sábado, 3 de janeiro de 2015

Retrospectiva: Melhores de 2014

Bandas, discos, clipes, banda revelação, melhor show: tudo girlcentric! 


Por Carla Duarte


Já passou da hora da nossa lista dos melhores de 2014! Eu e Nandolfo compartilhamos com vocês a nossa lista, que é o crème de la crême do que lemos, vimos e ouvimos, lançado no ano que passou. O formato da lista é igual a outra que fizemos: cada uma com suas categorias. O critério é o de sempre: produzido por mulheres (cis e trans), feminista, elegêbetêtêtê. Bora?! 









Melhor banda
Parasol (Boston, Massachusetts,EUA)

O álbum Not There, lançado em janeiro, me conquistou na primeira ouvida. Com um ritmo uniforme, o disco mantém a sonoridade da banda, com riffs abafados que se conectam com a bateria e dão espaço pros solinhos que casam com a voz da Lily harmonicamente. Quanto mais ouvi, mais gostei, e acho que deve ter sido o lançamento que mais ouvi no ano. Minha música preferida é "At Bay", a baladinha que toda vez que eu ouvia dava uma dançadinha. As músicas, o posicionamento político e as letras fofas: tudo me faz gostar desse álbum. Ouça já!



Melhor disco
"EP", High Dive (Bloomington, Indiana, EUA)


É uma das minhas bandas preferidas? Sim. Tem o Toby Foster? Sim. Se a Ginger Alford entrou para a banda nessa gravação? Com certeza. É por essas, e por outras já vou falar delas, que o EP lançado em setembro pela Yoyo Recs me ganhou. Além da Ginger (Good Luck), Richard Wehrenberg Jr também entrou para a banda, que deixou de ser um power trio para ter cinco pessoas. O grande diferencial do álbum é o vocal, que agora Toby compartilha com a Ginger, que também toca guitarra. A voz dela é foda, e deu muita vida para as músicas. Claro que esse disco não é ótimo por acaso, não dá para serem ruim músicas feitas por quem toca/va no Defiance, Ohio e Good Luck. Claro, os pianos do Richard também deram outra sonoridade, que nesse disco diminui a velocidade e a "crudeza" dos sons. O álbum tem apenas cinco canções, e Seventeen é a minha preferida por motivos de "And i am getting used to growing up / but i still believe in the same things that i did when i was seventeeeen". Cheia de amor, essa música descreveu onde me encontro e foi muito reconfortante nos dias em que as responsabilidades e o "crescer" pisaram na minha cabeça. Quando o que queria era voltar no tempo, só um pouquinho. Ouça o álbum e assista o clipe de Untouched.



Melhor clipe
Making Art, JD Samson & MEN (Nova Iorque, EUA)
Como eu sou punk, vou quebrar uma regra porque. Making Art, de JD Samson & MEN, foi lançado em outubro de 2013, mas recentemente não encontrei outro mais bacana que esse. Não é novidade que MEN lacra muito nos clipes. Um réptil maravilhoso que não sei o nome se souber me conta? é a primeira imagem, e no fundo JD canta "my friends are making art and i wanna", como quem mostra para a sua comunidade o quanto ela é incrível. Conceitual, o vídeo - que mostra o processo de construção de algo - me fez pensar em todas as minhas amigas que mudam o meu mundo com o que criam. A música é incrível e só reforça a qualidade da banda. Em 2013, foi lançado o último álbum do MEN, Labor.





Melhor show
Trash No Star no Mais Rock, Mais Bichos (show em Volta Redonda, banda do Rio de Janeiro)

Trash No Star é uma banda lo-fizeira, garageira, com sujeiras, distorções no talo e músicas curtas. O show delas foi tudo isso só que elevado até a décima potência. As músicas são fodas, o show tinha um clima ótimo, mas nada foi mais massa do que ver uma banda que toca com vontade e que está presente. Sem afetação, sem palhaçada e com muita simpatia. A cereja do bolo foi o cover de One More Our (Sleater Kinney) fiel à sonoridade da TNS, que destruiu tudo. Só sobrou muito suor e amor. Quando esse power trio do Rio de Janeiro tocar na sua cidade faça esse favor a você mesma: cole!
O último lançamento deles é "Stay Creep (No) Summer Hits", do ano passado. How are you?, Miss me e Misses Digger são as melhores (difícil escolher uma só).


