segunda-feira, 3 de agosto de 2009

entrevista: Charlie Chaplin

Charlie Chaplin é uma banda querida de Salvador, com Rodrigo Gagliano na bateria, Dill na guitarra, Vicente Gonçalves na voz e Rogério Gagliano no baixo. Eles estão na primeira postagem com o permanente nome do blog, cabeça tédio. Mas claro que se quiser chamar de true lies, blog da carla e do fernando, histérica, não faz mal, é isso também.

A primeira vez que ouvi chamou muita atenção o sotaque, que é forte, acho isso legal, da a impressão que conseguimos ver um pouquinho as pessoas pro trás dos instrumentos, dos gritos, das batidas, das estátuas. Sem contar que o sotaque dessa terra é um dos sotaques mais fodas que tem, muito melhor do que o malandrêis do carioca ou os erres dos de SP. Eles lembram as bandas do summerrevolution mas com pitadas fortes próprias. Eles "tortoisam" as músicas e trazem alguma malemolência a coisa. É com muito pesar que essa entrevista bem pro blog e não pro zine de papel.

Essa entrevista é dedicada a todxs que ainda acreditam, que não se canceirizaram.

Perguntas por Carla Duarte e Fernando Nandolfo. Respostas por Rodrigo, Rogério, Vivente e Dill. Fotos: Mariele Góes, e David Campbell.

1) Eu vejo o nordeste apontando desde muito tempo
como a região que mais surge bandas independentes boas. Parece mesmo que o cenário independente é bem forte aí, com festivais e tudo mais. E o punk também, sempre com bandas fodas e pessoas envolvidas com a coisa. E me parece que vocês estão no meio dessas das duas. Rock independente e o punk. Sei lá, eu considero como coisas diferentes. E vocês se sentem mais confortáveis em qual dos lados? Se é que vocês consideram como dois lados diferentes.


Rodrigo: Talvez, a nível de Nordeste sim, quanto a Salvador-Bahia, acho bem pouco desenvolvido. Faltam bandas boas, bem estruturadas, “sérias”, sei lá. Também acho fraca a quantidade de eventos, festivais e shows. Não sei como são em outros lugares, mas aqui vejo muito as pessoas se interessarem em produzir shows para aproveitar momentos, onde alguma tendência explodiu há pouco tempo, como atualmente, não sei dizer ao certo porque, não existe muito público, o mesmo acontece com a quantidade de pessoas interessadas em produzir e lucrar, ou só produzir mesmo. Há um tempo atrás isso era diferente. Apesar de eu não ter muito tempo em cenas e tal, via as pessoas buscarem esse tipo de entretenimento, os primeiros festivais da Estopim foram, dos que vi, dos que mais deram certo. Ia punk de visú até galera que se encontrava em shop dia de quarta-feira, e era foda demais! Dava certo. Enchia, não rolava prejuízo, a gente se divertia. Hoje em dia ta tudo bem mais difícil e menos viável. Deve ter algo a ver com Internet e mp3. Sobre punk, acho que são bem poucas pessoas envolvidas. Os punks esgoto ficam entocados e só querem saber de ameaçar e brigar, aí tem alguns poucos grupos de pessoas que se conhecem e fazem alguma coisa juntos de vez em quando. Sobre se sentir mais a vontade com o lado do punk ou do rock, isso depende muito das pessoas, dos propósitos, do clima, da simpatia, amizade, energia, etc. Acho que são diferentes sim, inclusive bem difíceis de se juntarem, infelizmente.



Vicente: Eu considero a banda, tanto como uma banda do rock independente, como uma banda de punk, eu me sinto mais confortável em shows com clima punk, com banda e público (às vezes nem gosto de usar esse termo, prefiro achar que quando a gente ta em sintonia, somos um coletivo, um só.) entrosados, todos interagindo da mesma forma, nenhuma sensação de superioridade e inferioridade, isso é muito ótimo, tenho preferência por lugares pequenos, sem palco, todo mundo dançando junto, é uma festa muito boa quando isso acontece, me sinto super bem. Mega eventos? Palcos altos e grandes? Separação banda e público? A gente até tenta, mas, o clima não é dos melhores, alguém acaba fazendo algo pra alegrar, deixar o show alto astral e aí nos tacham de baderneiros, “os punks que querem boicotar o show dos outros” (hehehe).

