Entrevistei o Arma Laranja (Curitiba) na #4 do True Lies, em 2008, na época a banda ainda não tinha acabado. A banda era composta por pessoas que já tocaram (ou tocam) em outras bandas, como: Infect, Jesus Mongolóide, Regime Tentáculo. Eles lançaram um split 7" com o Besta Fera (SP) em duas versões diferentes de arte e capa. A banda acabou e a entrevista é antiga, mas acho válido disponibilizar aqui.
*As much as I can I'll translate some things that I'm posting here because I've seen visitors that probably don't understand portuguese. I can't translate the interview cause there's no time, but it's a band from Curitiba (BR) that played energetic punk rock with female vocal. It's very good and you can listen to their music on myspace. I interviewed then in 2008, I guess, to the issue number four of True Lies, zine that I used to do. You'll probably note some english mistakes but I guess you'll be able to understand. True Lies was a paper zine that I wrote with Marcela from 2004-2007 and 2008-2009 by myself. Interviews, reviews, texts of people that have what to say and know how to do it good.
Porque o nome arma laranja? Existe algo por trás das cores nos nomes das bandas?
Chico: O nome da banda originalmente era Câncer Kids, que era um dos nomes da mesma leva do Jesus mongolóide, Gente feia na tv e etc. Mas aí descobrimos que tinha uma outra banda com esse nome e decidimos mudar, na mesma época nossos amigos do Alzheimer também queriam mudar de nome, aí como tinha o Falso Branco eu sugeri colocarmos nomes com cores, pra iniciar uma nova era das bandas pós Terrorismo Brando. Assim o Alzheimer virou Duplo Cinza e nós roubamos um nome que o Mário já usava que é Arma Laranja. Sobre o nome em si, o Mário é bem melhor em teorizar a respeito dessas coisas do que eu, mas pra mim o importante é que esse nome é uma referência ao folclore punk daqui (uma vez um amigo nosso, o Nils portava uma arma de brinquedo e foi parado pela polícia, ao ser questionado sobre o motivo de carregar o artefato respondeu “eficácia simbólica”). Pra mim essa coisa toda de cores era uma celebração da nossa cena, que ainda conta com Choque Rosa, Olho Roxo e Preto Com Arma.
"E eu odeio sua economia, mas basicamente eu odeio você,odeio sua mãe seu pai, seu deus,mas principalmente seu pai" (trechos de Pressão,pressão,pressão). Porque principalmente o pai?
Chico: Essa letra é aquela coisa punk de mandar todo mundo tomar no cu ao mesmo tempo. Seu chefe, sua professora, sua mãe, seu pai, e por aí vai. Não tem muita reflexão, é um jeito de extravasar bastante adolescente. Mas esse destaque pro pai é porque o papel padrão do “macho- pai- de família-homem de verdade”, é pra mim, muito deprimente, uma espécie de panaca se matando por um pedaço de nada. E também porque é o que está mais próximo de mim.
”Perco o controle, você não sabe o que fazer, ansiedade, dor de cabeça! Não venha me dizer o que é melhor pra mim” (trechos de Sangue no Olho).
O que inspirou vocês a escrever essa letra? A letra é direcionada a que/quem?
Bianca: A letra é sobre um tipo de situação que acredito que muitas pessoas passam, em diferentes tipos de relações íntimas, seja com o namorado (a), marido, esposa, mãe, pai, irmão... É sobre a nossa dificuldade de relacionamento, de diálogo, de comunicação. “Perder o controle” funciona como uma catarse sofrida, com raiva no sentido mais puro da palavra, angústia. Ao mesmo tempo é uma condição para seguir em frente, tocando o foda-se ao tipo de comportamento que nos é imposto, através de uma espécie de “crise” constante, sem esperança.
Com essa explosão do termo ‘hardcore’ nos grandes meios de comunicação, bandas pop punk, emo, bandas que de alguma forma começaram ‘independente’, e que agora estão fazendo fama e fortuna, que estilo vocês palpitam que seja a próxima onda do momento?
Chico: Se eu soubesse eu apostaria e ganharia dinheiro com isso, meu palpite é que o grunge tem tudo pra encontrar uma onda de renascimento nos próximos anos.
Mas a real, é que essa coisa do hardcore agora não tem nada a ver, é como rock e ROCK sabe? Uma coisa é a expressão máxima de liberação sexual, mental, espiritual da juventude, a outra é uma musica ligada a um estilo qualquer que é baseada em profissionalismo, quer o dinheiro da molecada e investe o lucro em obras de arte ou ações.Hardcore significa um milhão de coisas, mas originalmente é ser mais punk do que os punks, ser um punk hardcore, tipo pornô hardcore.
