sexta-feira, 18 de setembro de 2015

guest post: Witch fala sobre ser grafiteira e feminista


Gaffitti de Witch e Kalyne Lima

Todas as fotos foram retiradas da página da Witch

Me chamo Priscila, sou fotógrafa e grafiteira, nas ruas sou conhecida como Witch, sou de João Pessoa, na Paraíba, nordeste do Brasil. Comecei a ter envolvimento com intervenções urbanas através da pixação por volta de 2004, época da escola ainda, onde conheci outros meninos que também pixavam e eu achava massa, a adrenalina ia à mil. Naquele tempo não existiam muitas pixadoras por aqui, acho que além de mim, só algumas meninas que iam com seus namorados. Parei um tempinho por alguns “probleminhas” com a polícia e com a família. Mas nesse tempo em que fiquei parada, comecei a fotografar e a acompanhar alguns rolês de uns amigos da pixação que faziam bombs e conheciam uns grafiteiros da cidade. Foi conversando com esses grafiteiros que , em 2008, soube de umas oficinas de graffiti gratuitas e a que tinha perto da minha casa era ministrada por uma mulher, a Dedoverde – com quem hoje tenho uma crew: a Borboletas de Passagem - e eu achei o máximo, pois o número de mulheres grafitando por aqui sempre foi bem reduzido.

Graffiti das Borboletas de Passagem - crew formada por Dedoverde e Witch - no Recifusion Art 7, em Recife



Apesar de toda a dificuldade que tínhamos em relação ao material, ao preconceito que ainda existia na época, ao menor apoio de nossas famílias, eu e Dedoverde decidimos montar a crew, com a ideia de espalhar mais graffitis feitos por mulheres e convidar outras meninas para pintar conosco. Só que todas as meninas que grafitaram e tentaram participar da crew não ficaram por muito tempo. São muitas dificuldades colocadas, principalmente a nós mulheres, ao fator “ir para a rua”. Tinha o preconceito da sociedade, cólicas, namorados machistas, gravidez, falta de grana pra compra do material (que era péssimo por aqui quando começamos), e se fossémos pintar à noite então, os obstáculos dobravam. Vinha a tensão de talvez ser assaltada -antes, durante e depois da pintura-, de ser estuprada, vários fatores. Isso fez com que a crew virasse um duo. Hoje em dia somos só nós, Witch e Dedoverde.

Em relação ao preconceito por parte de grafiteiros daqui, acho que nem passamos por isso. Pelo contrário, eram nossos amigos e eles mesmos incentivaram e ajudaram a não desistirmos, como várias que pararam de pintar. Mas dentro do movimento graffiti em si, existe sim bastante preconceito, bastante assédio, bastante desigualdade ainda, infelizmente. Como em qualquer movimento existem alguns machistas –por mais que eles digam “não sou machista, tampouco feminista” kkkkkkk- e sempre rola de em alguns eventos a gente não ter um número de participação igual ao dos homens, sempre rola de que se incomodem com o tamanho da roupa que usamos para grafitar, sempre rola de tratarem as mulheres super bem, jurando que por que estão sendo prestativos terão alguma chance de ficar com a pessoa.




O nome Witch, significa bruxa em inglês e as bruxas sempre foram condenadas por serem hereges, por não seguirem o cristianismo pregado pela igreja, e em muitos lugares, bastava a mulher ser esquisitona para ser considerada bruxa, perseguida e levada à fogueira, ou seja, apenas  preconceito explícito que causou muitas mortes. Digamos que não estou “nos padrões” impostos pela sociedade. Sou negra, periférica, não estou no padrão de "corpo ideal", não vou à igreja e luto pelos meus direitos, isso já seria motivo para eu ser uma bruxa! Hahahaha (imaginem uma risada maquiavélica!)

Nos graffitis faço críticas diretas e indiretas ao machismo, ao racismo, à homofobia e a qualquer tipo de violência que nós mulheres e amigas sofremos todos os dias. Coloco nos muros imagens femininas através da minha personagem, a Catrina, seja utilizando spray ou fazendo colagens. Às vezes, ela vem acompanhada com mensagens feministas sobre amor próprio, aceitação do seu corpo e empoderamento.

Camisas da personagem Catrina

Um dos quadros de Witch

A partir do momento em que alguma mulher se identifica com nossos graffitis, acredito que a mensagem que eu queria transmitir  foi passada, mais que isso, o feminismo e a sororidade das frases também. Mesmo que incomode muitas vezes. Se alguém criticou construtivamente ou negativamente, é porque foi visto.

Sinto falta ainda de mais mulheres fazendo interveções nas ruas, seja ela graffiti, colagem, stencil, pixação. Mas o número de mulheres intervindo já é bem maior que antigamente e acho isso lindo, ver que outras mulheres querem e precisam se expressar usando a rua como suporte. Espero que esse número só cresça!

----------------

O objetivo deste guest post é proporcionar um relato em primeira pessoa a respeito da experiência da Witch, para conhecermos mais do universo do graffiti e dos desafios que ela superou para fazer o que faz. A conheci no Vulva La Vida e desde então acompanho os trampos talentosos da Pri. Vida longa, Witch!

Para informações sobre os preços de telas, blusas e demais criações da Witch é só mandar mensagem direta para a página dela.
Facebook | Matéria pra o G1 Paraíba | Dedoverde 

Nenhum comentário: