sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Tatyana Fazlalizadeh cria o projeto de arte de rua "Stop Telling Women to Smile"

Ela vive no Brooklyn (NY) e é a artista por trás do projeto que critica assédio sexual, cantadas de rua e sexismo



"Mulheres não devem o tempo delas ou conversa a você"

Andar na rua pode não ser a melhor experiência para algumas mulheres. Muito pelo contrário, pode ser algo que gere violência, medo, degradação moral, sentimento de insegurança, assédio e muita raiva. Essa experiência ser boa ou ruim depende da mulher, da rua em que ela está - se é movimentada, se é isolada, se é próxima a bares, de sua orientação sexual, da sua identidade de gênero, do tipo de roupa que ela escolheu usar, de sua classe social, de sua cor, do tipo de corpo que tem, se está com algum homem, se está sozinha ou acompanhada por outra mulher. Essas "poucas" variáveis indicam as altas ou baixas chances que uma mulher tem de andar em segurança ou de ser assediada, abordada por desconhecidos, estuprada e morta. Pelo menos foi isso que eu aprendi andando nas ruas e vendo minhas amigas e desconhecidas andarem nas ruas. 


"Meu nome não é neném, baixinha, sexy, docinho, querida, bonita, querida" (na realidade
brasileira: morena, gostosa, peitão, bundão, princesa)

O projeto de arte de rua Stop Telling Women to Smile (livre tradução "Pare de dizer para as mulheres sorrirem") é uma afirmação contra a cultura que ensina que é normal que homens invadam o espaço e a vida das mulheres. Tatyana Fazlalizadeh é a artista a responsável pelo projeto que  mistura ativismo social com arte feita em espaços públicos. Ela se opõe a cultura do sexismo e do estupro com seus retratos de mulheres acompanhados de frases que contam a história de assédio que elas já sofreram nas ruas. Tatyana espera que algumas das mulheres que vejam seus cartazes se sintam empoderadas, apesar de tudo. 


Retrato da própria artista - Brooklyn (NY)

Fazlalizadeh vive no Brooklyn (Nova Iorque) e criou uma campanha no Kickstarter para arrecadar fundos para espalhar seus desenhos pelos Estados Unidos. Segundo seu post nesse site, ela quer viajar para criar novos retratos com esse tópico, e respeitando seu processo de trabalho, que consiste em sentar e conversar com uma mulher para saber das experiências de assédio que ela viveu e a partir daí criar um retrato e uma frase inspirada na história dessa mulher. 

O objetivo dela é "conhecer e falar com mulheres que vivem em diferentes regiões, cidades e vizinhanças pelo país sobre as experiências delas com assédio de rua. Vou fotografa-las, desenhar seus retratos e usar esses retratos em posters e colar eles na cidade da mulher". Tatyana já fotografa e retrata as mulheres que participam do projeto. Um exemplo é o poster inspirado na história de Nirali, que diz "Mulheres não estão do lado de fora para o seu entretenimento".


A relevância de Fazlalizadeh

O trabalho de Tatyana inspira outras a fazerem intervenções urbanas, não só contra o assédio de rua. É também uma forma de gerar um debate em torno do assunto e de ser uma referência em arte feminista, em usar as ferramentas que se tem para politizar as ruas e mostrar descontentamento.

Em 1980, a artista e feminista Nikki Craft chegou à biblioteca da Universidade da Califórnia e se deparou com a exposição The Incredible Casa of the Stack O'Wheats Murders, do artista Leslie Krims. Trata-se de dez fotografias, impressas em tons de sépia, que trazia mulheres despidas ou nuas deitada sobre o que parecia ser o próprio sangue. Elas remetem que as mulheres da fotografia foram mortas ou feridas à facada, e os curadores da exposição afirmaram que tratava-se de um material "humorístico" por se tratar de uma paródia a crimes de assinatura. Aqueles, em que o assassino assume a autoria deixando alguma marca específica nos assassinatos.

Ao ver a exposição, Nikki Craft destruiu as fotos rasgando-as e colocando creme de chocolate em cima, arriscando ser expulsa da universidade em que estudava, e claro, assumiu a responsabilidade do ato. Craft afirmou:

"Assumi um compromisso em fazer esta acção com a percepção de que destruir pornografia violenta não resolverá o problema de como os homens pensam e sentem acerca de nós, mas acções directas como estas vão afectar a maneira como nós pensamos e sentimos acerca de nós mesmas; e com a compreensão de que as nossas vidas permaneçam num compromisso de recusar colaborar na nossa própria degradação".

Resgatei a  história de Nikki porque também acredito que mesmo não mudando o assédio que vamos sofrer até morrer, o trabalho de Tatyana pode mudar a maneira como nós pensamos e sentimos acerca de nós mesmas. Veja mais fotos do projeto. Para saber mais sobre Nikki Craft

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