sábado, 11 de julho de 2015

5 mulheres que quebram a ideia de que rap não é lugar de mulher

Dina Di, a primeira mulher a fazer sucesso no Rap

Rap não é lugar de mulher: foi isso que pensei durante muito tempo. Não sabia onde estavam as minas do rap, as letras que falavam especificamente sobre a experiência de ser mulher nesse role e via o rap como um som puramente sexista e machista, porque não conhecia nada diferente disso. Minha (antiga) ideia - que acredito ser compartilhada por muita gente - reflete o senso comum sobre o rap. Um cenário de homens, que falam sobre problemas sociais e que categoriza as mulheres entre "mães" e "vadias", narrativa frequente nas letras.

Sou do interior do Rio de Janeiro, em uma região em que o rap não é expressivo e que o funk predomina. Não cresci ouvindo o som, não fui à batalhas de rima e fui descobrir qual é a ponte da "Ponte Pra Cá", recentemente. Na verdade, eu nem gostava do som. Era muito diferente do "tupá tupá" do punk rock que ouvia. Como não via as minas do role, não me conectava com aquilo. Tanto que as mulheres que eu conhecia, e pela televisão, eram Negra Li e Nega Gizza, mas nunca cheguei a ouvir, pois não gostava do som ainda. Até que peguei para ouvir aqueles caras do Capão Redondo.

Racionais MC's é o Ramones do rap brasileiro. Até quem não gosta de rap, gosta de Racionais. Como muitas bandas punks, eles também tem letras misóginas. Vide "Júri Racional", em que eles chamam as mulheres de vagabundas e vacas (olha o especismo aí, gente!). Ao mesmo tempo, em "Voz Ativa" eles perguntam onde estão as modelos negras e racham os racistas. A lista de letras sexistas é longa e menciono eles, pois foi o primeiro grupo de rap que gostei e que vi a profundidade da crítica social do rap à sociedade.

"Rap não é lugar de mulher", eu pensava. 

O tempo passou e tive a sorte de mudar de opinião. Nada melhor do que alguém que você gosta e que entende do assunto te dar o papo e você se abrir, ouvir e acrescentar mais um tipo de som pra sua vida (obrigada, Luan!). Enquanto não tinha entendido tudo que há no rap, eu pensava, "o rap precisa de um Riot Grrrl"*, de algumas mulheres que ocupassem o espaço e defendessem a representatividade das minas no role. Assim, eu teria vontade pra ouvir algo com uma sonoridade bem diferente, porque poderia conhecer a experiência das mulheres do rap.

*Riot Grrrl é um movimento contracultural de mulheres da cena punk do Noroeste do Pacífico dos Estados Unidos. A cena era protagonizada majoritariamente por homens e em 1990, bandas denominadas Riot Grrrl chamavam as meninas para ficar perto do palco (algo que não é muito simples de se fazer até hoje) e as incentivava a fazerem zines, montarem bandas e coletivos e desconstruirem o machismo. De forma resumida e direta: elas ocuparam o espaço e estimularam que outras garotas fizessem o mesmo.

Rap é lugar de mulher.

Assisti pelo Facebook o vídeo da Bárbara Sweet na Batalha de Santa Cruz. E de repente, tudo fez sentido. Esse vídeo me marcou e pra mim é o "riot grrrl" do rap, porque como  Kathleen Hanna e outras mulheres do Riot Grrrl norte-americano, a Sweet ocupou o espaço e rachou o machista. Reforço que esse é o meu marco pessoal de encontrar o feminismo no rap. Mas quem deu o ponta pé inicial para a representatividade das mulheres no rap foi a Dina Di.

Ela foi a primeira MC que liderou um grupo de rap, por isso ela é uma das grandes percursoras e teve a foto colocada no destaque do post. Antes dela, muitas mulheres faziam principalmente backing vocals.  Foi depois dela, já nos anos 2000, que as coisas começaram a mudar.

