segunda-feira, 8 de junho de 2015

resenha: Sleater-Kiney, 24 de março de 2015, Manchester, Reino Unido

Fotos Marcelo Mama


Coluna do Mama

“And when the body finally starts to let go
Let it all go at once
Not piece by piece.”


Então era isso, eu estava ali no Albert Hall em Manchester. Vendo e ouvindo e sorrindo e dançando Sleater-Kinney! Carrie, Corin e Janet tocavam "Get Up" e era já a metade do set, eu acho. Na hora eu nem sabia disso e só me importava com não perder a cadência da respiração. Eu sou uma pessoa que se abate fácil e constante e,  quando elas começaram a tocar esse som com Corin dando esses conselhos do começo da letra:

“E quando o corpo finalmente começar a se esvair
Deixe ir de uma vez
Não em pedaços”,

foi pra mim um dos momentos de maior catarse nesse show ( e olha, não foram poucos não! :) ), meu coração batia na rítmica de Weiss e eu sentia minha corrente sanguínea fluindo com os riffs daquelas duas guitarras da união Browstein-Tucker, as vozes que entravam em mim se aconchegando no meu peito, e um tal burburinho que estava no meu coração (quase como aquela água que começa a ferver pro café) numa ligação direta com a cabeça, apenas aguardando o momento correto de se deixar levar e explodir num “Oooooooh get up!”. Deixando as pernas, braços e quadris irem juntos, no meio de tanta gente desconhecida mas também incrivelmente alegres/eufóricas/chocadas/insanas/chorosas, que fizeram daqueles minutos essa experiência, de fato, inesquecíveis.

Eu mantenho essa memória muito viva, parece que eu saí de lá com uma tatuagem numa região especifica do cérebro pois é algo que eu sempre acabo precisando. Não foi por acaso que eu resolvi começar a falar do show por esse momento.


Esse é um texto que devo ter escrito há mais de 2 meses já, foi dia 24 de Março e uma das promessas que eu fiz quando saí das perdizes, foi que com certeza iria escrever sobre isso para o blog/zine mais sleaterzístico do pedaço, esse Cabeça Tédio. Mas as palavras não saíam. Então, ter lido a experiência da Puni me ajudou muito. Perceber as emoções dela descritas da maneira que estão, por também ter presenciado essa coisa mágica que é estar presente num show das Sleater-Kinney. Isso me inspirou a finalmente pôr meu relato pra fora. Assim como as sábias palavras de Carla me motivaram bastante.

E é por isso que eu volto a esse momento delas tocando "Get Up". Pois é uma das memórias que eu cultivo pra não deixar a tristeza se fazer muito confortável dentro de mim. E ah, como eu preciso de momentos assim! É reconfortante poder existir (dentre outras bandas, claro) esse S-K que pode promover isso. Me evitar enlouquecer em sofrimentos auto-depreciativos ou problemas despropositadamente desproporcionalizados. E o melhor de tudo, sabe qual é? A importância da banda e a relação que muitas pessoas também tem com ela! Não é só comigo, cada pessoa tem suas sensações e euforias revitalizadas, remexidas e saber disso é como respirar tranquilamente em um momento de paz.

Por favor não estranhe essa resenha de show baseada num instante congelado. Mas a minha experiência foi bem próxima a isso por ter uma relação especifica com a banda. Assim como cada uma tem a sua e eu tenho com outras bandas. Viva as nossas pessoalidades que se encontram por conta disso!

É impossível não passar por uma jornada paralela de pensar nas pessoas queridas, amigas que gostam da banda, com quem já conversei sobre, com quem já ouvi um som... pessoas que eu desejo muito que vejam elas ao vivo, porque todas merecem. As saudades que bateram... o fato de um dos meus melhores amigos ter visto o show delas antes no Canadá e ter naquele relato de whatsapp o ótimo sentimento que elas deixaram nele. Poxa, isso é Sleater-Kinney pra mim também! É um pouco do efeito que tiveram a minha vida. Né Carla? Quando a gente se conheceu foi uma das nossas primeiras conversas e cá estou eu, depois de ter visto o show, escrevendo sobre.


Ok, tem uma maneira mais prática aqui de descrever o show, que foi como eu me senti no final. Era muita ansiedade antes delas subirem ao palco e parecia que aquilo já durava dias. Quando, de repente, lá estavam Carrie, Corin, Janet e Katie com seus instrumentos encaixando música atrás de música... ah, como tocam! Pareciam que 30 segundos haviam se passado e elas já não estavam mais lá, as luzes se acenderam. Ai ai, foi muito rápido... (como na canção do Fragile Arm “...que vem forte, passa rápido e seca logo”).

Mas, me organizado um pouco melhor, a visão mais crítica do show consegue vir à tona. A banda de abertura, The Pins, foi bem bacana. Deu aquela refrescada ouvir musicas que eu nunca tinha ouvido antes. A baterista tinha uns trejeitos parecidos com os de outro dos meus melhores amigos (que também estava naquela mesma conversa de whatsapp), e me fez gostar ainda mais! Deu aquela marejada nos olhos. Elas todas cantavam numa dinâmica bem legal mesmo e deixaram a casa num clima muito do bom.

