quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

entrevista: Ive Môco (Ricto Máfia)

Sou da região sul-fluminense do Rio de Janeiro, da provinciana e coronelista, Barra Mansa. Entre Resende e Volta Redonda. E tenho esse blog, e o que menos faço é falar sobre a produção musical – seja ela a independente ou punk (são coisas distintas, para mim) – da região. Mas é pós natal e nos últimos três natais a Ive Môco (a mulher por trás do Macacos sem Deus fanzine, Ricto Máfia, Subterrânea Rock e inúmeros outros shows) apresenta uma coletânea de bandas independentes, undergrounds dessa região tão amada e odiada por todas nós.

A coletânea é a “Sempre chove no Natal” que já está em sua terceira edição e nada mais justo do que vez ou outra lembrar e registrar que existe produção que não pretende, à priori, ir para a rádio e animar as baladas. Não que isso seja puramente ruim, mas como ouvinte de música e de barulho é sempre o algo mais que chama a minha atenção.
Ive respondeu algumas poucas perguntas sobre a coletânea para o cabeça tédio, e as outras foram gravadas despretensiosamente no Zombie Crew Revival. Despretensiosamente mesmo, é a primeira vez que filmo uma entrevista, então tem todo aquele nervosismo e falta de jeito. A íntegra da entrevista esta aí, com a minha gagueira – hilária, diga-se de passagem – as mudanças de locais – em busca de melhor iluminação – confira o vídeo com o restante das perguntas.
Perguntas, gagueira e voz aguda: Carla Duarte.
Respostas, serenidade: Ive Môco.
New metal porra: juventude roqueira de Resende.

Quantas bandas participam da coletânea? E como elas foram escolhidas?

Ive: Da terceira edição participaram 10 bandas. Diego (Pando) Linx e eu que selecionamos as bandas. Nos conhecemos na época de Mirc (alguém lembra disso?), estudamos no mesmo colégio, ele tocou baixo na Ricto Máfia também e tem ótimas composições. Colocamos nossas bandas na coleta (a dele é a Lamadart) e fizemos um apanhado de bandas que gostamos, como Amplexos, Iguanas e Leis de Murph, com bandas mais novas e propostas que julgamos interessantes, como a Não Fique Triste e a Membranas. Como Linx e eu ouvimos mais rock alternativo, foi o estilo que predominou na coletânea, mas tem a Elasticdeath representando o barulho também hehe.



Essa não tem a ver com a coletânea, mas como andam as expectativas para fazer shows nesse 2010 tão novo? O fim de 2009 terminou com dois shows diferentes que eram produzidos em Resende, o SubterraneaRock e o Zombiew Crew Fest. Como é dar ponta em murro de faca: produzindo shows, chamando bandas, carregando equipamentos para a mesma atitude roqueira juvenil que – aparentemente – não muda?

Ive: Para 2010, Robin Zombie Crew, Rafael Fralda e eu estamos unindo forças e idéias pra fazer eventos juntos. Uma coisa que está atrapalhando e que ainda estamos procurando é o local, de preferência centralizado aqui na cidade e sem um aluguel exorbitante. Porque a casa do Robin fica bem afastada, num bairro conhecido como “buraco quente”, os shows lá chegaram a dar uma pausa uma época porque parte da molecada roqueira ficava na rua sem entrar no evento e os ‘aviões’ da área viram nisso uma boa oportunidade de ‘comércio’. Chega de associar rock a drogas em geral. E no local em que Rafael e eu fazíamos o Subterranea tivemos muita divergência de idéias com o gestor, apesar do espaço encaixar muito no que precisávamos, uma pena. Também parte da molecada colaborou muito pra que acabasse. Falamos disso no MSD Zine #7, ainda tenho cópias impressas, quem quiser só dar um toque, mas devo disponibilizar em pdf também. É que a história é comprida mesmo rs.

