V é de Vulva
lembranças da segunda edição do Festival Vulva La Vida
lembranças da segunda edição do Festival Vulva La Vida
Carla
Duarte
And shake you and your fossils out? Oh Oh”
(this is a review of Vulva la Vida festival 2012. my memories about it and in english check out here/ siga o vulva la vida no tumblr)
Se hoje fosse dia 24 de janeiro
eu estaria tomando banho para sair da Pituba e ir pro Vale do Caneca para
começar a ajudar a organizar as salas da Faculdade de Educação (Faced) da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), que logo menos receberia garotxs,
mulheres, feministas, sapxs, bruxas, bicicleteirxs, queers, cats, punks e veganxs
que participaram do Festival Vulva La Vida (FVLV) 2012.
Pois é, faz um
mês que o festival aconteceu, e para algumas ainda reverbera no cotidiano. Um
misto de preguiça, cólicas e correrias me impediram de escrever esta
resenha/relato antes. Mas cá estou eu, e adianto que não consegui participar de
todas as oficinas, por isso os comentários de algumas oficinas serão mais
breves do que de outras. E é claro que esta escritura não tem o objetivo de ser
um tratado, uma resenha jornalística “imparcial” ou uma versão integral dos
acontecimentos. É a minha lembrança, a minha visão, que estou dividindo com
vocês. E sabe qual é do lado positivo de ser ter um blog? É poder escrever o
quanto quiser – escrevi pouco – sem ter um mestre sabido lendo tudo e cortando
o que você escreve (ironia), vulgo editor.
Dito isso, voltemos ao dia 24 de
janeiro, a terça-feira que iniciou o FVLV. A primeira oficina do dia foi a de Introdução aos Estudos Feministas,
facilitada por Íris Nery e Carla Oliveira. A oficina/aula que era aberta para
todxs - reuniu na sala de aula mais de 60 pessoas. Como dizem em Salvador essa
era uma oficina “aperta a mente” (pressão, pressão!) que tratou das ondas do
Feminismo, de teóricas de épocas diferentes e de movimentos liderados por
mulheres de diferentes áreas de militância.
Foto: Carla Duarte |
Na sequência, Carla Cristina dos Santos facilitou a oficina Mulheres negras: (re)ssignificando identidades: rap e poesia para falar sobre si mesma através da arte, que eu não participei, mas a Íris participou e conta como foi.
"Carla trouxe pra oficina uma série de referências de mulheres negras tanto da poesia como da música, como uma forma de conferir visibilidade à essa produção (politicamente invisibilizada) que desafia os cânones racistas que historicamente conferem à mulher negra o lugar do objeto (e nunca sujeito).
De noite rolou o acolhimento,
momento em que todxs tiveram para construir o acordo de convivência, que foi
escrito e afixado na parede, visível e claro para xs participantes do festival.
Consenso e consentimento, usar a linguagem de acordo com o gênero da pessoa (e
não presumir gênero alheio) e manutenção do espaço foram os principais tópicos
presentes no acordo.
"Carla trouxe pra oficina uma série de referências de mulheres negras tanto da poesia como da música, como uma forma de conferir visibilidade à essa produção (politicamente invisibilizada) que desafia os cânones racistas que historicamente conferem à mulher negra o lugar do objeto (e nunca sujeito).
Durante a oficina me lembrei muito do texto da Audre Lorde, “Transformando o silêncio em linguagem e ação”,
e foi nessa vibe que as letras e poesias foram lidas/representadas/ proclamadas
pelas participantes da oficina, num movimento de ressignificação e tomada da
palavra, que se tornava então viva e poderosa."
Leitura de poesias na oficina |
Fala daqui, fala de lá |
♥ |
”Can I decide to show myself? Oh Oh
Take me to the source of chaos let me be the butterfly”
Take me to the source of chaos let me be the butterfly”
O dia 25, quarta feira, tinha na
programação várias oficinas interessantes que me marcaram bastante, começando
pela manhã com a conversa Anti Opressão,
facilitada por Caro. Um zine feito à mão foi distribuído, e nele estavam
listadas várias ações e falas que são opressivas. Foi uma oficina que mostrou
que este assunto não é uma discussão para uma tarde ou para um dia. Não é com
cinquenta minutos que alguém começa a atentar para xs outrxs que estão ao
redor, não é mesmo. Acho que essa discussão deve ser absorvida e incorporada as
nossas práticas diárias, porque nós não queremos ser opressorxs e violentxs com
amigxs, namoradxs, familiares e com todas as pessoas que lidamos no dia a dia,
né? Eu imagino que nós não queremos ser opressorxs, se nos dizemos feministas e
interessadas em nos fortalecer e nos apoiar sendo solidárias umxs com xs
outrxs.
