O vôo da cantora a leva para os céus de diversas cidades onde ela canta seu repertório autoral
Ela ainda não passou
fome nem frio, e pensa que seu nome ainda não é conhecido e segue buscando e
desejando a vida que ainda não tem. Seu canto, de Andorinha Só, de andarilha
que carrega a casa e violão pelo mundo, faz pensar naquilo que Thoureau já
disse uma vez, no livro A Desobediência Civil, “deves viver contigo e depender
só de ti, sempre arrumado e pronto para partir”. Talvez essa seja uma forma de
descrever uma andorinha, que segue seu caminho, sozinha.
O vôo pode ser solo,
mas Ive Seixas, cantora e compositora nascida em Resende, nunca está só. As
pessoas que passam pelas ruas em que ela se apresenta estão por perto, além
daquelas que saem de casa somente para ouvi-la tocar alguma canção do álbum
independente “Andorinha Só”, que foi lançado em janeiro e divulgado com
exclusividade pelo blog Amplificador, do jornal O Globo.
O disco contém três músicas da artista, e
cada música apresenta alguma faceta de Ive. O álbum começa com “Andorinha Só”,
canção recheada de influências da Música Popular Brasileira. Na seqüência, “Cervejas
Populares”, chega e mostra o lado samba, que esbarra no choro e traz a poesia e
olhar da artista sobre os fatos cotidianos. Se a música anterior era sobre
reflexão, “O Circo” fecha o álbum com a alegria de infância, com ludicidade e
energia.
De acordo com Ive, além
de álbum, Andorinha Só é também o projeto de levar apenas voz, violão e chapéu –
que arrecada contribuições voluntárias – pelas ruas e locais que dêem espaço
para a artista.
- Nesse projeto vou
sozinha, só toco voz e violão e passo o chapéu, não cobro cachê. No caso,
arrecado o que as pessoas quiserem dar. Acho que isso provoca uma troca e uma
valorização interessante da arte. E eu faço esse trabalho na rua também, então,
vou às cidades para vivenciar aquele momento, vivenciar viver da rua. Andorinha
Só tornou-se isso. E tem também essa coisa do trovador solitário, que traço um
paralelo, e é como se o Andorinha Só fosse o feminino do trovador solitário –
explicou.
Para alguns, a rua é
casa, é local de sobrevivência. Para outros, é espaço de trabalho, mas para
Ive, a rua é palco desde novembro de 2013, quando a cantora participou do
Tomada Urbana – evento promovido pelo coletivo teatral Sala Preta – e viu que
esse era um dos locais para onde ela queria levar sua música.
- Antes de tocar na
rua eu tive banda, e toquei em espaços fechados, com público que ia a esses
locais para assistir o show. E é completamente diferente tocar na rua, já me
senti muitas vezes engolida. Por exemplo, num domingo, que toquei em Copacabana,
eles fecham a orla o dia inteiro e às 19h liberam o trânsito, e quando liberaram
veio tudo. O trânsito, as pessoas, barulheira, vento, e eu tocando de frente para
a rua e me senti engolida. Naquele momento é como se eu nem existisse. Foi uma
experiência bem legal, te coloca em um local de reflexão mesmo – considerou.
Para Ive, estar se sustentando apenas com o
que ganha com sua música reforçou a prática do desapego. E mesmo conseguindo
pagar suas contas, a artista explica que tudo fica mais fácil por não ser
consumista, o que ela considera ser benéfico e a ajuda em diversos aspectos.
Ainda, a andarilha aponta que a estabilidade do trabalho formal não a encanta.
- A estabilidade do emprego formal eu acredito
que é uma enorme ilusão. Qualquer um pode ser mandado embora do emprego a
qualquer momento. Talvez o salário que cai mensalmente, tal dia certo do mês,
traga uma sensação de segurança, de estabilidade. Mas não creio que tal
estabilidade exista realmente, uma mudança pode vir na vida de cada pessoa de
uma hora pra outra – reforçou.
Ainda, a artista considera que, quem se
agarra muito à sensação de permanência pode ficar sem chão quando algo
inesperado acontecer. E ela explica que, trabalhando na rua aprendeu rápido que
tudo pode acontecer e é preciso estar aberta às transformações.
Pelas ruas do estado do Rio de Janeiro e São
Paulo, a andorinha já conheceu outros artistas de rua. Segundo ela, a maioria
dessas pessoas são muito sonhadoras, que acreditam muito no que fazem e nas
pessoas.
- Encontro pessoas que estão ali se doando
mesmo e tem sido muito bonito. Se existe uma palavra boa para descrever essa experiência
é beleza – salientou.
O talento e a voz de Ive permitem que ela voe
sozinha, mas ainda assim ela conta com a ajuda de alguns amigos e amigas para
tocar o Andorinha Só. Um deles é o jornalista Leonardo Cardoso, mais conhecido
como “Panço”, que passa alguns contatos de pessoas, locais, estúdios para ela, e
que custeou 50 camisas do Andorinha Só.
- Tento ajudar de vários modos porque gosto
dela, da música, e vejo nela sonhos que não tenho mais, e espero que ela
consiga realizar, algo como um irmão mais velho mesmo. Espero que ela possa
viver de música, não ter um emprego normal, que ela possa acordar todos os dias
respirando arte, vendo um filme, lendo, compondo, fazendo shows. Tudo por
desejo, não por dinheiro como em um emprego – destacou.
Planos para o futuro? Ive quer tocar, voar,
pousando nas cidades com a ajuda de gente amiga que ela já conhece e fazendo
mais contatos para cantar sua música cada vez mais longe. Ainda não ouviu?
Confira o álbum e demais informações sobre a artista em iveseixas.com.
Florianópolis: Ive faz sua última apresentação hoje aí. De16 a 29 de setembro ela vai tocar pelas ruas de Porto Alegre. Agende-se!
Um comentário:
Parabéns meninas!!
A Ive pela coragem de correr atrás do seu sonho!! E a Carla pela entrevista já formada como jornalista!!
Desejo muito sucesso a vcs!!
Bjs no coração
Gê ( mãe do Caio)
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