terça-feira, 22 de outubro de 2013

Mostra “Elles: Mulheres Artistas na coleção do Centro Pompidou” reacende o debate sobre o espaço da mulher na arte

Frida Kahlo, Louise Bourgeois, Nan Goldin e Diane Arbus estão presentes em exposição que já esteve no CCBB do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte


“O quadro” (1938), de Frida Kahlo, foi o primeiro trabalho de um artista mexicano do século 20 a ser vendido para o Museu do Louvre, em Paris 
A exposição “Elles: Mulheres Artistas na Coleção do Centro Pompidou”, do acervo do Centro Georges Pompidou, que fica no Musée d’ArtModerne, local que guarda a maior coleção de arte moderna da Europa já passou pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, e traz a tona a discussão sobre o espaço da mulher na arte. 
A mostra, que tem curadoria de Cécile Debray e Emma Lavigne,  traz obras de arte feitas apenas por mulheres artistas, do início do século XX aos dias de hoje. Cerca de 70 artistas, como, Frida Kahlo, Marina Amabramovic, Sophie Calle, Diane Arbus e Nan Goldin, além das brasileiras Anna Maria Maiolino, Rosângela Rennó, Lygia Clark e Anna Bella Geiger participam da exposição. 
A coleção torna visível diversas artistas que não abordam as mesmas temáticas, tampouco utilizam os mesmos suportes para criar suas obras, mas que se aproximam em função da desigualdade de gênero presente na história da arte.

Por que não há grandes artistas mulheres?


A historiadora de arte Linda Nochlin fez essa pergunta em 1970, quando escreveu o texto de mesmo título que hoje é considerado um dos fundadores do pensamento crítico feminista na arte. Para a mestranda em Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Letícia Cobra Lima, o observador de arte e o artista padrões são homens brancos heterossexuais que transferem seu olhar para o campo da crítica de arte e da curadoria, onde são a maioria.
“Existe uma predominância do olhar masculino, tornando genuinamente complicado o trabalho empreendido pelas mulheres, que não se limita ao pensamento e execução de obras de arte, mas também a crítica do sistema que as excluem”, argumenta. Apesar disso, existem diversas artistas e pesquisadoras que criticam a invisibilidade da mulher no campo da arte e promovem a produção artística feita por mulheres.
De 1970, quando Nochlin iniciou o debate, até a exposição Elles, 39 anos se passaram, e esse tempo permitiu que as mulheres artistas se tornassem numerosas, diversas e que desenvolvessem diferentes trabalhos. Um exemplo de como o tema ainda ressoa na atualidade é a própria exposição, realizada pela primeira vez entre 2009 e 2010 no Musée d’ArtModerne.
Elles foi a primeira mostra de artistas mulheres realizada por um grande museu de arte moderna e contemporânea, e teve mais de 500 obras, de mais de 200 mulheres espalhadas pelo museu inteiro. Criticada por uns, e elogiadas por muitos outros, a exposição pode até não ter respondido a pergunta de Linda Nochlin, mas trouxe à tona diversas grandes artistas mulheres. Conheça mais sobre as artistas da exposição baixando o catálogo.

A máscara de Frida Kahlo

Elas usam máscara de gorila e se apresentam ao público como Gertrude Stein, Anais Nin, Frida Kahlo e Käthe Kollwitz. Usam o nome de mulheres artistas que são referência na arte para homenageá-las, e ocultam os rostos com máscaras em seus “encontros culturais”, termo que utilizam ao invés de performance. Trata-se das Guerrilla Girls (GG), coletivo formado por artistas mulheres em 1985, e que atua até hoje questionando o espaço – ou a falta dele – da mulher na arte.
guerrila girls
Do Women have to Be Naked, 2005, obra das Guerrilla Girls
Gorila e guerrilha se misturam nas Guerrilla Girls, que utilizam a ironia e o humor em seus trabalhos que apontam, por exemplo, que menos de 3% das artistas expostas no Metropolitan Museum of Art, que fica em Nova York, são mulheres, enquanto 83% dos nus representados são femininos. Mesmo criticando as curadorias e não diminuindo o teor político de suas obras, as GG tiveram seus trabalhos expostos em museus, inclusive estão no acervo do Centro Pompideu.
Um dos lemas das artistas é reinventar a palavra “F” – de feminismo. Seja no cinema ou na arte plástica, o coletivo feminista mostra em seus trabalhos diversos casos de discriminação de gênero. Um dos marcos da trajetória das Guerrila Girls foi a participação na 51ª Bienal de Veneza, em 2005. Em 2010 o grupo passou pelo Brasil quando se apresentou no evento Presente Futuro vol. II. Confira uma das apresentações das Guerrila Girls no youtube.  
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Essa é a primeira postagem de uma série de três, que discute o espaço da mulher na arte a partir da exposição “Elles: Mulheres Artistas na Coleção do Centro Pompidou”. Essa matéria só pode ser reproduzida em outros blogs/sites se respeitar o seguinte crédito: Por Carla Duarte - post original no blog Cabeça Tédio. 

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