É por essas, e por outras que hoje vejo que Rap é lugar de mulher e acredito que as MC's, DJ's, break dancers e as minas desse role devem ser celebradas, mesmo em um blog sobre Riot Grrrl. E se você ainda tem aquela ideia que eu tinha sobre as mulheres no rap, esse é o momento ideal para pesquisar e desconstruir ideias e preconceitos. Tem mulher no rap sim, o que falta é visibilidade. Então bora mostrar um pouco das rappers e mc's feministas!


Bárbara Sweet



Conheci a Sweet quando ela rachou um cara machista na Batalha de Santa Cruz. Minha sensação ao ver o vídeo foi de ódio (a ele), explosão e vontade de gritar "Porra, Sweet!!". Ela não era só ela. A rima dela a defendia e também milhares de mulheres que se ofenderam com a fala do cara. Ela era a Sweet, eu, você e todas nós que rechaçamos machistas. Depois desse vídeo procurei músicas dela e não me arrependi. Destaco "Moça", disponível no soundcloud. A boa notícia é que a mineira está produzindo seu primeiro disco! Ela rima há 11 anos participa de muitas batalhas de rima, e é altamente recomendável você conferir alguns vídeos.




Luana Hansen



Conheci a MC Luana Hansen no 4Minas. Ela é uma das protagonistas do documentário que fala sobre quatro mulheres lésbicas de São Paulo, dirigido por Elisa Gargiulo (Dominatrix). Na mesma época, Luana e Elisa fizeram uma parceria e nasceu a música "Ventre Livre de Fato", que fala sobre a descriminalização do aborto. Depois, ouvi "Flor de Mulher", música que responde a "Trepadeira" de Emicida. Mas a minha preferida é "Negras em Marcha", que celebra as mulheres negras e aponta o racismo estrutural desse Brasil.

Negra, lésbica e no rap: a MC Luana ocupa um espaço bem específico no rap. E por ter letras incríveis e politizadas e uma voz foda, recomendo que você pegue o soundcloud. E para nós que somos do Rio, a nova música "Funk da Realidade" lacra até o chão, indico que você comece a ouvir por ela.


Yzalú



Além do rap, Yzalú carrega o violão. Por isso, dessa lista ela é que tem a sonoridade que mais se aproxima da MPB. Mas ela também tem músicas sem o violão, o que dá uma versatilidade grande para as canções. Com uma voz super bonita, ela manda o papo de várias formas.

A sua canção "Mulheres Negras" faz parte da mixtape Grrrl Power I. Ela tem alguns covers de voz e violão de sons do Sabotage e Cássia Eller, vale a pena conferir. Em breve, ela vai lançar seu primeiro full lenght, É o rap tio, que já tem clipe. Confira o site e soundcloud.


   


Sara Donato



Que bom que li esta entrevista com Sara Donato e ouvi "Peso na Mente", música em que ela critica a gordofobia e pede para tirarem os padrões do corpo dela. Em "A Bela", ela também fala sobre padrão de beleza e sampleia "Falsa Abolição", música do grupo Tarja Preta que também entrou na mixtape Grrrl Power I. Nem preciso dizer porque vale a pena procurar o álbum, Made in Roça e baixar né? É rap, é feminista e racha a gordofobia, gente!






Preta Rara 




Conheci a Preta Rara quando ouvi "Falsa Abolição", música de seu grupo antigo, Tarja Preta. O som tem clipe, onde música, letra e imagens dialogam de uma forma muito poderosa, que me apresentou o trabalho da Preta Rara. Racismo, gordofobia e machismo estão sempre sendo criticados nas letras da rapper feminista, que é empoderada e manda muito nas rimas. Ouça o soundcloud e assista a apresentação na Virada Feminista, evento realizado na primeira semana de julho em São Paulo.



2 comentários:

semfiltro disse...

Mina valeu mesmo, mo valor q cê deu pras minas e po, satisfação conhecer o trabalho delas, que orgulho de ver isso na cena! Só conhecia o som da Preta Rara.. E é ótimo quando alguém te apresenta uma qualidade assim de música. Valeuu, muita luz!

lucas santana disse...

Tem também A's Trinca, Rimação, Issa Paz.