De Amarelo Saturno a Bilis Negra: 10 livros foram confeccionados manualmente - Foto: Ana Luísa Flores |
Transitando por
diversos suportes – como desenho, instalação, vídeo, litografia e gravura –
está a artista visual Ana Luísa Flores. A volta redondense concluiu
recentemente “O Gesto Rasurante ou o Resíduo de Incerteza”, sua dissertação de
mestrado em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e o produto deste trabalho é o livro “De Amarelo Saturno a
Bilis Negra”, que foi confeccionado manualmente e tem como tema o discurso
científico e a produção de conhecimento.
Nos dois trabalhos está
presente a rasura, o ato de corrigir, de rasurar, e o tema sempre perpassa os
trabalhos de Ana Luísa, seja em “Sobre Passagens” ou em “Rasura”, de 2012. A
artista se interessou pelo assunto quando teve contato com a gravura. “A
gravura é uma linguagem gráfica e a rasura é um procedimento disso. É um
processo de aperfeiçoamento, mas que por se feita em excesso leva a um
apagamento”, observa.
Outro
tema que também está presente tanto na dissertação quanto no livro é a produção de
sentidos e verdades do discurso científico. Segundo Ana Luísa, essa discussão a
interessou mais do que as do campo artístico, mas ela reconhece a importância dos dois debates. “A discussão sobre o discurso científico estava me impressionando mais
pela potência da lógica e da falta de lógica do que propriamente o discurso da
arte”, conta.
Ana Luísa levou a temática para sua produção após ler Italo Calvino, autor que atribuiu às questões do conhecimento
científico um apelo fantástico. “Calvino fala em cima de certas verdades
filosóficas e científicas, e foi isso que me atraiu muito. É como se fosse uma
quebra desse discurso científico que legitima as verdades que a gente tem sobre
gravitação e luz, por exemplo”. Atualmente, a artista tem questionado em seus
trabalhos discursos que foram aceitos como verdade, e não deixa de apontar as
subjetividades que envolvem a ciência.
A artista acumula
quatro exposições individuais e 16 coletivas, mas afirma que prefere as coletivas.
“Gosto mais de exposições coletivas. Ver o conjunto dos trabalhos e
compartilhar com outras pessoas é muito bom. E as exposições individuais exigem
um pouco que os trabalhos sejam coerentes entre si, mas as vezes eles não são”,
acrescenta.
'Anéis de Malpighi', de 2012 |
Independente do mercado da arte
De um lado, muitos
artistas não conseguem sobreviver apenas com suas produções, do outro, há a
expansão dos editais que se tornam uma opção de captação de recursos e no meio
do caminho, milhões de reais são movimentados no mercado da arte. Ana Luísa Flores é reticente em função de várias questões mercadológicas da área, e questiona se a discussão é o valor intrínseco do trabalho ou o valor mercadológico da
obra.
A artista lembra que estimular
a produção independente é uma alternativa dentro desse cenário, e ressalta que
em diversos locais existem artistas produzindo sem uma estrutura de mercado e cita Paulo Bruscky, uma das principais referências
brasileiras no Movimento Internacional de Arte Postal, como exemplo de artista
independente que produziu por muitos anos sem apoio do mercado, e que só foi
reconhecido nacionalmente após obter visibilidade institucional.
“Ele trabalhou a vida
inteira como funcionário público no Banco do Brasil, sempre com ateliê e
produzindo muitas coisas. Ele trabalhou com xerox art, mail art, coisas que não
eram trabalhadas no Brasil, e ele não deixou de
produzir a vida toda porque não tinha apoio”, frisa.
Alguns zines distribuídos pela Cyclops Edições, da qual Ana Luísa faz parte - Foto: Ana Luísa Flores |
Artemísia
Gentileschi
Uma das obras mais
importantes da pintora é “Judith Slaying Holofernes”, na qual retrata Judith - a
que libertou o povo da Judéia - cortando a garganta de Holofernes. Segundo Ana
Luísa, não era recorrente no período barroco uma mulher representar outras
mulheres assumindo o domínio da situação. Embora a discussão de gênero
e feminismo não seja tratada de forma explícita no trabalho da artista, ela
acredita que as referências culturais e estigmas sociais do local em que se
vive estão presente em suas obras.
Atualmente, Ana Luísa tem executado seus trabalhos tendo como suporte os zines e é uma das envolvidas na Cyclops Edições. Alguns zines recentes de Ana Luísa, são: Anéis de Malpighi, Zinenxofre e De Amarelo-Saturno a Bílis Negra que podem ser encontrados na Cyclops e em feiras de zines. Assita a cobertura da 2ª Feira de Zines da Labe, que conta com diversos zines do Sul Fluminense.
Esta matéria foi produzida para um trabalho da faculdade, bem como o vídeo abaixo em que Ana Luísa conta um pouco mais sobre “De Amarelo Saturno a Bilis Negra”.
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Essa é a terceira e última postagem de uma série de três que discute o espaço da mulher na arte a partir da exposição “Elles: Mulheres Artistas na Coleção do Centro Pompidou”. Essa matéria só pode ser reproduzida em outros blogs/sites se respeitar o seguinte crédito: Por Carla Duarte - post original no blog Cabeça Tédio. Leia a primeira e a segunda matéria.
Essa é a terceira e última postagem de uma série de três que discute o espaço da mulher na arte a partir da exposição “Elles: Mulheres Artistas na Coleção do Centro Pompidou”. Essa matéria só pode ser reproduzida em outros blogs/sites se respeitar o seguinte crédito: Por Carla Duarte - post original no blog Cabeça Tédio. Leia a primeira e a segunda matéria.
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