2007, trinta anos depois da primeira explosão punk, muitos depois do hardcore, e até o verão da revolução já ficou um adulto inteiro pra trás. Por que o punk rock é relevante hoje?
Chico: Eu tinha feito essa pergunta pro Mário do Duplo Cinza, bom...seguinte, tomara que não me entendam errado, mas tanto faz ser punk. Porque, sob um certo ponto de vista, até o Bam Margera é punk hoje em dia, então não é como se fosse uma questão de honra ser considerado punk ultimamente. O que isso quer dizer originalmente é (além do cara que dá o rabo na cadeia) um tipo de idéia subversiva dentro do rock, que não busca apoio no mainstream e por conta disso você faz sua própria arte, lança, grava, desenha, fotografa, tira xérox e vende pros outros sem esperar alguém te “descobrir” ou validar o que você produz. Eu particularmente gosto dessa idéia, e de ser parte de uma rede de comunicação com pessoas com práticas semelhantes. Eu gosto de saber que se eu for pra SP tocar em algum lugar que o Ruivo ou o Bá escolherem eu vou tocar com bandas que sentem essa mesma coisa. E a gente não pretende assinar nenhum contrato nem nada, então se isso é punk, se isso não é, pouco me importa. O Arma Laranja é uma banda de garagem, não de garage rock, mas uma banda punk de rock, que ensaia depois do trabalho. A gente gosta de Agent Orange, the Saints, Radio Birdman, Adolescents, the Dicks, Mercenárias, Dead Moon e Wipers. E somos espiritualmente ligados ao Bush, Velho de Cancer, Besta Fera, Duplo Cinza e Falso Branco.
O número de meninas ativas dentro do punk/hardcore é muito pequeno, salvando as exceções. Porque vocês acham que isso acontece,como "reverter" isso?
Bianca: Eu acho que isso acontece devido à nossa educação mesmo, que ainda é bastante machista. Ainda temos os papéis designados para meninas e para meninos, desde a infância. E o que acontece é que, se não rola um esforço individual, normalmente na adolescência, o negócio não vai pra frente. Ao menos no meu caso, foi difícil começar a tocar, por exemplo. Eu já ia em shows há alguns anos, e junto com algumas amigas que também não sabiam tocar, resolvemos montar uma banda pra gente aprender junto, e também foi difícil, porque o ambiente, no caso a cena hardcore era bem hostil em relação às meninas. Mas aí eu acho que tem que curtir bastante pra continuar. Com o passar do tempo eu fui percebendo que é tipo uma condição, não dá pra ser muito diferente disso, não dá pra se adaptar a um estilo de vida muito convencional, e fazer parte de uma banda punk é uma maneira de negar todo o resto, uma forma de assumir que eu não pertenço, ou ao menos tento não pertencer a um tipo de cultura “mainstream”. É um lance mais contracultural mesmo, que implica em várias dificuldades, principalmente em um país como o Brasil. Isso rola independente de ser homem ou mulher, é claro, mas acredito que seja mais difícil para a mulher estar inserida nesse ambiente, pois a pressão da sociedade é muito forte, e impõe valores e ideais que parecem já estar enraizados na nossa cabeça, é horrível mesmo. E é difícil porque acaba se tornando uma coisa marginal. Agora, vai de cada uma saber o que vale a pena. Eu prefiro abrir mão da segurança de uma vida mais convencional e arcar com as dificuldades, tendo outro tipo de satisfação. O que é triste mesmo é ver que a maioria das mulheres é bem machista, e realmente aceita o papel que lhes é imposto, na maioria das vezes essa cultura é tão lá embaixo que elas nem têm consciência da sua existência. Pra falar a verdade, não penso tanto mais nisso como antes, acho só que se mais mulheres tivessem mais coragem, seria bem melhor.
Depois do ep 7" (split com Besta Fera) quais são os planos, próximos discos?
Chico: Ainda esse ano deve sair pelo selo Criminal IQ um compacto só da gente chamado Pressão pressão pressão, com quatro músicas inéditas gravadas na mesma sessão de gravação do split. Fora isso, nós estamos fazendo músicas novas e tocando por aqui de vez em quando, e o plano é gravar de novo em janeiro do ano que vem.
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