Coluna do Nandolfo
Estreiou dia 18 de outubro, em uma tour por quatro cidades americanas (NYC-DC-Chicago-Philly), uma peça de teatro que tem deixado a reaça americana alvoroçada. Trata-se da peça Mom Baby God, escrita e encenada por Madeline Burrows. Para a gente se situar melhor, Madeline é vocalista/baterista da banda punk Tomboy, de Boston. A peça conta também com uma equipe formada por Emma Weinstein (diretora), Allison Lerman-Gluck (diretora de ensaio), Skye Murie (coordenadora de mídia) e Allison Smartt (gerente de produção).
A peça é resultado de dois anos de uma pesquisa imersiva, onde a Madeline frequentou eventos pro-life de direita, como conferências e workshops, e transformou o que viu e ouviu em um teatro solo com personagens reais.
"Eu bebia cerveja em um "happy-hour pro -life" com duas auto-intituladas "feministas para a vida " que me contaram sobre suas vidas sexuais com seus maridos cristãos conservadores "quentes", e entrevistei diretores de Centros de Crise de Gravidez dentro de suas salas de aconselhamento, cheias de kits de desenvolvimento fetal imprecisos e roupas de bebês presas às paredes . Eu tive uma encontro confuso com mulheres que tocam rock cristão sobre sexismo na indústria da música , participei de workshops sobre "pureza sexual em sua escola " e quase bati o meu recorde entrevistando um padre que, desajeitadamente, me explicou sobre a ciência por trás da afirmação ofensiva de Todd Akin, de que as mulheres não podem engravidar de estupro", disse Madeline em um artigo para a The Media.
Foto de Joshua Sugiyama. Da esquerda pra direita - em cima: Allison Smartt e Emma Weinstein
em baixo: Skye Murie, Madeline Burrows e Allison Lerman-Gluck
Na peça, Madeline interpreta Jessica Beth Giffords, uma jovem ativista anti-aborto de 15 anos, além de outros 6 personagens, todos relacionados às experiências que teve durante a pesquisa. Em uma entrevista para revista Red Wedge, ela comenta sobre a forma como decidiu expor essa corrente anti-aborto:
"Meu objetivo sempre foi criar uma performance solo com base no material, mas em relação ao que era mudou muito . Originalmente eu queria fazer uma peça de teatro mais documental , que incluía ambas as perspectivas, pró-aborto e anti-aborto. Assim, na fase inicial eu fiz realmente uma ampla gama de pesquisas e entrevistas, incluindo uma série de entrevistas com mulheres mais velhas, que eram ativistas de direito ao aborto nos anos 80 e 90 , assim como mulheres que tiveram abortos . Suas histórias eram incríveis e foi realmente difícil dizer adeus a elas. Mas eu me senti como se o público de esquerda viesse ao show e visse os seus próprios pontos de vista representados, seria deixá-los de fora do gancho de uma certa maneira. Eu não quero que isso seja uma peça de teatro confortável. Eu queria que o público saísse com o mesmo tipo de urgência que senti depois que mergulhei no movimento anti- aborto, a sensação de que isso está acontecendo agora e precisamos descobrir como vamos responder a isso."
Mom Baby God reforça a urgência da discussão em torno dos direitos reprodutivos e alerta para o fato do movimento anti-aborto nos EUA estar tomando pra si o papel de um movimento de justiça feminista e social. E a reação do movimento pro-life não poderia ter sido diferente. E-mails ofensivos, agressões sexistas e homofóbicas em comentários na internet e até uma crítica da Students for Life (organização pro-life americana), que chegou a gravar ilegalmente a peça e julgou ser demasiadamente vulgar para exibi-la para o público.
É fácil notar que a postura da direita religiosa é igual no mundo inteiro (manipulando e dissimulando) e mesmo preocupante ver a influência que ela tem nos diversos setores da sociedade. Por isso expressões como essa são tão necessárias. Com Mom Baby God, Madeline abre também uma discussão bacana sobre teatro político e a necessidade de torná-lo novamente um espaço para as pessoas se encontrarem, refletirem e proporem mudanças.
Mom Baby God - Trailer Oficial
A próxima apresentação será dia 07 de dezembro em Easthampton, Massachusets, seguida do show de JD Samson & MEN. Só nos resta desejar uma ótima temporada pra elas e que a peça ganhe ainda mais visibilidade, seja pelo chororô da direita religiosa, seja pelos nossos aplausos.
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