“Dar murro em ponta de faca” creio que é a expressão que melhor representa todo nosso esforço rs. Entenda por “nosso” toda essa região sul-fluminense, apesar de que em Volta Redonda as coisas parecem melhores, mas sabe como é a grama do vizinho. Conheci o Rafael, ele já estava nessa, nisso já vão uns seis anos, provavelmente mais (noção de tempo não é meu forte), desde então organizo com ele, já tomamos prejuízos, ficamos putos, mas também já nos divertimos bastante. Robin também deve ter bastante história pra contar, ele ainda é mais animado que nós. A atitude dos jovens não muda porque, na real, eles mudam o tempo todo. Explico: desde que “me entendo por roqueira” (rs) todo ano sai gente que pára de ir aos shows pra ir em balada, ou por outro motivo qualquer, e chega gente diferente, nova e com idéias mais deturpadas, principalmente porque ouviu histórias da “geração” doida anterior. É um grupo de umas 20 pessoas que acaba com a festa dos outros, por isso os shows rolam bem durante 6 meses e depois a coisa desanda. Mas o lance todo é que, se não fizermos os shows, quem fará? Faço os shows porque quero assistir também e mostrar pra quem está interessado.



Ricto Máfia, com participação de Leandro Peixe

Lançar a coletânea virtualmente é interessante por ser acessível a todxs que sabem do blog e da coletânea. Você tem noção de quantos downloads foram/são feitos nessas últimas três coletâneas?

Ive: Dessa mais nova até agora 34 do arquivo zipado. Da segunda uma média de 150 downloads, já que também é possível baixar faixa a faixa. Da primeira, não sei te dizer porque ficava hospedada no Rapidshare, mas o link expirou, daí coloquei pelo 4shared, que é ótimo por possibilitar ver a quantidade de downloads e um controle maior. Outra coisa legal é que, quem baixar uma, provavelmente baixará as outras duas e, como existem bandas diferentes nas outras coletâneas, todo mundo ganha uma pouco mais de espaço.

Resende está pro rock assim como Barra Mansa está para o ? (hardcore? balada? Hm...) Os roqueiros daí, que são vários, apóiam e ouvem a coletânea ou são os próprios feitores, produtorxs?

Ive: Eu não diria que Resende está para alguma coisa rs. Quando você fala Barra Mansa também, já logo entendo Volta Redonda, já que os shows da BMHC Crew são lá. Acho que a diferença é que no rock daí a maioria que curte já não é mais adolescente, tem noção coletiva de algumas coisas, pelo menos no hardcore.
De resto, creio que estão na mesma situação que nós.
Aqui existem os roqueiros que foram em shows e os que, digamos, consomem rock, através de roupa ou música mesmo, mas nunca nem ficou sabendo o que é um “showzin”. Percebo mais isso por causa da loja que abrimos: muita gente que compra aqui, eu nunca vi em shows e muita gente que vi em shows não vem na loja, ou seja, essas pessoas provavelmente não se conhecem, não se comunicam, não percebem que tem mais gente curtindo o mesmo. Acho que se juntasse esses dois grupos, já teríamos um público médio de 300 pessoas em shows.
Em 10 dias que a “Sempre Chove...” está disponível foram 34 downloads, o que considero bom. Mas meus pré-conceitos me levam a crer que menos jovens roqueiros baixaram e mais pessoas “do meio”: outras bandas, gente de zine, que conhece a gente ou as bandas participantes, isso pelos contatos que chegaram a mim.



Descontraída Ive no Mulheres no Volante, em Juiz de Fora/MG.

O restante da entrevista:



Ricto Máfica
Macacos sem Deus
DOWNLOAD DA COLETÂNEA SEMPRE CHOVE NO NATAL VOL 3

2 comentários:

Anônimo disse...

ô yeé

Fernando disse...

Essa entrevista ficou massaroca. E eu não conhecia a Ricto Máfia até pouco tempo. Achei perfeita.