Dill: Eu acho que o mais importante que estar em um desses lados, é estar satisfeito com o que estamos fazendo. A gente tenta sempre seguir o nosso próprio caminho. Acho que a banda tem muita influencia não só musical do punk, mas respondendo por mim acho que é melhor não tentar se enquadrar em uma só vertente.

2) Eu conheci a banda pela internet e o responsável foi o Eduardo (Dudu). E acho que muita gente conheceu a banda também por culpa dele. Dudu merece um grande beijo nosso. Vocês já deram esse beijo? E como é essa coisa de internet e divulgação e banda. Rola uma resposta monstruosa também nos shows?

Rodrigo: Hehehehe Dudu é tipo um empresário virtual da gente. Nos ajudou e continua ajudando. Somos relaxados demais, estamos começando a melhorar por agora, mas enquanto não houve essa mudança, ele deu uma baita de uma força. E continua.
Internet é muito bom, desde que não fique só nela. Acho que no caso dessa gravação que fizemos, foi assim. Gravamos, enrolamos, Dudu disponibilizou, fizemos alguns shows sem que se ligassem muito nas músicas, mas com o tempo o pessoal começou a cantar as músicas nos shows e agitar bastante, dançando, pulando, etc. Foi fodão.
Foi não, é! E às vezes a resposta é monstruosa sim, tamanha a intensidade.

Rogério: Nós não demos beijo em Dudu e só divulgamos o trama virtual, pra receber um troquinho e comprar uma guitarra que preste pra Dill. A resposta não é monstruosa, mas a energia sim. É como se todo mundo fizesse parte da banda... enfim. Acho que sem essas pessoas, que geralmente são amigos e amigas, o show não teria tanto sentido.

Vicente: Agora eu só consigo lembrar de Doriva (um amigo nosso) na minha frente falando “AH NÃO VÉI, MUITO BOM! ME DÊ UM BEIJO!” (hehehe), mas, Dudu, sinta-se beijado (hehehe)! Acho que Dudu é sim o maior responsável pelo pessoal de outros estados conhecerem nossas bandas e até outras bandas de outros lugares também, acho que isso traz resultados bons e até me faz calafrios (é que adoro ver gente cantando junto, já viu o video do against-me com todo mundo cantando? Muito lindo!).

Dill: Dill- Dudu é um grande amigo de todo mundo da banda e todos nós temos uma relação muito proxima de amizade mesmo com ele. Como ele mesmo diz, é uma "Famiglia" hehehe. Acredito que se as musicas não tivessem "vazado" na net da maneira que foi, muitos shows não teriam a energia e a interação banda/publico que tem hoje. Acho isso foda demais.

3) Na Europa e nos EUA existe o termo, zines, sites e listas de discussão sobre o termo: punk pareting, onde o filho tende a uma criação menos conservadora, a luz de conceitos punks que o pai e/ou mãe queria utilizar. Alguns na banda já tem flihxs, o que quero saber é: dentro de uma perspectiva punk - independente do termo ou de rótulos - dentro de uma criação não-apática, dentro da vivência de vocês, vocês buscam de alguma forma aplicar isso na criação de seus filhxs?



