Eu achei essa entrevista a mais bacana do zine e aproveito pra dizer que o número dois do Distorção deve sair daqui alguns meses.
Distorção zine: distorcaozine@hotmail.com
Queerfest: www.myspace.com/queerfest
1- O Queerfest é um evento que conta com várias pessoas da cena punk em
sua organização. Como é a aceitação do evento por parte de pessoas e
grupos fora da cena alternativa?
Queerfest: É fato que o evento conta com participação de pessoas da cena punk, elas se identificando ou não atualmente com o punk, mas de qualquer forma o punk foi algo presente na vida de tod@s nós. Foi algo que serviu para desconstruirmos conceitos impostos, de inspiração de resistência, nesse sentido podemos dizer que o punk é uma grande influência no evento, talvez nem tanto em termos de estética ou estilo de música mas mais em um sentido de contestação política. A idéia do evento é não se restringir a uma cena específica, mas sim ser algo aberto e que englobe o máximo de pessoas que estejam afim de conversar sobre como nossa sociedade nos prende em categorias, que no limite servem apenas para nos controlar, mais importante, como resistir a essa lógica.
2 - O comércio trata os grupos GLBTT como um nicho de mercado. Como o
enquadramento dentro da cultura de consumo pode prejudicar esses
grupos?
Queerfest: A cultura de consumo é uma das formas pelas quais o capitalismo funciona, sem consumo não há lucro e portanto não há acumulação, isso é a base do capitalismo. Obviamente vivemos em uma etapa um pouco distinta do começo do século XX quando se institui massivamente esse tipo de cultura com o Fordismo, mas a idéia ainda permanece a mesma. O que os grupos GLBTT parecem não entender é que a aparente aceitação crescente da sociedade sobre a comunidade GLBTT é apenas uma estratégia política do capitalismo de recriar e se apropriar daquilo que é novo e assim fazer disso algo lucrativo. Essa aceitação não se dá no âmbito político de direitos humanos, mas num plano econômico e disso resulta uma postura extremamente ambígua e perversa por parte do Estado: ao mesmo tempo em que se regulam leis que teoricamente deveriam beneficiar a comunidade GLBTT ele é conivente com ações de afronta aos direitos humanos dessa mesma comunidade. Cabe aqui ressaltar que a assimilação econômica está diretamente relacionada, e é pressuposto, da alienação e ambigüidade do Estado. Dessa forma retira-se cada vez mais o potencial revolucionário de um movimento social, que começou como uma rediscussão de valores como o machismo e patriarcalismo, deixando-o apático a questões políticas. Como diziam os grupos autônomos argentinos em 2001 durante a crise econômica do país "não perdemos 30.000 companheir@s na ditadura militar dos anos 70/80, para sermos derrotad@s pela ditadura econômica dos anos 90/00.”
3- Um dos principios políticos do evento é de que a sexualidade é apenas uma das milhares forma de resistência e que a comunicação com outros grupos autônomos é fundamental. Como fazer a interação da luta dos grupos glbtt com outros grupos como
indígenas e meio ambiente, por exemplo?
