sexta-feira, 27 de novembro de 2009

resenha: Cólera em Simões Filho (BA)

O Cólera fez shows comemorando os 30 anos de banda, não tivemos a oportunidade de ver, mas Rodrigo (Gagliano, toca bateria em Charlie Chaplin, Capitalixo, Gabolice e outras bandas de Salvador) teve e com um pouco de atraso aqui está a resenha do show. Valeu Rodrigo!

Sobre o show de 30 anos do Cólera em Simões Filho

Por Rodrigo Gagliano

O Cólera nasceu no final da década de 70, mais precisamente em 79. Participou ativamente de todas as fases do punk no Brasil, do início do início aos dias de hoje, excursionando várias vezes por cidades da Europa, onde reza a lenda, chegavam a tocar todos os dias da semana e a repetir algumas vezes todo o repertório, tamanha era/é a simpatia do povo de lá pela banda. Estiveram presentes no Festival “Começo do fim do mundo” e “SUB”, além de sua discografia.

Nesse ano de 2009, a banda vem passando por algumas cidades com o show de comemoração de 30 anos. E no mês de outubro, deram o ar da graça pelo Nordeste. Mais precisamente algumas cidades de Interior, Vitória da Conquista, Valença e Simões Filho, esta última que é bem próxima de Salvador, permitindo se fazer um prestígio através de um relativamente tranqüilo deslocamento (não fosse o fato de muitas pessoas não conhecerem).
Bom, eu fui um destes e chegando por lá, encontrei uma estrutura atípica em se tratando de shows de punk rock. O evento contou com patrocínios para dar conta das exigências da banda. Houve quem criticasse tanto a posição da banda, quanto da produção. Bom, habitamos um país de situação econômica bem complicada, o que resulta em dificuldades para produções de shows mais caprichadas, sem falar sobre a falta de interesse das pessoas em geral de apoiar o sacrifício ou esforço alheio, mesmo que esse apoio seja simplesmente sair de casa e pagar o ingresso para entrar num show. Enfim, na minha visão, essa situação justifica a necessidade do Cólera fazer exigências (os armengues que eles devem ter encarado durante todo esse tempo não devem ser brincadeira), e da produção de buscar apoio/patrocínio. Os ingressos foram colocados a 15 reais, porém, pra quem estava mais ligado houve promoção por 10 reais antecipado, até por aqui mesmo, em Salvador.

Voltando a estrutura, um palco bem alto, um som à altura, apesar das bandas locais, o que normalmente acontece, terem sido amplificadas de um jeito um tanto descuidado, por conta da própria banda e/ou do operador de som, dando aquela conhecida impressão de tosqueira negativa. Por falar em bandas locais, não pouparam na quantidade: Última Quimera, Orelha Seca, Pés de Frieira, Cidadão Dissidente, Último Grito, Pastel de Miolos e Cama de Jornal.

Sobre tantas falarei apenas da Soteropolitana Pastel de Miolos, que já é meio coroa com mais de 15 anos de existência e estão voltando mais a ativa por agora, gravando e lançando, tocando bastante. Fizeram um show do morno pro quente, com destaque ao meu ver pras antigas/crássicas como pastel de miolos, skate, regras do lar... achei legal as músicas novas, mas sinto falta das pegadas dessas citadas. E da Cama de Jornal de Vitória da Conquista, que já vi algumas apresentações, além de ouvir umas gravações. Uma banda que realmente não preza nem pela qualidade sonora, nem por estruturas musicais mais desenvolvidas, porém sem se tratar de uma banda tosca negativamente falando e sem parecer uma banda iniciante. O que se pode constatar é uma boa simpatia e energia no palco, não falo sobre energia de movimentos, de pulo ou corridas, mas do clima que eles criam quando começam a tocar. Destaco também o sotaque bem puxado, peculiar, engraçado e nordestino do vocal.

Um show com 9 bandas, um tanto cansativo, algumas brigas, alguns hippies do grupo que estava presente na parte de artesanato, bem inconvenientes, um tiro pra cima de algum segurança mais saidinho quando houve a tentativa de mobilizar um deles, mas nada que fugisse tanto assim do controle. Na minha opinião, acredito que na de muitos do público presente, o show poderia ter contado com essas duas descritas acima e com a Último Grito, que além de ter integrante(s) envolvido(s) na organização, estaria como representante da cidade. Mas enfim, eis que chega a vez dos dinossauros subirem ao palco.



O clima de expectativa no ar era grande, visuais punks, metaleiros, hippies, skinheads(?) e transeuntes normais, enfim. Não consigo lembrar com qual musica eles abriram, mas lembro muito bem de vários classicões tocados um atrás do outro... muuuuuita animação em cima e embaixo do palco. Como já escrevi em alguma(s) outra(s) resenha(s), me senti como se estivesse no início/meio da década, não que faça muito tempo, a questão não é essa, mas muitas coisas mudaram como se já se passasse muito mais tempo.
Demonstraram bastante consideração a nós paga-paus da banda, ao rechearem o repertório com bastante músicas antigas, além de algumas poucas, mas muito boas do cd novo (que pelo que ouvi não conta em sua totalidade com tantas tão legais assim, digamos). Fiquei lá extasiado, pulando, cantando, levantando braço, etc, mas ao mesmo tempo pensando: “caralho! os caras tocaram no começo do fim do mundo, gravaram pro SUB, tocaram na Europa na época auge do punk”, sei lá, essas coisas todas que tem a ver com status, mas muito mais com resistência, força e convicção! Os caras se apresentaram com o vigor de sempre, apresentação bombástica, espírito jovem, não parecia se tratar de uma banda de coroinhas em hora nenhuma, exceto pela experiência e profissionalismo, o que dá um toque todo especial. Coros em uníssono, um clima de tranqüilidade, não-violência/sim-agressividade. Lá pelas altas horas da madrugada, as energias começavam a se esgotar de vez, eu quase já não conseguia mais pular, mas a vontade interior permanecia a mesma e pensávamos que íamos passar ainda um bom tempo ouvindo Cólera tocar e mais e mais petardos, quando fomos avisados que o baixista teria que retornar a SP por causa de trabalho e não poderia ficar mais. Depois da despedida, Rédson avisou que ainda iam tocar algumas músicas. Depois de 30 anos tocando sem parar, quem disse que ficaram metidos a besta? Ainda mandaram alguns sons só na guitarra e bateria. Deu pra encerrar com um pouco menos de gosto de quero mais, mas ainda faltaram alguns crássicos como Violar Suas Leis, João (será que tocaram? deu um branco agora), enfim faltaram vááárias na verdade né? Mas digamos que as “principais” eles tocaram, e o show foi perfeitão e claro que ficou marcado pra história na memória de todos presentes, alegria, nostalgia, revolta e sentimento de expectativa superado! Forte e grande!! Vida longa!!!

Foto: David Campbell

Um comentário:

íris disse...

isso sim é que foi um show punk, muita treta e tiro pro alto! rs
e perna pra quê te quero!
mas falando sério, os coroas representaram demaiiis, paguei pau.