Rodrigo: Eu tenho uma filha chamada Marina e desde antes dela nascer, eu e a mãe dela já nos preocupávamos com essa questão da educação/criação e tal. Principalmente sobre a questão de gênero, de não querermos que ela seja transformada em bonequinha, entre outras coisas, como se alimentar de carne e derivados. De primeira já tive que me conformar com o consumo de leite, já que a alternativa que conheci fica fora do nosso alcance, leites caros na faixa de trinta reais. No começo não deixava que ela comesse carne, talvez se eu e Ana, não vivêssemos na casa de nossos pais, fosse mais viável buscar e fornecer mais alternativas. Mas acabamos cedendo por falta de opção, e ainda por cima, não nos auto-sustentamos e isso atrapalha muito. Mas, ela ainda está com 1 ano, quando crescer mais, teremos como aplicar tais princípios ou algo que o valha, como através de conversas e demonstrações, que não custam tão caro assim.

Rogério: Com certeza tento passar pra ele, o que aprendi dentro do que vivi, fora da educação dada por meus pais. Mas espero que ele siga seu próprio caminho e seja feliz. Hoje em dia com certeza mudou muita coisa. A forma de criar, de conviver com as pessoas, e procuro não ser muito influenciado, apesar de minha pouca experiência.

4) Qual é a do pinguim na estampa da blusa? Eles andam mais devagar e seguem seu próprio ritmo. Tem alguma relação com isso? E eles são bichos muito simpáticos. Aproveitem para comentar também sobre a blusa e a venda dela.

Rogério: Eu não tinha olhado por esse lado, mas até concordo. Nós quatro formamos um pingüim, e andamos e fazemos nossas coisas do nosso jeito. Acho que um pouco diferente de outras bandas. Há uma peculiaridade nisso.

Rodrigo: Certo. O pingüim surgiu, quando colocamos uma frase de uma matéria de revista (não lembro qual), que dizia: “pingüins descobrem e gostam da opção gay”, aí resolvemos dar um toque a mais de promiscuidade e acrescentamos o “e gozam”. O pessoal no show parece gostar bastante dessa parte, daí rola comentários chamando a gente de pingüim e tudo mais. O pingüim pra gente é um bichinho mais simpático e divertido mesmo, hehe. Mas tem a ver com a gente sim, o andar devagar e seguindo o próprio rítimo. Mas depois até nos incomodamos um pouco quando percebemos que tava rolando uma “febre do pingüim”, camisas de lojas, propagandas, filmes e desenhos, mas enfim... nosso amigo Rafiuskis fez a arte da camisa com um pingüim e o nome da banda há um tempo atrás, aí vamos começar a vender por 10, 11, 12, 13, 14 ou 15 reais, quem compra escolhe, livre-contribuição, para conseguirmos dinheiro para fazer o lançamento do cd. Estamos contando também com a ajuda de outro amigo nosso, Tiago (Boris), com a pintura das camisas. Ainda tem Antonio e Dudu que vão ajudar com “os corre”- como dizem, pro lançamento do cd, Fabiano “Nerds Attack!” com a arte, fora o pessoal que já fez uns pedidos de camisas. Muito foda, tá funcionando!

5) Então a gravação do material de vocês está mais proxima. Sabe que vocês deveriam lançar um split com Vivenciar (RJ)? Só assisti show deles, mas acho que as bandas tem alguns pontos em comum: estão na contramão do garage punk e suf music - tendências atuais, as músicas: letras, melodias, riffs e forma de cantar, me levaram a rever algumas coisas adormecidas, ambas bandas despertam a vontade de dançar. (Sempre faço isso, digressão..). Quando o material de vocês deve estar pronto? Além de shows em Salvador vocês pretendem tocar em outros estados (como por exemplo Espírito Santo e Rio de Janeiro)?

Dill: Espero que a gente consiga gravar o mais breve possível, mas é bom ter calma pra não fugir daquilo que a gente quer. Na real ainda estamos aprontando as musicas novas que estão saindo aos poucos e estamos juntando grana pra gravar..
Acho que até o final do ano gravaremos e lançaremos, pelo menos é o que queremos e esperamos que aconteça. Sempre pensamos em fazer shows fora de Salvador, tem uns amigos de outros estados que pedem, mas como seria algo meio que por conta própria fica mais difícil pela questão da falta de grana! Mas estamos estudando isso com calma, pra rolar da melhor forma possível!



Vicente: Eu vi o show do Vivenciar e gostei, só queria ter falado mais com Gaguinho, só dei um “oi” e um “e ae gato, tá sozinho?”, é que sou meio tímido a primeira vista, depois de um tempo sou um boboca lerdão risonho (hehehe).
Sobre os shows em outros lugares, acho que a meta da banda é tocar em todos os lugares possíveis que tem gente que gosta e quer ver a banda tocar, pra poder acabar em paz, sem deixar ninguém com vontade de “queria ter visto o show dos caras véi”, brincadeira (hehehe).

Rodrigo: Heheheehe Rolou um show deles aqui em Salvador, bem recentemente, Aracajú também. Se não estou enganado, foi até um(s) dele(s) que pediu pra que tocássemos no show daqui com eles. A banda é foda, melodias loconas, show locão também, poucas pessoas conseguiram aqui compreender o que eles fizeram em cima do “palco”. Bom, a gente ta correndo atrás pra conseguir dinheiros pra gravar e lançar o cd, parar de ficar empurrando com a barriga e levar um pouco mais a sério a onda. E com o apoio que ta rolando, a motivação ta grande. Aí rola uma cadeia: camisa (que eu nem tava muito afim que rolasse, mas tudo bem, hehe), aí com a grana da camisa, cd, com a grana da camisa e do cd, possíveis shows em outros estados. E claro que queremos que role ES e RJ também. A vontade de viajar é até mais velha que a de lançar cd, mas dessa vez aumentamos o nível de planejamento. Sobre o cd nossa idéia é gravar mais 5 músicas e juntar com as 7 que já foram gravadas (e disponibilizadas virtualmente), e lançar um cdzim em SMD – uma nova tecnologia que inventaram aê e até que é bem interessante.

6) Então, eu sou péssimo pra entender algumas músicas. E voces escrevem de uma forma peculiar, como se um bêbado as escrevessem. São jogos de palavras que eu entendo e sinto muito mais cantadas do que lidas. Por mim eu perguntava pra vocês explicarem todas. Quem que escreve? E porque assim e não de outro jeito?

Rodrigo: Na época em que estávamos fazendo as músicas dessa primeira gravação, até fizemos uma ou duas letras juntos e tem uma que é de Vladmir, irmão de Vicente, que saiu da banda um tempo depois da gravação, que até cantava nessa música, “Garganta Aberta”. Mas costuma ser eu e Vicente mesmo. Algumas são mais normais, outras tem meio que um estado de embriaguez mesmo, uma coisa de cabeça e sentimento, uma embriaguez natural. Vontade de entortar um pouco. Pra mim funciona assim, umas tem um lado mais racional e outras mais insanas mesmo. Pode ser de qualquer jeito que a gente ache legal.

Rogério: Vicente praticamente escreveu todas as letras. Geralmente todos ajudam a compor a música e o Gandhi cretino cria melodias e letras “tortoises”, como costumamos dizer. Tortas e seguindo um próprio ritmo. Sem necessariamente seguir uma linha.

Vicente: Então, no começo da banda, escrevíamos, eu, Rodrigo e Vladimir (quando ele tocava guitarra na banda ainda), a gente se juntava e ficava tentando fazer algo, tem frases que surgem, tem coisas que a gente vê em algum lugar, como a frase “a vida é sua, faça o que quiser.”, que foi tirado de uma letra do Shame (banda de são Paulo) e até é cantado parecido. A gente sempre teve bandas com letras bem diretas, mas, nessa banda, Rodrigo deu a idéia de fazermos letras mais soltas, sem muita coisa direta, letras de livre interpretação, cheias de jogos de palavras e duplos sentidos, embora tenha umas que sejam menos assim, essa é a intenção. Nessa fase da banda, eu escrevo e Rodrigo escreve também, mas, agora tá mais um lance de escrever individualmente, quando escrevo, mando a letra pra Rodrigo, como ele é maluco/insanigo, acaba entortando algumas letras e deixando elas mais legais (hehehe).