Então tá, era chegado o momento.
A felicidade se espalhava, os gritos e as palmas e pimba: lá foram elas a tocar. O set list estava bem baseado no último disco, o que não podia deixar de ser... e que belo disco, não?! É a fase delas e, como até já falamos isso em outros textos (aqui e aqui), a banda acaba se caracterizando e se diferenciando bastante pela fase de disco (pelo menos nessas nossas opiniões por aqui). Ao vivo não parecia diferente pois os sons que mais preenchiam eram mesmo os do No Cities To Love. Também porque ali a galera fez a tal lição de casa e cantava principalmente esses sons, acho que a bela surpresa que foi a volta+disco novo+shows deixou todo mundo empolgado pra caramba. 

Elas também tocaram bastantes sons do The Woods, que por ser um disco mais próximo a essa continuidade que estavam dando com a banda, eram outros que ressoavam bastante o ambiente inteiro, ficava um som cheião, rock mesmo, bandona!


A dinâmica do show funcionava mais ou menos assim: pra tocar os sons do No Cities To Love, a muito talentosa Katie Harkin (que toca na banda Sky Larkin) se juntava a elas, tocando ao lado de Janet a sua guitarra, e por vezes um tecladinho ou até uma percusão, preenchendo as músicas em alto estilo.

E quando ela saía do palco e deixava as três, era a hora que vinham os sons de antes do hiato. Os hits do nosso cotidiano. Nossa, e teve hits mesmo! Acho que por estar ouvindo muito o The Hot Rock na época, "Start Together" foi um som cabulosíssimo quando veio.

Mas não era isso que eu ia dizer. O meu comentário abalizado é que, sem dúvida, ir ao show das S-K teve aquele fator sonho realizado pois tava tudo lá! A bateria da Janet cheia de sorrisos e balançadinhas de cabeça, sempre direta ao ponto. A guitarra mais grave da Corin, que mesclam linhas de menos notas com seus riffs que combinam e destoam ao mesmo tempo dos riffzinhos mais agudos e caminhantes da Carrie. As dancinhas e jogos de perna invejáveis que só ela sabe! As trocas de olhares, os sorrisos confortáveis. As harmonias de vozes das três. O vocal da Carrie meio anasalado. E a Corin que, só ela, chega fazendo aquele agudo, aquela gritadinha, que vai la em cima e leva a gente junto! Nossa, nossa, show de Divas!

Outra coisa que deu pra notar bastante são as diferenças dos climas de discos. E como em alguns sons mais velhos, aquele estranhamento da individualidade de cada uma em seu instrumento se somando a uma mesma canção é sensorialmente forte! E causa essa novidade, a vontade pela empatia e auto-conhecimento, a busca. E ainda mantendo a unidade da mesma banda, deixando todas as pessoas ali confortáveis. Sim elas são Sleater-Kinney! Não há dúvidas, nunca haverá.


Na volta ao palco (o tal do encore) Corin volta só com o microfone com Katie na sua guitarra, cheia daquela malemolência, pra tocarem Gimmie Love. Um show à parte dela, muito a vontade só com o microfone, sem precisar da guitarra.

Durante o show eu fui invadido por muitos sentimentos e seria injusto também não expor que as músicas daquele jeito, ao vivo e na minha cara, me trouxeram muita reflexão e aquela busca do auto-conhecimento. Também, o pesar de erros e besteiras feitas e futuras, mesmo que por vezes não intencionais. Ou movidas reativamente por essa bagunça que é a cabeça e os pensamentos que nela habitam. Pois a banda faz, sim, lembrar de dias passados e pessoas que ficaram lá, ou pessoas que não se tem a mesma convivência (pelo motivo que for), mas que sabem que elas também tem, ou poderiam ter, as suas relações e momentos com a banda. E esse show é uma experiência que todas deveriam passar. Então é bom poder pôr os pés no chão e tentar seguir tentando compreender mais os erros e coisas passadas, relembrar bons e maus momentos nesse pretérito imperfeito. E nunca se esquecer dessas canções que já te fizeram sentir o que precisava ou o que pode precisar. E tem uma música que acho que me trouxe em especial pra isso também. 

Sim, elas tocaram "One More Hour"! E sim, foi lindo!

E eu vou me colocar esse limite de ficar lembrando e lembrando e comentando cada som e momentos que surgem em mente, se não isso nunca vai ser postado haha. Como um comentário final, acho que muito da magia do show foi por causa dos meus olhos mas eu tinha uma expectativa e ela foi excedida! Foi incrível pra mim! E isso conta alguma coisa, eu espero. Cada pessoa viu um show, tem gente que viu elas em outras cidades, tem gente que viu em outras épocas, tem gente que ainda vai ver. Os dias são diferentes, os lugares são diferentes, os climas são diferentes, as pessoas são diferentes.

“There are no cities, no cities to love
It's not the city, it's the weather we love!
There are no cities, no cities to love
It's not the weather, it's the nothing we love!
It's not the weather, it's the people we love!”






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