quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Série fotográfica mostra homens e cantadas que eles disseram à fotógrafa

Arvida Byström fotografou 9 homens que fizeram comentários sobre seu corpo 


Todas as fotografias de Arvida Byström

"Eu quero ser o garfo para fincar essa batata"

A fotógrafa sueca Arvida Byström registrou alguns dos homens - no total 9 - que ela não conhecia e que fizeram comentários sobre seu corpo, que a cantaram e que a trataram como um objeto. A imagem acima ilustra a fotógrafa sendo tratada como uma coisa, uma não-pessoa, ao ser comparada a uma 'batata' - um legume que está disponível e pode ser comprado. Quem também é tratada como se estivesse sempre disponível e pode ser comprada as mulheres?  Se é isso o que esse homem aprendeu na cultura do estupro, é isso que Arvida e um cem número de mulheres tentam destruir todos os dias. 

"Hoje você está verde, então como será a sua aparência quanto você estiver madura?"

"Linda e como você é fofinha"

"Você é muito bonita"

As fotos foram tiradas em 2010 para a revista I Heart Magazine. Byström conta que estava cansada da abordagem de desconhecidos na rua. E o que a fotógrafa fez para lidar com isso e para confrontar os assediadores? Ela perguntou aos homens que estavam muito preocupados em falar para ela como ela era linda e penetrável quais eram as frases que eles mais gostavam de dizer para as mulheres que eles não conheciam, e as respostas vieram coladas nas fotografias. É quase uma etnografia da cultura do estupro, né. 

"Para você eu deveria dizer as melhores" (cantadas)


"Eu peço o número de telefone e um beijo"
"Bonita"

A normatização das cantadas/assédio sexual de cunho verbal como um comportamento naturalizado foi o que a sueca discutiu em seu trabalho. Quando fez essa série, Arvida considerava o projeto uma forma de confrontar esses assediadores. Mas segundo a fotógrafa, atualmente reagiria de forma mais agressiva. Segundo a pesquisa do Think Olga, feita com 7762 mulheres, 99,6% das entrevistadas disseram que já haviam recebido cantadas e 83% delas não gostavam disso, mas apenas 27% conseguiam reagir

Não é preciso recorrer as estatísticas para enxergarmos que as fotografias de Byström são uma maneira de confrontar os assediadores, além de gerar discussão sobre o assunto. Outro exemplo recente de reação a cantadas é a prisão de Ane Melo. Ela estava parada na rua, perto de uma manifestação, olhando o celular. Instantes depois ela é presa - por muitos policiais - por desacato a autoridade. O que ela fez? Um gambé a chamou de gostosa, ela respondeu.. e foi presa. É por essas e por outras que eu acredito muito em A.C.A.B. (All Cabs Are Bastards/Todos os Policiais São Bastardos). Para quem só acredita vendo, aqui tem um vídeo.

"Eu gostaria de saber o que te faz feliz"

"Você é muito bonita, muito lindo e seu sorriso é lindo"

Algum bem intencionado poderia dizer: "Mas Carla, nessas duas fotos acima os caras não estão assediando ela. Eles não estão a tratando como objeto, estão só elogiando ela". Mas, a questão é justamente eles poderem se sentir a vontade o suficiente para fazer comentários para mulheres que desconhecem. Eles sabem que nada vai acontecer com eles, e ignoram se a mulher quer ouvir ou se ela se importa com o que ele tem para falar.

Esses comentários, por mais revestidos de algum tipo de simpatia, são apenas mais um exercício do direito masculino. Não deve passar pela cabeça deles se essas mulheres querem ou não ouvir isso. Se elas se importam ou não com o que eles pensam sobre a aparência delas. Se elas desejam ou não a morte deles. Se essas palavras fazem com que elas se sintam mais ou menos seguras nos espaços públicos.

Indico a leitura do texto “Sorria, Princesa”: palavras que nenhuma mulher que ouvir, escrito por Soraya Chemaly e traduzido por Thayz Athayde com colaboração de Iara Paiva para o Blogueiras Feministas, para quem quer ter outras perspectivas sobre os mecanismos que envolvem o assédio verbal de cunho sexual. 

Falamos recentemente aqui no blog sobre outro projeto que mistura arte e ativismo contra o assédio sexual, é a série "Stop Telling Women to Smile" (livre tradução "Pare de dizer para as mulheres sorrirem"), de Tatyana Fazlalizadeh. Se você quiser dizer que "Assédio Sexual Não é Elogio" (porque não é), imprima o cartaz que fizemos e cole por aí.


Outros trabalhos de Arvida Byström


Ela é a autora do belíssimo ensaio publicado na revista Vice em que as modelos são fotografadas menstruadas e mostrando o sangue. Arte digital, moda, feminismo e gênero são alguns dos temas que Byström trata. Veja mais trabalhos da artista aqui

"Você é muito corajosa e ousada"

No meio de tantos desconhecidos falando sobre seu corpo, a fotógrafa encontrou essas duas mulheres, que demonstraram apoio ao projeto. Que consigamos resistir e permanecer corajosas e ousadas nesse mundo violento.

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