quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mulheres artistas do Sul do Rio de Janeiro

Curadoria, gravura, ilustração: elas estão em todos os lugares


Por Lucia São Thiago - Imagem: reprodução
Em 1992, o mineiro de Bom Jardim, Clécio Penedo, já era uma das principais referências na arte, principalmente no Sul do Rio de Janeiro. O artista orientou por um longo tempo diversas artistas mulheres que continuam produzindo, mesmo após seu falecimento. O grupo, que já se chamou Klee – em homenagem ao artista suíço Paul Klee – atualmente se chama Grupo Clécio Penedo, e continua ativo.

Para o arte-educador Ayrton Costa, o legado da iniciativa é a produção das artistas e movimento que elas causam no campo da arte. “Artistas como a Jorgete Gac, que atualmente estuda na Escola de Artes Visuais Parque Lage, a agitadora cultural Nadéia Souza, a professora de história Juanice Vigorito que se dedicada à curadoria, a Dalva Reis, que trabalha com escultura e instalações são algumas das artistas que estão ativas na região desde os anos 1990”, conta. Além delas, a região conta com outras artistas que mantém vivos os centros culturais, seja com pintura, desenhos, ilustrações, livros ou fotografias.

A forma humana longe da representação óbvia 


Traços grossos e imprecisos que marcam a superfície de forma certeira identificam as obras de Thamyrsy de Mattos, artista volta-redondense que trabalha principalmente com desenho e pintura.  De acordo com a artista, o elemento mais presente em suas obras é a representação humana. 

“Busco expor o íntimo de uma maneira intensa, grotesca, fugindo da representação óbvia, do traço alinhado. Costumo produzir quando há inquietação, quando algo não está fazendo bem. E minha maior urgência, sem dúvidas. Não penso em algo exato na hora de produzir, deixo meus impulsos agirem, não me importando se sairá algo bom ou ruim. O que é bom e o que é ruim também?”, pontua. 

Exposição na Laberinto Shop - Foto: Victor Mauro

Thamyrys começou a produzir em 2006, e desde então realizou três exposições. Embrionária/GAIA, a Casa Subterrânea recebeu a Coletânea de Desenhos e a Toca do Arigó também, ainda, a Laberinto Shop (que fica em Volta Redonda) recebeu a exposição Carne Pictórica. 

A inspiração primeira da artista foi a mostra “Erótica”, de Marcia X, que foi exposta no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. Segundo Thamyres, Marcia X usava bonecas de maneira sagrada e profana. 

“A exposição foi proibida poucos dias depois, sorte a minha de ter tido a oportunidade de vê-la. A partir disso, a forma humana começou a ter grande representação nas minhas obras, de uma maneira mais crua, mais íntima”, conta.

Exposição na Laberinto Shop - Foto: Victor Mauro
Apesar de reconhecer a importância das aulas de desenho e da técnica, Thamyrys explica que seu forte não é a disciplina. “Fiz aulas de desenho, mas não permaneci por muito tempo, fiquei menos de um ano, porque não tinha - e continuo não tendo - disciplina para fazer os exercícios no tempo proposto”, confessa. Sobre o traço alinhado, a artista afirma fugir dessa regra, embora aprecie. 

Segundo Thamyrys, atualmente mais artistas estão aparecendo mais em Volta Redonda principalmente mulheres. A artista enxerga que a arte não deveria ficar presa a quatro paredes. “Acho que a arte deve sair um pouco das galerias, sair do convencional, proporcionar uma visão mais ampla. Falo sobre levar uma obra para um evento underground, ou produzir ao vivo mesmo. Temos que mudar certos conceitos, e a arte está incluída neste contexto”, pontua.

Infância revisitada


Uma folha branca, tinta nanquin e muitas lembranças da infância da arte-educadora Lucia São Thiago levam o observador para suas próprias memórias de criança. Árvores, nuvens, pássaros, meninas, meninos e casas aconchegantes são alguns dos elementos mais presentes nos trabalhos da ilustradora de Volta Redonda, que com delicadeza, leveza e muitos pontinhos, conquista o olhar de adultos e crianças.

Por Lucia São Thiago - Imagem: reprodução
A artista transporta quem vê seus desenhos para o universo lúdico, e ela afirma que sua temática surgiu de maneira espontânea. “Acho que por eu ter vivido uma infância muito feliz, subindo em árvores, tomando banho de rio, brincando muito, fazendo acampamentos, sempre com muitos bichos e plantas em casa, isso ficou como um registro que eu tento sempre reviver, seja no contato com a natureza, seja desenhando”, acredita.
Lucia São Thiago ressalta que, como a vida contemporânea não proporciona o contato com a natureza com tanta facilidade, é importante que crianças e adultos possam, de alguma maneira, serem transportados para esse universo. Atualmente, ela desenvolve projetos de arte-educação para crianças, e acredita que, por ser mulher, isso leva mensagens inconscientes aos meninos e meninas que participam das aulas.

Por Lucia São Thiago - Imagem: reprodução
“Quem sabe uma criança que esteja se desenvolvendo num meio onde a mulher não tem voz, possa encontrar em mim uma referência de uma mulher que usa a arte para falar e mostrar sua individualidade? Ser mulher influencia politicamente minha produção artística, mas de maneira inconsciente, porque ainda vivo em uma sociedade em que as mulheres são muito discriminadas”, pondera.
A carreira de Lúcia começou de forma inesperada, iniciada enquanto cursava a licenciatura de Artes Visuais, e segue despertando o que há de tenro em cada um. Conheça mais trabalhos de Lucia São Thiago.

--------------------------------- 
Essa é a segunda postagem de uma série de três, que discute o espaço da mulher na arte a partir da exposição “Elles: Mulheres Artistas na Coleção do Centro Pompidou”. Essa matéria só pode ser reproduzida em outros blogs/sites se respeitar o seguinte crédito: Por Carla Duarte - post original no blog Cabeça Tédio.  

Nenhum comentário: