Por Teenage Micha |
Ilustração: Teenage Micha
Texto: Carla Duarte
Esta é a terceira lista de 'melhores de ano' que publicamos! Mas ela já começa diferente das outras duas pelo título: abandonamos o 'melhores' e adotamos o 'destaques'. Pode parecer ridículo, mas ainda não tinha caído a ficha que é ruim usar 'melhores' do ano, pois implica que há 'piores' e também pode soar
Nessa lista não constam indicações de zines, mas pretendemos fazer um post só pra eles. Outra diferença desta lista para as outras, é que esta é a primeira que escrevo sozinha. E poxa, dá um friozinho grande na barriga.
O objetivo do Destaques de 2015 é compartilhar os clipes, shows e álbuns que mais gostamos neste ano, feitos por mulheres e feministas. A lista sempre é construída a partir de uma perspectiva contracultural, DIY, punk, feminista, não homofóbica e não racista. A proposta não é fazer um post masturbatório, exibindo 'bandas desconhecidas' ou qualquer bosta do tipo.
Queremos ajudar a dar visibilidade a uma parte da música faça você mesma que muitas vezes não é celebrada. Por isso, por mais que eu goste do álbum novo do Slayer ou queira falar sobre o Bitch, Better Have My Money, da Riri, não vou fazer isto porque foge do nosso objetivo. Tanto que alguns álbuns da lista ouvi demais, outros bem pouco, mas resolvi colocar todos esses prol da visibilidade.
Como esta lista foi organizada? Primeiro, as categorias 'clipe', 'música', 'show' e 'álbuns favoritos', sempre em ordem alfabética. E o mais legal: compartilha nos comentários a sua lista de destaques do ano? :D
Downtown Boys, Wave of History
O single 'Wave of History', do álbum Full Comunism, é uma aula de história dançante sobre alguns fatos da política norte-americana, que linka o curso da história com a violência policial. Além de uma música energética, com sax e tudo, cantada pela furiosa Victoria Ruiz, o clipe tem o mérito de deixar infográficos ainda mais legais. Downtown Boys é uma banda bi lingue de Providence (Rhode Island) que teve seu ábum lançado pela Don Giovanni Records. Bandcamp
Hemming, Some of My Friends
As primeiras vezes que assisti este clipe chorei largada. Simples assim. Acredito em "amor a primeira ouvida" e mesmo já sendo fã da Candice Martello (Omar), Hemming me pegou de jeito. Isso porque poucas músicas já chegam chutando a porta do coração e mandando a realzona, sabe? E 'Some of My Friends' fez isso. A espontaneidade e amizade que o clipe transborda chamou as minhas lembranças de 'some of my friends' e de mim mesma. Site.
Sheer Mag, Fan the Flames
Sensacional. Pra dançar lynda até ficar suada (o que não é difícil nesse verãozinho, né?)
Worriers, Chasing
O clipe mais divertido do ano me fez dançar sozinha no quarto incontáveis vezes em 2015. 'Chasing' é a baladinha fofa do Worriers, que dá o papo: 'It was addictive to be wanted like that, for a moment, to be wanted like that'. A letra super crush, mais o figurino setentista, o clima do clipe, a história, a banda.. tudo é foda! Bandcamp.
MC Carol - Não foi Cabral
Ela quebrou tudo ao contestar as narrativas sobre o 'descobrimento' do Brasil. A música despertou um debate importante entre os estudantes e ainda permitiu uma boa requebração. Ouça.
Lilian Lessa - O Mal Pela Raiz
Não gosto de sons psicodélicos ou de bandas dos anos 1970, mas abro uma bela exceção para 'O Mal Pela Raiz', da musicista Lilian Lessa, de Maceió. Isso porque essa sonoridade combinou perfeitamente com o deboche feminista e a letra que reconta a origem da humanidade a partir de uma perspectiva feminista. Sabe aquele papo de maçã, costela? Já aprendemos todas que todos vieram do útero. Na verdade, melhor do que ler minha micro resenha é ouvi-la. Lilian Lessa também toca no Messias Elétrico e Necro. Bandcamp.
Luana Hansen - Negras em Marcha
'Negras em Marcha' é uma música incrível composta pela MC e DJ Luana Hansen para a Marcha das Mulheres Negras. É uma aula de história, empoderamento e justiça social. Assista o clipe.
MC Soffia - Menina Pretinha
Se as feministas atuais incomodam.. o que dizer das que estão chegando e as que vão chegar? MC Soffia é uma criança empoderada e que abraçou uma linda missão: empoderar outras crianças. Nessa letra ela critica a exotificação das meninas negras. Ouça!
RVIVR no Rock Together (São Paulo)
Já passaram mais de seis meses deste show e ainda consigo sentir o calor concentrado do show. Aquela quase vertigem causada pelo calor e que foi vencida de tanto dançar. Para mim, música é medicina e RVIVR é um dos melhores remédios. Os sorrisos que a banda troca enquanto afina os instrumentos, os "uô, uô, uô", o suor, as músicas novas e antigas exorcizando demônios: tudo isso fez com que esse fosse o melhor show que fui este ano. Bandcamp.
RVIVR @ Porão da San Fran (SP) - Foto: Ana Laura Leardini |
Against Me! - 23 Live Sex Acts
Se o álbum White Crosses (2010) quase retirou a importância política de Against Me!, Transgender Dysphoria Blues (2014) a devolveu e fez deste álbum um dos mais relevantes da década. É o álbum após Laura Jane Grace anunciar publicamente que é uma mulher trans e carrega toda esta subjetividade. O mesmo acontece com 23 Live Sex Acts, que conta com músicas do álbum anterior e outros clássicos da banda. É o álbum que mistura passado e presente com a mesma voz maravilhosa da Laura. É uma audição importante pra todas as viciadas em música punk. Ouça.
All Dogs - Kicking Every Day
Kicking Every Day tem 10 músicas e traz um All Dogs mais cadenciado, lento e com riffs que se constroem aos poucos. Ainda é All Dogs, ainda é pop punk, ainda tem um vocal bonitasso. A mudança só deixou a banda mais interessante e boa para os ouvidos. Bandcamp.
Aye Nako - The Blackest Eye
The Blackest Eye é mais um lançamento fera da Don Giovanni Records. O álbum é o mais diferente de Aye Nako, que a distanciou do pop punk e a aproximou de um som mais experimental, com toques lo-fi. Destaque para 'Human Shield', a menor música do disco. Bandcamp.
Chastity Belt - Time to Go Home
Que vozes, que guitarra! A música que dá nome ao álbum me remeteu a três cenários: um dia chuvoso qualquer, uma tarde de chapação e também a um som pra deixar rolando na hora de trepar. A proposta não é ser uma Portishead da vida (nem de longe), mas as dedilhadas longas e preguiçosas com toda aquela distorção e reverb já jogaram essas vibes. Elas são de Seattle e olha, fazia tempo que uma banda não me deixava de cara assim. Já vai pra minha lista de ~bandas a secar em 2016~ porque vai ter harmônica e criar climão assim lá longe. Bandcamp.
Downtown Boys, Full Comunism
Algumas palavras são sedutoras. Para esta punk feminista, 'punk', 'dançante' e 'político' funcionam assim. Ainda mais quando a banda em questão é a competente Downtown Boys, que personifica o "Seu eu não puder dançar, não é a minha revolução". Some a isso a lindíssima língua espanhola e você tem uma bandas bandas punks mais criativas de 2015. Bandcamp.
"Coração do mar é terra que ninguém conhece. Permanece ao largo e contém o próprio mundo como hospedeiro". Poucas bandas e cantoras tem a gana de começar o álbum cantando sem acompanhamento instrumental e claro que Elza Soares tem gana pra isso e muito mais. Embora não seja um álbum da contracultura feminista, ele precisa estar nesta lista porque há muitos anos Elza Soares (junto com outras artistas) é a resistência da mulher negra na música brasileira, porque ela cantou a primeira música que ouvi que critica abertamente a violência contra a mulher num cenário musical que é famoso justamente por romantizá-la (já que 'pancada de amor não dói'). Este é o meu álbum brasileiro preferido de 2015. Se ainda não ouviu, faça isso por você. Ouça.
Framboesas Radioativas - Gastropoda
Bragança Paulista (SP) tem a feliz tradição de ter boas bandas e as Framboesas Radioativas não foge desse clichê. Formada por duas Marinas e uma Sofia, elas dão conta de um punk rock requebrante com passagens lo-fi. Com algumas letras non-sense embaladas por solinhos marotos, ao vivo elas são melhores do que na gravação. É boa a surpresa de ver que todas, dependendo da música, cantam e tem uma boa química. Se tiver oportunidade de pegar um show delas, faça isso. Bandcamp
Framboesas Radioativas. Foto: Karina Lumina |
Girlpool - Before The World Was Big
Este álbum conta com delicadeza, e de forma crua, o processo de entrar nos vinte e poucos anos. Os vocais intercalados de Harmony e Cleo se combinam aos riffs e dão muita sinceridade para o disco, que parece ter nascido no quarto delas. Já resenhamos o álbum, confira o soundcloud.
Hemming - ST
Se você está procurando por um álbum cheio de músicas animadas e que vão te inspirar os passinhos mais incri, acho que você não vai encontrar isso em Hemming. Isso porque o álbum é cheio de lindas músicas, pra ouvir nos dias que estamos cultivando aquela badzinha. Este é o atual projeto da Candice Martello (Omar) e mostra um outro lado dela, mais introspectivo e muito bem tocado, com uma sonoridade que me levou para as vibes tristes do folk. PS: A voz dela é maravilhosa, vale demais ouvir! Destaco: 'Some of My Friends', 'I'll Never be the Man For You' e 'Pins and Needles'. Site
High Dive - New Teeth
A primeira vez que eu ouvi.. chorei largada. Sou um clichê ambulante? O fato é que New Teeth acertou bem em cheio (como todos os álbuns do High Dive), naquele lugar que a gente deixa bem protegido pra não foder de novo. Este é o segundo full lenght da banda, que hoje conta com a Ginger (Good Luck) e Richard, que mudaram o som para melhor. Para ouvir e amar! Bandcamp
Homewreckers, The - I Statements
Que saudade desse vocal vomitadinho da Cristy Road! Homeweckers é uma banda pop punk queer, em que o punk sempre pesa mais um pouco. Tanto que é o som ideal pra pogar sem parar naquela festchinha com as amiges. I Statements dá um belo foda-se pra vida e pros dias ruins. Ouça! Bandcamp
Mercenárias - Demo 1983
As Mercenárias são uma das maiores bandas punks do Brasil e este ano o selo Nada Nada Discos relançou em versão compacto 7" a fita demo lançada em 1983. Com direito a fanzine e um box especial, o áudio foi restaurado pelo Estúdio Rocha e traz toda a 'tortice' que só as Mercenárias tem. Ainda, a banda - que voltou a tocar - foi capa da edição de novembro da Maximum RocknRoll. Bandcamp
Ostra Brains - Gelato Luv
Pode preparar os ouvidos para uma overdose de distorção garageira. Gelato Luv (Transfusão Noise)é um punk rock carregado de uma lofi-zera forte, que embala e chama pros passinhos. O disco é o primeiro registro da banda do Rio de Janeiro que tem a frontwoman Amanda Hawk, que tem um vocal certeiro. Destaco as tracks 'Belabee' e 'Tabaca Flames'. Bandcamp.
Preta Rara - Audácia
A resistência da mulher negra, a afirmação da identidade da mulher negra e não da 'mulata', a celebração da cultura africana: todos estes temas e outros estão apresentes em 'Audácia'. O álbum é pesado e tem músicas fodas, com ritmos e batidas diferentes entre si. Não sou "fluente" em resenhar rap e hip hop, muito pelo contrário. Por isso não vou forçar a barra pra tentar definir nada. Destaco: 'Jericó', 'Filha de Dandara' e 'Falsa Abolição'. Ouça.
Potty Mouth - S/T EP
Este power trio, formado por Abby (guitarra e voz). Victoria (bateria) e Ally (bass) leva as inspirações noventistas a sério, tanto que a influência grunge é forte e perceptível nessa gravação. A música grudentinha do ep é 'Long Haul'. Ah, e pelo que sei sobre elas, o nome da banda não é uma referência ao Bratmobile. Bandcamp.
Sheer Mag - Foto: Amanda Hatfield |
Sheer Mag - II 7"
Para mim, o som setentista só fica bom quando combinado com punk rock. E é isso que o Sheer Mag faz de maneira muito competente. É difícil resistir ao vocal cheio de distorção da Tina Halladay, um dos instrumentos mais importantes da banda. Pode preparar pra dançar vários solos transantes. Destaco o hit 'Fan the Flames' e 'Button Up'. Bandcamp.
Sleater Kinney - No Cities To Love
O oitavo full lenght de Sleater Kinney, lançado pela Sub Pop, marca a volta da banda após um hiato de quase 8 longos anos. Este não é o meu disco preferido, mas claro que é ótimo. Ele segue uma sonoridade na linha do The Woods (2005), embora tenha músicas que não se encaixam muito bem aí. E isso é ótimo, porque é a essência de Sleater Kinney: a dificuldade de categorizar e a diferença entre as músicas. O álbum conta com canções que já são clássicas, como 'A New Wave', 'Gimmie Love', 'No Cities To Love' e 'Bury Our Friends'. Ele também está na categoria de álbuns que 'dancei sozinha no quarto'. Soundcloud.
Try The Pie - Domestication
Sabe aquela calmaria que até dá uma tristeza? Domestication é um álbum cheio de beleza, lo-fi e de riffs que te carregam pelas tuas lembranças e pela sonoridade da Bean Kaloni Tupou (Sourpatch, Crabapple). Altamente recomendável. Bandcamp.
Vexx - Give and Take
Um 7" com quatro músicas que já chega chutando a porta com a música 'Black/White'. Impossível resistir àquela junção linda do punk, os solos barulhentos e a cadência rockandroll que algumas bandas têm, e definitivamente Vexx é uma dessas bandas. O power trio de Olimpia é a banda que pegou, nesta lista, a característica de banda cheia de intensidade e que a cada acorda dá uma porrada. Audição essencial. Bandcamp.
Foto: Ellen Rumel |
Waxahatchee - Ivy Tripp
Ivy Tripp é o álbum mais introspectivo e lento de Waxahatchee. Não é o meu preferido, mas suas qualidades são aparentes. É o disco, musicalmente falando, mais diferente dos outros dois anteriores (American Weekend, 2012 e Cerulean Salt (2013), que se aproxima de uma cadência triste como as letras. Katie Crutchfield, acompanhada por sua banda, fez muitos shows pelos EUA para divulgar o álbum (lançado pela Merge Records) e até abriu alguns shows de Sleater Kinney. A música que destaco é 'Half Moon', que me pegou com seus pianos. Site e Soundcloud.
Worriers - Imaginary Life
Se você me perguntar qual é o meu disco preferido deste ano, a resposta vem muito fácil: Imaginary Life, o primeiro full length de Worriers, lançado pela Don Giovanni Records.
Sinceramente? Não sei como ainda não enjoei, ouvi centenas de vezes. Talvez seja o álbum que mais ouvi este ano, e não por acaso. Estamos falando de um disco redondo, com letras e músicas impecáveis. Não há música "longa demais", que tenha um riff usado em excesso ou um refrão chato. Como o Mama comentou uma vez, a banda "fica cada vez melhor" e o mérito não é ser formada pelo 'creme de la crème' do Pop Punk.
Imaginary Life é um álbum que fala por ele mesmo, que não precisa se ancorar nos integrantes para ser bom. Com letras sobre violência policial ('Yes All Cops'), futuro ('Plans') e gente cínica ('Good Luck'), o disco trata com ironia suficiente o machismo ('Most Space'), as voltas que a vida dá, o 'crescer' e ainda tentar existir sendo punk. É o álbum que mais dancei sozinha, fiz air guitar (e todos 'air' instrumentos) e que me faz lembrar que apesar de duro, esse ano ensinou lições que não vou precisar me foder de novo para aprender.
Não tenho como destacar apenas uma música desse disco, pega ele aí: bandcamp.
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Outros lançamentos que não estão na lista (porque ouvimos muito pouco) e que talvez você goste: Don't Wanna Lose (clipe de Ex Hex), Art Angels (Grimes), Rose Mountain (Screaming Females), Selvática (Karina Buhr).
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Ilutração por: Teenage Micha - Me defino uma ilustradora auto didata de meia tigela,tentando vender minhas artes na praia. Meu amor por ilustração vem de cedo, principalmente meu gosto por anatomia,independente de gênero. Sempre com cautela,buscando ser fiel na representatividade, ainda no caminho da estrada das descobertas.
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