Queerfest: Uma das críticas que fazemos ao movimento GLBTT é a sua individualidade enquanto movimento. Não há discussão dele com outros movimentos sociais. Entendemos que não somos oprimidos somente na nossa sexualidade e identidade de gênero, mas somos oprimidos em muitas outras esferas da nossa vida cotidiana. O capitalismo age dessa forma, separa os movimentos enfraquecendo-os enquanto uma multidão contestadora e radical, ficando mais fácil para as forças repressivas do Estado desarticularem as lutas. Reconhecemos e apoiamos as diversas lutas sociais que estão eclodindo no nosso país e no mundo (ver nossos princípios políticos. Somos solidários a questão da demarcação das terras indígenas; é uma afronta aos direitos humanos o governo federal se recusar a tocar os processos de demarcação. Respeita-se mais os interesses das grandes corporações do que os interesses e a auto-determinação das comunidades tradicionais. O mesmo vale para o meio ambiente, cujo órgão público federal IBAMA está sendo cada vez mais alvo de politicagem com o intuito de enfraquecê-lo e assim acelerar o PAC (Programa de Aceleramento de Crescimento), que visa apenas aos interesses de corporações. Há ainda outras questões tão polêmicas quanto, como os transgênicos e a transposição do Rio São Francisco. A questão não é simplesmente levar a discussão de sexualidade e identidade de gênero para outros movimentos, embora seja extremamente importante, mas reconhecer que as lutas dos outros movimentos sociais são tão importantes
quanto a nossa, e que uma luta necessariamente perpassa a outra, afinal buscamos liberdade e autonomia seja ela de corpo, de moradia, de alimentação, de educação etc. Portanto o primeiro passo é o reconhecimento e o diálogo com esse grupos. Criar laços de solidariedade e assim começar a trabalhar junt@s, por afinidades, com o objetivo em comum de destruir e superar o capitalismo.
4- Como você encara a questão da homossexualidade dentro do cenário
hardcore atualmente? É possível dizer que o Brasil possui uma cena
queercore?
Queerfest: Muita gente ainda torce o nariz, embora achamos que isso está mudando muito, talvez porque muita gente do cenário hardcore está se vendo cutucad@s, sejam el@s pertencentes ao GLBTT ou não. O fato é que nem deveria existir preconceito dentro de um meio que se diz libertário, enfim, enquanto houver homofobia na sociedade do espetáculo, haverá homofobia no hardcore, no punk e em cenários que se dizem livres de preconceitos. Com relação à cena queercore, é cedo para falar dela no Brasil, se comparado a outros países, estamos começando a engatinhar, mas de fato muitas pessoas já estão se unindo, trocando informações, se mexendo e dando suas caras com propostas de bandas, eventos, palestras no intuito de passar uma informação para a sociedade e para o meio GLBTT que nossa vida não é regada a Madonna e nem ao consumismo exagerado, a vida é muito mais que tudo isso!
sua organização. Como é a aceitação do evento por parte de pessoas e
grupos fora da cena alternativa?
Queerfest: É fato que o evento conta com participação de pessoas da cena punk, elas se identificando ou não atualmente com o punk, mas de qualquer forma o punk foi algo presente na vida de tod@s nós. Foi algo que serviu para desconstruirmos conceitos impostos, de inspiração de resistência, nesse sentido podemos dizer que o punk é uma grande influência no evento, talvez nem tanto em termos de estética ou estilo de música mas mais em um sentido de contestação política. A idéia do evento é não se restringir a uma cena específica, mas sim ser algo aberto e que englobe o máximo de pessoas que estejam afim de conversar sobre como nossa sociedade nos prende em categorias, que no limite servem apenas para nos controlar, mais importante, como resistir a essa lógica.
2 - O comércio trata os grupos GLBTT como um nicho de mercado. Como o
enquadramento dentro da cultura de consumo pode prejudicar esses
grupos?
Queerfest: A cultura de consumo é uma das formas pelas quais o capitalismo funciona, sem consumo não há lucro e portanto não há acumulação, isso é a base do capitalismo. Obviamente vivemos em uma etapa um pouco distinta do começo do século XX quando se institui massivamente esse tipo de cultura com o Fordismo, mas a idéia ainda permanece a mesma. O que os grupos GLBTT parecem não entender é que a aparente aceitação crescente da sociedade sobre a comunidade GLBTT é apenas uma estratégia política do capitalismo de recriar e se apropriar daquilo que é novo e assim fazer disso algo lucrativo. Essa aceitação não se dá no âmbito político de direitos humanos, mas num plano econômico e disso resulta uma postura extremamente ambígua e perversa por parte do Estado: ao mesmo tempo em que se regulam leis que teoricamente deveriam beneficiar a comunidade GLBTT ele é conivente com ações de afronta aos direitos humanos dessa mesma comunidade. Cabe aqui ressaltar que a assimilação econômica está diretamente relacionada, e é pressuposto, da alienação e ambigüidade do Estado. Dessa forma retira-se cada vez mais o potencial revolucionário de um movimento social, que começou como uma rediscussão de valores como o machismo e patriarcalismo, deixando-o apático a questões políticas. Como diziam os grupos autônomos argentinos em 2001 durante a crise econômica do país "não perdemos 30.000 companheir@s na ditadura militar dos anos 70/80, para sermos derrotad@s pela ditadura econômica dos anos 90/00.”