7) Eu e Fernando fazemos zines de papel. Nós gastamos tempo, dinheiro, energia, tesoura e cola em registrar o punk em papel, em 2009. Sei que Rodrigo também fez zines e imagino que os outros integrantes da banda também. A entrevista vai, inicialmente, para o blog, mas quero é saber se existe relevância em zines de papel e os zines preferidos de vocês e por que.

Vicente: Amo zines demais, sinto falta de receber cartas com zines, roubei um tanto da casa de Rodrigo, emprestei um bucado, dei uns, já peguei muita coisa boa, adoro principalmente as coisas sujas, sei lá se é a intenção da pessoa, se elas gostariam de ouvir que seus zines são sujos e cheios de colagens, mas, eu adoro muito tudo isso! Quem tiver zines do tipo, manda um email (ograndecretino@hotmail.com (nem sei se posso fazer isso! Heheh.) pra mim falando e diz como faço pra pegar.
Ah... tô esperando a próxima edição do Histérica viu!, e, Nandolfo, volta a mandar zines pra mim vai! Mas, precisa ter cartinha com alguma coisa escrita, porque sou carente e se não tiver eu fico triste (hehe). Uma das melhores coisas da vida é esperar ansioso uma carta, saber que ela chegou, ir buscar, abrir, ler a cartinha e ainda ler o zine (diz se não é, e com o zine vira “uma das melhores coisas da vida dobrada”. hehe).

Rodrigo: Zines preferidos não tenho. Costumo ter contato de forma mais esporádica. Dos que me lembro mais, La Carnissa (Tati e Alice de Brasília) que tratava de pornografia (através também do evento com o mesmo nome, comecei a enxergar pornografia e sexualidade de uma forma bem diferente – acho que a letra do primeiro toque, do olho como forte, tem a ver com reflexões que passei a ter, depois do contato com essas idéias passadas por elas, com certeza, ao menos, influenciou bastante).
Acho que tem bastante relevância sim, mas tem uma questão importante pra mim, qualidade. Nem tanto de visual, produção etc, mas do conteúdo mesmo. Porque rola(va[?]) muito zine com textos e imagens clichês, bestas demais, o que traz um grande desgosto em ler. Outros zines que consigo lembrar agora, só os mais recentes que li mesmo, “True Lies” que eu achava massa e o “Histérica” que gostei de montão também. Acho que cheguei a ler “Anti-Mídia” de Nenê Altro, quando tava na casa de alguma das mizeras do Ternura em Vitória (ES). Mas não me lembro muito bem o que achei. Destacaria os três que citei acima. “La Carnissa” pela representação de passado e o “True Lies” e o “Histérica” pela representação de presente.

8) Essa é pro Vicente. Não sei se você lembra de mim, mas eu lembro de você. Conversávamos uns anos atrás pela internet e você me passou um texto pra eu colocar num zine que eu fazia. O texto sumiu no meu computador e o zine saiu bem mais tarde, de uma outra forma. O texto falava sobre amor livre. Você ainda tem esse texto? O seu sentimento continua o mesmo?