"Mas me dizer para não usar uma linguagem racista, sexista e não é TAMBÉM opressivo? Ah meu deus. NÃO!" | Por Kara Passey |
*Ableist segundo a wikipedia é um tipo de discriminação corpórea, seja por habilidade motora e/ou física. Não achei tradução do termo em português. Se alguém souber, compartilha conosco.
Por volta das 13h nós almoçamos as maravilindas quentinhas feita pela Rango Vegan. Não é necessário dizer que qualquer uma que for a Salvador e não comer na Rango é bocó e ta dando mole, né?
Um pouco depois das 14h Sista Kátia e Camila Puni estavam a postos para facilitar a oficina O cabelo é feminista, e simultaneamente, na sala ao lado, Bete, Flávia e Bianca Chizzolini (Tesourinha) facilitavam a oficina Agulhas, linhas e bordados: feministas construindo suas corpas. Não consegui participar da oficina de Bordados, mas a Ellen participou e registrou, ó
Participei da oficina de
cabelo, onde uma aproximação histórica e física com o assunto foi sugerido.
Porque não temos o hábito de cortar o próprio cabelo? Porque não dar a ele
novos significados que saiam do socialmente do espectro de gênero esperado e
desejável? Porque nos é ensinado que o cabelo crespo não é bom? Esses foram
alguns dos assuntos que foram discutidos na oficina. Kátia levou vários tecidos
e fez turbantes nas meninas, e Puni, que é cabeleireira levou seus apetrechos e
propôs a prática: ela cortaria cabelos e ensinaria outras garotxs a cortarem seus
próprios cabelos. A oficina saiu da sala de aula para espaço de convivência,
no corredor, onde várias garotas ficaram por lá cortando e sendo cortadas.
Luciana teve o cabelo cortado! | Foto: Cara Duarte |
DiValéria cortou a franja |
Acabou que a exibição de filmes
não rolou, mesmo com as televisões lá. Acho que foi o trânsito de oficinas,
atrasos e vontades de continuar em algum assunto. E outras oficinas que não
estavam na programação divulgada no blog do VLV, pois foram construídas e sugeridas
dentro do próprio festival aconteceram. Achei demais essas oficinas terem
rolado, não só pela construção coletiva e horizontal, mas também pelos temas
fodas que surgiram, como Tecnologia, WenDo e Saúde Subversiva.
A encontrADA vai rolar em Visconde de Mauá (RJ), mais infos em breve! |
A
quinta feira, dia 26, começou e logo pela manhã rolou a Oficina sobre feminismo negro: conversando sobre negritude>raça>racismo
encontram feminismo (vs) sexismo (lembrando que: “a palavra é afiada e
contamina”), facilitada pela Tatiana Nascimento e Luiza Rocha. Com uma
dinâmica própria a oficina trouxe diversas situações racistas para o debate.
Não só expor a existência desses casos foi também discutido como reagir quando
eles acontecem e como cada experiência é única, seja ela de racismo, seja como
enxergamos nossa própria cor e como construímos nossa identidade.
Na
sequencia Lina Alves facilitou a Conversa
e oficina de anti-arte feminista faça você mesma, que teve seu momento
teórico – com obra de diversas artistas feministas – e seu momento prático –
cortando stencils e pensando uma intervenção urbana, que ficou fera
demaaaaaais. Olha:
"Até você, mãe? Virou feminista! | Even you, mother turn out as a feminist!" | Foto: Martha Gonzalez |
Não participei da oficina de bateria (perderia outras que
estava muito pilhada), mas Íris participou ó:
"Eu nunca havia sentado numa bateria na minha
vida, até então. Vez por outra, já tinha passado esporadicamente pelo violâo,
baixo, guitarra… mas a bateria parece ser o último reduto masculino no rock,
envolta em mitos envolvendo força física, virilidade, né? Isso foi até eu
participar da oficina ministrada por Fernanda Terra, na segunda edição do Vulva
la Vida.