3- Um dos principios políticos do evento é de que a sexualidade é apenas uma das milhares forma de resistência e que a comunicação com outros grupos autônomos é fundamental. Como fazer a interação da luta dos grupos glbtt com outros grupos como
indígenas e meio ambiente, por exemplo?
Queerfest: Uma das críticas que fazemos ao movimento GLBTT é a sua individualidade enquanto movimento. Não há discussão dele com outros movimentos sociais. Entendemos que não somos oprimidos somente na nossa sexualidade e identidade de gênero, mas somos oprimidos em muitas outras esferas da nossa vida cotidiana. O capitalismo age dessa forma, separa os movimentos enfraquecendo-os enquanto uma multidão contestadora e radical, ficando mais fácil para as forças repressivas do Estado desarticularem as lutas. Reconhecemos e apoiamos as diversas lutas sociais que estão eclodindo no nosso país e no mundo (ver nossos princípios políticos. Somos solidários a questão da demarcação das terras indígenas; é uma afronta aos direitos humanos o governo federal se recusar a tocar os processos de demarcação. Respeita-se mais os interesses das grandes corporações do que os interesses e a auto-determinação das comunidades tradicionais. O mesmo vale para o meio ambiente, cujo órgão público federal IBAMA está sendo cada vez mais alvo de politicagem com o intuito de enfraquecê-lo e assim acelerar o PAC (Programa de Aceleramento de Crescimento), que visa apenas aos interesses de corporações. Há ainda outras questões tão polêmicas quanto, como os transgênicos e a transposição do Rio São Francisco. A questão não é simplesmente levar a discussão de sexualidade e identidade de gênero para outros movimentos, embora seja extremamente importante, mas reconhecer que as lutas dos outros movimentos sociais são tão importantes
quanto a nossa, e que uma luta necessariamente perpassa a outra, afinal buscamos liberdade e autonomia seja ela de corpo, de moradia, de alimentação, de educação etc. Portanto o primeiro passo é o reconhecimento e o diálogo com esse grupos. Criar laços de solidariedade e assim começar a trabalhar junt@s, por afinidades, com o objetivo em comum de destruir e superar o capitalismo.
4- Como você encara a questão da homossexualidade dentro do cenário
hardcore atualmente? É possível dizer que o Brasil possui uma cena
queercore?
Queerfest: Muita gente ainda torce o nariz, embora achamos que isso está mudando muito, talvez porque muita gente do cenário hardcore está se vendo cutucad@s, sejam el@s pertencentes ao GLBTT ou não. O fato é que nem deveria existir preconceito dentro de um meio que se diz libertário, enfim, enquanto houver homofobia na sociedade do espetáculo, haverá homofobia no hardcore, no punk e em cenários que se dizem livres de preconceitos. Com relação à cena queercore, é cedo para falar dela no Brasil, se comparado a outros países, estamos começando a engatinhar, mas de fato muitas pessoas já estão se unindo, trocando informações, se mexendo e dando suas caras com propostas de bandas, eventos, palestras no intuito de passar uma informação para a sociedade e para o meio GLBTT que nossa vida não é regada a Madonna e nem ao consumismo exagerado, a vida é muito mais que tudo isso!
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