Melhor vocalista
Stephie Crist (Hysterics)


Falo até umas horas de pop punk, mas meu coração bate forte, há anos, pelo hardcore punk. Foi assim que me meti nisso tudo, inclusive. Stephie Crist e seu vocal rasgado, gritadeiro e potente é bom desde sempre. Mas no EP Can't I Live? está ainda melhor, com seus gritos rasgados que embalam riffs, solos e deixam qualquer um com vontade de pogar. Lançado em 2014 pela M'Lady's Recs, não poderia deixar de falar do Hysterics, que representa as punks feministas no role hardcore punk. Please Sir é o som mais foda, e se ainda não ouviu, vemk.




Banda revelação
VYVYAN (Bloomington, Indiana, EUA)

Punk com pegadas pop, folk e uma pitadinha country. Um baixo que é uma lindeza e a pepita de ouro que é a voz da Garret Walters. Bastaram apenas quatro músicas para eu passar mal com VYVYAN, que é da terra em que banda boa parece ser uma regra. A sinceridade das letras junto com as músicas formam algo lindo demais. Queria ouvir um full lenght deles logo, mas enquanto isso não rola, a demo fica no repeat. Parece ser injusto dizer qual é a melhor música, mas a minha preferida é Saint Mary's River. Ouça!!




Zines de 2014 que recomendo
Bikini Kill, O Viés, XXX, Manzanna*, Ciborgue de Pele, Liturgia das Bruxas, Vênus e Gata Pirata


Bikini Kill, zine-homenagem com colagens e desenhos da Jessica Nakaema. Ela também faz O Viés, com Régis Bezerra. Esse é recheado de colagens fodas. Com cinco volumes de quadrinhos feitos por mulheres, impresso em gráfica e com qualidade profissa, indico o zine XXX, que marca o boom da cena dos fanzines de quadrinhos feito por minas. O zine de papel craft é da Manzanna, e tudo que li dela até hoje gostei bastante. Essa publicação tem  desenhos incríveis que retratam questões existenciais e misantrópicas. *O zine não tem nome, mas para identificá-lo citei o nome da autora.  Ciborgue de Pele, da Halina Gricha, é uma viagem pela saudade feita com a ajuda de Donna Haraway, que samba na cara da heteronormatividade. É cheio de coração. Liturgia das Bruxas e Vênus, são poderosos. A liturgia é uma profanação de sororidade, com desenhos em aquarela gatos demais. Vênus é sobre garotas que despertam a vontade de fazer coisas proibidas. Ambos feitos pela Desalineada (Aline Lemos), e você precisa comprá-los logo. O Gata Pirata, da Maiara Moreira, mistura desenhos e textos que falam sobre olhar para você mesma e se reconstruir. E sobre a importância da amizade entre mulheres nesse processo, é bem lindo. Não sei se ele é de 2014, mas entra para a lista mesmo assim. E se você me perguntar quais zines eu fiz em 2014 eu te digo: o Histérica #3 e o Ainda Não. E deixando um comentário você pode comprá-los ou fazemos uma troca.


Melhor música
Bury Our Friends (do álbum No Cities To Love, Sleater Kinney)
Essa foi a primeira música do Sleater Kinney divulgada após o hiato de 10 anos. Não preciso mais dizer porque é a melhor música, é apenas o primeiro som divulgado depois de uma década de não músicas de Janet, Corin e Carrie. Ouça, logo!!








Melhor banda 
Downtown Boys (Providence, Rohde Island) 

Quando ganhei a demo dels no meio do ano já tinha ouvido falar do entusiasmo em torno da banda. Afinal, é punk com saxsofone, né gente! Punk político e latino numa cena branca também política, mas que ainda parece ser separada. Shows fodas, interação público-banda, tudo aquilo que faz uma banda ser considerada a melhor do ano. E ainda não falei da Victoria Ruiz, vocalista da banda, que é encantadora e passa uma força enorme, pela vivência e pela forma como apresenta a banda. Há quem a considere a KH de hoje. Foda? Sim! E sim, é a melhor banda do ano, né! Ouça, ouça! 





Melhor disco
Courting Strong da banda Martha (Durham, UK)

É um disco de trajeto. O melhor disco de trajeto desse ano. Me acompanhou um semestre inteiro e assim consegui ouvir cada faixa como se deve. Tem balada, reefs poppunks, pianos na intro, tudo isso acompanhado de guitarrinhas sem distorção e vocais fodas da Naomi, JC, Daniel e Nathan (esses dois da ONSIND também). Esse é um disco que não perde o pique, músicas sobre amores queers, pessoal-político, um clima anarco e uma brisa pop daquelas que te faz sentir bem por ter uma relação mínima que seja com tudo isso. Disco ótimo pra ouvir numa viagem entre cidades, numa visita a uma amiga querida que te faz falta nos dias. Ouça aqui! 