Depois de
uma breve explicação sobre baquetas, postura, rudimento e partitura, lembro das
carinhas hesitantes na hora de pôr em prática os ensinamentos daquela tarde. As
vezes, há situações práticas que dispensam mil discursos… acho que esse momento
foi um deles. Com simplicidade, Fernanda conseguiu tornar aquelas partituras,
impressas nas apostilas distribuidas, em algo inteligível até às mais leigas
(como eu!). Não dava pra conter as palmas e
sorrisos a cada vez que uma de nós levantava da bateria. Guardo com carinho as
lembranças daquela minha primeira vez (de muitas, espero) e a minha cópia da
apostila!"
A
quinta foi fechada com mais uma oficina da Tatiana Nascimento, dessa vez foi a oficina feminista de produção de textos,
onde Tate teve o apóio da Patrícia Valério, Bianca Chizzolini e Luiza Rocha. Cangas coloridas
espalhadas pelo chão da sala e a sorte de um ar condicionado funcionando
refrescava o ambiente.
A minha experiência foi a de uma oficina muito subjetiva
e particular, e isso amplificava toda a dinâmica. Acho que cada uma quando puder deve
experienciar. Estórias, relatos e diárias foram contadas e recontadas pelxs
participantes, que após a leitura coletiva ora davam boas risadas ora ficavam
mais caladas. Essa tela feia de Word que imita uma folha nunca vai ter a beleza
das cadernetas que nós ganhamos.
"Não se esqueçam de ler o texto e trazer sua cartinha : )" O texto é Falando em línguas: uma carta às mulheres escritoras do terceiro mundo, da Gloria Anzaldua, para quem ficou curiosa |
Dia 27 chegou e com isso uma
sexta-feira, em que eu aguardava pela primeira oficina do dia: Oficina sobre construções e a vivência de
seus efeitos. Uma proposta bacana e que exigia (pelo menos de mim) coragem
e vontade de dividir experiências pessoais. Para uns isso é mais indolor e
fácil do que para outras e às vezes no meio do caminho a gente decide não mais
participar, e isso não é ruim. Lembra da oficina anti opressão?
As facilitadoras da maior lista
de espera de oficina, A verdade crua do
corpo nu, acabaram desistindo de realizá-la. Para a última oficina do dia,
a de Consenso sexual entre lésbicas não
participei.
Esse ano rolou o Correio Elegante, que não rolou ano passado. Ora, não estamos mortas nem nada, demonstrar e receber carinho entre azamigue foi o que rolou. Sem contar que,
Girl Hate? Not here. |
4PROPRI8+QUEENG projeto de experimentação sonora/visual na qual são misturados os ruídos com imagens e desenhos que exploram a temática feminista. Por: Vanessa Michelis e Lina Alves | Foto: Priscila Lima |
Roberta Nascimenta na performance Estética da ViaCrucis | Foto: Priscila Lima |
Lisavietra Dias na performance Calçolas |
A próxima atividade do dia era a
da Mabel Dias, na Roda de diálogo Sem
pátria, sem marido, sem patrão: a luta das feministas autônomas e das
anarquistas ontem e hoje. A oficina, porém, foi adiada pelos debates sobre
como reagir ao caso de violência da noite anterior, e infelizmente a oficina
não aconteceu. Já a Oficina de montagem
de palco, facilitada pela Vanessa
Michelis de som rolou e foram as garotas que participaram que cuidaram da
correria de organizar o som das bandas, no show que rolaria mais tarde.
Oficina de Montagem | Foto: Sista Kátia |
Jadsa Castro | Foto: Priscila Lima
|
Munegrale | Foto: Priscila Lima
|
Sapamá (Porto Alegre) Foto: Priscila Lima |
Bertha Lutz (Belo Horizonte) | Foto: Priscila Lima
|
Estamira (DF) \M/
|
Macumba Love Foto: Priscila Lima
|
O temido último dia de festival chegou, e com ele uma porção de comidas gostosas: da feijoada da Rango Vegan aos Cupcakes Tomboy – feitos na oficina de Martha Gonzales - um monte de conversa e trocas. O adeus foi postergado e levou todxs a praia do Porto da Barra de noite. Algumas ficaram, outras foram.
Martha fazendo os cupcakes o___o | Foto: Sista Kátia |
Siiim, tava muito bom! | Foto: Sista Kátia |
E a Kátia aprova também ;) |
Foto do último dia pós feijoada e despedidas! Veja mais fotos aqui |
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