo com o que criam. A música é incrível e só reforça a qualidade da banda. Em 2013, foi lançado o último álbum do MEN, Labor.





Melhor show
Trash No Star no Mais Rock, Mais Bichos (show em Volta Redonda, banda do Rio de Janeiro)

Trash No Star é uma banda lo-fizeira, garageira, com sujeiras, distorções no talo e músicas curtas. O show delas foi tudo isso só que elevado até a décima potência. As músicas são fodas, o show tinha um clima ótimo, mas nada foi mais massa do que ver uma banda que toca com vontade e que está presente. Sem afetação, sem palhaçada e com muita simpatia. A cereja do bolo foi o cover de One More Our (Sleater Kinney) fiel à sonoridade da TNS, que destruiu tudo. Só sobrou muito suor e amor. Quando esse power trio do Rio de Janeiro tocar na sua cidade faça esse favor a você mesma: cole!
O último lançamento deles é "Stay Creep (No) Summer Hits", do ano passado. How are you?, Miss me e Misses Digger são as melhores (difícil escolher uma só).


Melhor vocalista
Stephie Crist (Hysterics)


Falo até umas horas de pop punk, mas meu coração bate forte, há anos, pelo hardcore punk. Foi assim que me meti nisso tudo, inclusive. Stephie Crist e seu vocal rasgado, gritadeiro e potente é bom desde sempre. Mas no EP Can't I Live? está ainda melhor, com seus gritos rasgados que embalam riffs, solos e deixam qualquer um com vontade de pogar. Lançado em 2014 pela M'Lady's Recs, não poderia deixar de falar do Hysterics, que representa as punks feministas no role hardcore punk. Please Sir é o som mais foda, e se ainda não ouviu, vemk.




Banda revelação
VYVYAN (Bloomington, Indiana, EUA)

Punk com pegadas pop, folk e uma pitadinha country. Um baixo que é uma lindeza e a pepita de ouro que é a voz da Garret Walters. Bastaram apenas quatro músicas para eu passar mal com VYVYAN, que é da terra em que banda boa parece ser uma regra. A sinceridade das letras junto com as músicas formam algo lindo demais. Queria ouvir um full lenght deles logo, mas enquanto isso não rola, a demo fica no repeat. Parece ser injusto dizer qual é a melhor música, mas a minha preferida é Saint Mary's River. Ouça!!




Zines de 2014 que recomendo
Bikini Kill, O Viés, XXX, Manzanna*, Ciborgue de Pele, Liturgia das Bruxas, Vênus e Gata Pirata


Bikini Kill, zine-homenagem com colagens e desenhos da Jessica Nakaema. Ela também faz O Viés, com Régis Bezerra. Esse é recheado de colagens fodas. Com cinco volumes de quadrinhos feitos por mulheres, impresso em gráfica e com qualidade profissa, indico o zine XXX, que marca o boom da cena dos fanzines de quadrinhos feito por minas. O zine de papel craft é da Manzanna, e tudo que li dela até hoje gostei bastante. Essa publicação tem  desenhos incríveis que retratam questões existenciais e misantrópicas. *O zine não tem nome, mas para identificá-lo citei o nome da autora.  Ciborgue de Pele, da Halina Gricha, é uma viagem pela saudade feita com a ajuda de Donna Haraway, que samba na cara da heteronormatividade. É cheio de coração. Liturgia das Bruxas e Vênus, são poderosos. A liturgia é uma profanação de sororidade, com desenhos em aquarela gatos demais. Vênus é sobre garotas que despertam a vontade de fazer coisas proibidas. Ambos feitos pela Desalineada (Aline Lemos), e você precisa comprá-los logo. O Gata Pirata, da Maiara Moreira, mistura desenhos e textos que falam sobre olhar para você mesma e se reconstruir. E sobre a importância da amizade entre mulheres nesse processo, é bem lindo. Não sei se ele é de 2014, mas entra para a lista mesmo assim. E se você me perguntar quais zines eu fiz em 2014 eu te digo: o Histérica #3 e o Ainda Não. E deixando um comentário você pode comprá-los ou fazemos uma troca.


Melhor música
Bury Our Friends (do álbum No Cities To Love, Sleater Kinney)
Essa foi a primeira música do Sleater Kinney divulgada após o hiato de 10 anos. Não preciso mais dizer porque é a melhor música, é apenas o primeiro som divulgado depois de uma década de não músicas de Janet, Corin e Carrie. Ouça, logo!!








Melhor banda 
Downtown Boys (Providence, Rohde Island) 

Quando ganhei a demo dels no meio do ano já tinha ouvido falar do entusiasmo em torno da banda. Afinal, é punk com saxsofone, né gente! Punk político e latino numa cena branca também política, mas que ainda parece ser separada. Shows fodas, interação público-banda, tudo aquilo que faz uma banda ser considerada a melhor do ano. E ainda não falei da Victoria Ruiz, vocalista da banda, que é encantadora e passa uma força enorme, pela vivência e pela forma como apresenta a banda. Há quem a considere a KH de hoje. Foda? Sim! E sim, é a melhor banda do ano, né! Ouça, ouça! 





Melhor disco
Courting Strong da banda Martha (Durham, UK)

É um disco de trajeto. O melhor disco de trajeto desse ano. Me acompanhou um semestre inteiro e assim consegui ouvir cada faixa como se deve. Tem balada, reefs poppunks, pianos na intro, tudo isso acompanhado de guitarrinhas sem distorção e vocais fodas da Naomi, JC, Daniel e Nathan (esses dois da ONSIND também). Esse é um disco que não perde o pique, músicas sobre amores queers, pessoal-político, um clima anarco e uma brisa pop daquelas que te faz sentir bem por ter uma relação mínima que seja com tudo isso. Disco ótimo pra ouvir numa viagem entre cidades, numa visita a uma amiga querida que te faz falta nos dias. Ouça aqui! 



Banda revelação
Fleabite (Boston, MA)
Gente, não é banda nova. Acho até que foi criada no final de 2013, por aí. Mas comecei a acompanhar com o lançamento da demo Over It, no primeiro semestre desse ano. Grunge, punk, pop, distorção e gatxs. Misturinha ótima, que me fez voltar a ouvir música com distorção nas alturas depois de ter abraçado as guitarras suaves.  A banda é de Boston e fazem parte a Chelsea, Ali (da Tomboy e Springsteen) e Vick (da Peeple Watchin e Parasol S2!!). Mas pelo que li a Vick saiu, por ter mudado de cidade. Enfim, melhor novidade pra mim que espero virar melhor banda. Ouça!! 




Melhor projeto solo
Lily Richeson 
(Boston, Massachusetts,EUA)
 
Passei um bom tempo da minha vida ouvindo música feita apenas com guitarra, voz e sentimento. É o tipo de música que explora mais que a sonoridade, notas e melodias. Eu aprendi muito de mim com a energia que a música feita com alma passa e sempre quando ouço o projeto solo da Lily Richeson me volto a mim e a uma parte da minha vida. Reverb, coração e o peso de uma vida estão aqui. Recomendo muito! Ouça.



Zine de 2014 que recomendo
Sentidos Transmutados em Textos (de Bianca Amorim, Serra, Espírito Santo, Brasil)


Esse ano passou com poucos zines por aqui, não consegui acompanhar um sequer, nem mesmo procurar por novos. Mas no finalzinho do ano recebi um que me encantou, muito por eu ter estado “por perto” enquanto estava sendo feito. Sentidos transmutados em textos é um zine de poemas/inquietações feito pela Bianca Amorim, no melhor estilo zine punk. Corta e cola muito bom, gosto do jeito como foram feitas as colagens. E ler as impressões que o mundo deixa nela me faz pensar nas minhas próprias, de uma forma bem amiga. Ela escreve de uma forma única, sempre digo que há uma identidade muito boa ali. Nunca acompanhei um zine nesse formato, mas não vejo a hora do número dois sair. Para saber um pouco mais é só escrever pra ela: sentidostransmutadosemtextos@hotmail.com