Banda revelação
Fleabite (Boston, MA)
Gente, não é banda nova. Acho até que foi criada no final de 2013, por aí. Mas comecei a acompanhar com o lançamento da demo Over It, no primeiro semestre desse ano. Grunge, punk, pop, distorção e gatxs. Misturinha ótima, que me fez voltar a ouvir música com distorção nas alturas depois de ter abraçado as guitarras suaves.  A banda é de Boston e fazem parte a Chelsea, Ali (da Tomboy e Springsteen) e Vick (da Peeple Watchin e Parasol S2!!). Mas pelo que li a Vick saiu, por ter mudado de cidade. Enfim, melhor novidade pra mim que espero virar melhor banda. Ouça!! 




Melhor projeto solo
Lily Richeson 
(Boston, Massachusetts,EUA)
 
Passei um bom tempo da minha vida ouvindo música feita apenas com guitarra, voz e sentimento. É o tipo de música que explora mais que a sonoridade, notas e melodias. Eu aprendi muito de mim com a energia que a música feita com alma passa e sempre quando ouço o projeto solo da Lily Richeson me volto a mim e a uma parte da minha vida. Reverb, coração e o peso de uma vida estão aqui. Recomendo muito! Ouça.



Zine de 2014 que recomendo
Sentidos Transmutados em Textos (de Bianca Amorim, Serra, Espírito Santo, Brasil)


Esse ano passou com poucos zines por aqui, não consegui acompanhar um sequer, nem mesmo procurar por novos. Mas no finalzinho do ano recebi um que me encantou, muito por eu ter estado “por perto” enquanto estava sendo feito. Sentidos transmutados em textos é um zine de poemas/inquietações feito pela Bianca Amorim, no melhor estilo zine punk. Corta e cola muito bom, gosto do jeito como foram feitas as colagens. E ler as impressões que o mundo deixa nela me faz pensar nas minhas próprias, de uma forma bem amiga. Ela escreve de uma forma única, sempre digo que há uma identidade muito boa ali. Nunca acompanhei um zine nesse formato, mas não vejo a hora do número dois sair. Para saber um pouco mais é só escrever pra ela: sentidostransmutadosemtextos@hotmail.com 

5 comentários:

Amanda disse...

detesto listas porque perdi a esperança nelas.

essa me fez recuperar as forças pra continuar acreditando em listas <3 muito bom!

boredcarla disse...

Poxa, que massa ler isso! Não sou a maior fã também, porque listas podem ser simplistas demais. Gostei de ter feito essa, e que da hora que você curtiu! ;)

Julie Oliva disse...

Uma lista de coisas que perdi em 2014. (o= Eu adorava listas, mas nunca conseguia acessar tudo o que colocavam nelas... daí eu comecei a tentar fazer listas, mas eu não tinha acesso a tanta coisa para recheá-las. Hoje, menos ainda... estou completamente por fora por falta de competência para me organizar para saber as novidades sobre o que eu gosto. Esta lista foi um tesouro pra mim, Ca! Ouvi quase tudo. Gostei de Vyvyan, Trash No Star (quero ver show!) e Parasol. E High Dive... ganhou o meu coração! Da volta do Sleater-Kinney eu sabia porque um amigo me avisou, e a Íris me mandou a campanha do "Queremos!" E por falar nisso, tem uma campanha pelo Rainer Maria (High Dive me lembrou muito Rainer Maria! - tô viajando?), que se reuniu na passagem de 2014 para 2015, e que quer tocar no Brasil! Tô sabendo da volta há mais ou menos um ano, fiz vários contatos pra ver se alguém os trazia pra cá... mas nada. Hoje tive umas ideias e fiz novos contatos, e agora tem o "Queremos!". :) Ah! E é muito bom ser sua leitora. Beijos.

Julie Oliva disse...

http://www.queremos.com.br/rainermaria?r=GoYF229

boredcarla disse...

Eita ju! Não tava sabendo do queremos! de Rainer Maria, vou dar uma olhada. E não acho rainer muito na linha de high dive, apesar dos dois terem semelhanças no estilo. Trash No Star toca bastante, logo você pega um show deles. Eu também estou pegando o jeito com as listas e fico contente demais em saber que é bom ler aqui e tal =)
Beijão!