Vicente: Falei com Rodrigo que não lembrava, mas, depois vi que tinham perguntas feitas por você e não só por Carla, daí falei a ele que lembrei de ter mandado esse texto. Sobre ter o texto... eu cheguei a olhar uns cds de backup pra pegar músicas e colocar no computador por esses tempos e lembro de ter visto esse texto, mas, tentei procurar ontem e hoje e não achei. Eu ainda continuo achando que o ciúme estaria fora de um amor verdadeiro, ainda acho ciúme muito ruim, limitador e destruidor, mas, sei lá, eu não sei como as pessoas enxergam o amor livre, tenho achado que eu tenho me tornado conservador (hehehe) e tal, por que as pessoas tem me apresentado o amor livre como um lance de pegação, pessoas que nem se conhecem direito, mal conversaram (ou nem conversaram), só um clima, um lance, e pra mim sei lá, isso é mais uma desvalorização do amor, tornando ele algo cru, eu ficaria com mil pessoas sim, mas, que fossem mil amigxs que amo e existisse algo verdadeiro, não apenas um troféu de pegador,um troféu de mais libertário ou de mais doidão, tudo que digo é um talvez, eu não tenho certeza de nada, mas, pra mim no amor livre ainda existe amor (ou não?).

9) Ano passado o punk fez trinta anos. É um homem feito de trinta anos que ainda tem relevância?

Rodrigo: Ah! Acho que tem sim. Principalmente em se tratando de minha vida pessoal, de meus assuntos comigo mesmo. Espírito punk forever, por pior ou melhor que eu possa estar!

Rogério: Acho importante a pessoa ser verdadeira consigo mesma, e não seguir algo. O conceito de punk é muito abrangente e cada um o vive de uma forma.

Dill: Pra mim sempre terá. Graças ao punk/hardcore eu pude rever muitas coisas importantes na minha vida e posso dizer que me sinto muito melhor agora.

Vicente: O punk ta na veia. Minha primeira segunda casa foi o espaço insurgente, depois das paixões pelas meninas das escolas em que estudei, as minhas paixões na vida foram o insurgente e o punk, onde eu passei bom tempo com meus amigos, onde aprendi coisas, conheci pessoas e me diverti muito, acho que um dos lugares mais aconchegantes que existia pra mim, minha casa punk virou uma garagem. O punk é o que mais me identifiquei até agora, tem amigo que acha que eu larguei o punk de lado e até debocha quando eu falo sobre, posso até ter mudado em muitos pontos, me tornado quase nada esperançoso, mais autodestrutivo, menos radical, trocado uma bermuda por uma calça apertada, uma sandália por um tênis (coisas que pra mim não torna uma pessoa menos punk), mas, continuo sentindo o mesmo prazer ouvindo música punk, assistindo a shows punks, lendo um zine punk, vendo arte punk, provocando um punk machão, provocando pessoas, enchendo o saco por aí, continuo sentindo o mesmo prazer em ser um punk chato que eu sentia antes, mas... As coisas mudam, cada vez menos shows (existem shows ainda, mas, as vezes eu sinto e penso que as bandas de punk atuais só querem imitar bandas que gostam e aí se empacotam com rótulos e todo o kit da banda, isso pra mim é muito chato e quase sempre não me interessa, também não me interessa outra porrada de coisas, mas, não vou entrar muito nisso.), cada vez menos banquinhas, menos zines, menos andadas incertas na rua, menos ameaças de grupos punks, coisas que me dão tremendo prazer e eu sei que eu tenho minha parcela de culpa nisso.

5 comentários:

xEduardox disse...

"alguém acaba fazendo algo pra alegrar, deixar o show alto astral e aí nos tacham de baderneiros, 'os punks que querem boicotar o show dos outros'"

É sempre bom ser lembrado nas entrevistas ahahuahuhuauhahuauhauhahuauhahua

Társis Valentim Pinchemel disse...

Eu sou fã dessa banda, dos membros da banda, dos fãs da banda e fã do -finado?-zine true lies.

portanto, ler isso aqui me deixou muito alegre, feliz e satisfeito.

íris disse...

parabéns carla e nandolfo pela entrevista. ficou linda!
e a introdução antes, idem.
-"Essa entrevista é dedicada a todxs que ainda acreditam, que não se canceirizaram." yeah!

carla vanessa disse...

sim, parabens! ficou linda msm! [2]
muito sentimento punk! :)

gostei tanto que postei lá no blog uma convocatória! hehheh

diego torres disse...

os muleque representam muito! amo!