domingo, 3 de maio de 2015

entrevista: High Dive

High Dive por Daniel Ryan Balderas

(Interview in portuguese and english)

Existem bandas que trato apenas no superlativo de superioridade. Não é como se eu quisesse só fazer elogios. É que a banda é tão boa e do coração, que não dá para fugir disso. Percebi isso hoje, ao começar a escrever sobre uma das minhas bandas preferidas, High Dive. Há algum tempo eu e Marcelo entrevistamos elxs e só hoje fui fazer a introdução da entrevista. Tá, faz tempo que entrevistamos, então tenha isso em mente ao ler o post!

High Dive é uma banda, como elxs mesmo se intitulam, "pop queer positive" de Bloomington (Indiana). Os riffs das músicas te levam para longe e quando você percebe tinha um sax ou um piano que deixou tudo mais lindo. As letras falam sobre crescer, se enganar e ser enganadx, sobre querer beijar alguém e ter medo porque alguém pode ver, sobre redenção, sobre ter mais de vinte anos e ser punk. É por essas e por outras que só consigo tratá-lxs no superlativo. É uma banda foda, música medicina!

Em 2011 foi lançado o full lenght "High Dive", que tem clássicos como "Tennessee" e "Thank You". Nesta época, a banda era Toby Foster (voz e guitarra), Ryan Woods (baixo e voz - Defiance, Ohio) e Nick Romy (bateria). Pense na energia de um power trio, com músicas com momentos mais suaves e com guitarras dedilhadas e outros com tudo mais rápido e uma bateria que não dá descanso. Em 2013, o ep "These Are Days" chegou, e com ele Richard Wehrenberg Jr, que acrescentou nas músicas seu vocal, piano e sax. O pop punk com energia está presente, mas agora está mais bonito. É a mesma banda, só que encontrou mais elementos para dizer tudo aquilo que eles dizem.



No final do ano passado eles terminaram de lacrar tudo quando lançaram um ep sem título, mas que falou muita coisa, especialmente porque a Ginger Alford (Good Luck) entrou para a banda nesse álbum. Ela tem aquela voz (e aquela guitarra) que não passa despercebida. Para mim, é uma das vozes mais bonitas do pop punk. Aqui High Dive já está um pouco diferente do primeiro álbum, mas tão bom quanto. Se liga no bandcamp e no tumblr delxs.

Perguntas por Carla e Mama, respostas por Toby Foster. 

Cabeça Tédio (CT) O que me chamou atenção desde o início foi a descrição da banda no bandcamp, que diz que vocês são uma banda pop punk queer positive. Porque para vocês é importante destacar essa característica?

High Dive (HD) Nós nos intitulamos como "queer positive" porque é uma parte importante do porque que nós tocamos música juntxs e o que nós queremos alcançar com essa banda. Mesmo se nem todas as nossas músicas são especificamente sobre questões queer, todas elas são configuradas pelas nossas experiências enquanto indivíduos queers, e nós esperamos dar uma voz e ser capazes de relatar para outras pessoas que talvez nos tenhamos tidos experiências parecidas. 



(CT) O novo ep do High Dive, "There Are Days", traz piano,sax e trompete e soa muito bem, combinando com o estilho Pop Punk. Gostaria de saber se há algo em particular que tenha te dado a ideia, ou te inspirado, para incluir esses instrumentos no ep. E vocês já tocaram alguma música do novo álbum ao vivo com esses instrumentos (ou planejam fazer isso)? Ah, e vocês tocam algum cover nos shows?

(HD) Nós fomos suficientemente sortudos de gravar com um amigo nosso, então nós tivemos mais tempo para tocar e incluir instrumentos e outras partes, o que foi divertido. Agora nós tocamos em 5 (2 guitarras, baixo, bateria e teclado), portanto a forma que as músicas foram gravadas estão bem próximas do jeito que tocamos elas ao vivo. A única música que nós fizemos cover foi "I Think We're Alone Now", de Tommy James e The Shondells. 
(CT) Você pode nos contar como é o processo criativo de criação de músicas da banda?

(HD) É comum eu chegar para a banda com uma música 90% pronta, e aí nós conversamos e tentamos incluir mais partes interessantes e outros vocais. Embora pela primeira vez em um tempo nós todxs moramos na mesma cidade de novo, portanto eu gostaria de começar a trabalhar nas músicas de forma  mais colaborativa.

(CT) Qual é a política do show de vocês? Quero dizer, vocês tocam apenas em espaços queer positive ou tocam também em outros espaços?

(HD) Eu não acho que nos tenhamos um padrão específico dos shows que nós tocaríamos e não tocaríamos. Nós todos temos tocando pelos Estados Unidos por muitos anos, então nós conhecemos os locais onde nós estamos nos metendo, e é muito raro que nós nos encontremos sendo mal acolhidos por causa das nossas políticas ou estilo de vida. 



(CT) “Tennessee”, música do primeiro álbum da banda, fala sobre homofobia e crescer, e parece haver uma história por trás da letra. Há alguma? Você nos contaria um pouco sobre? E o que você poderia dizer aquelxs que estão lutando com a homofobia e com a pressão de amigxs que solicitam que hajam de uma certa maneira?

(HD) Bom, a música foi inspirada pelo projeto "It Getts Better", que foi iniciado por Dan Savage e basicamente busca levar a mensagem para a juventude queer que as coisas ficam melhores na medida em que ficamos mais velhxs, especificamente em consideração a forma que as pessoas te tratam por ser queer. Eu ouvi várias críticas ao projeto, dizendo que é muito simples sentar e esperar, é uma abordagem muito passiva para combater a homofobia, e embora eu acredito que algumas das críticas sejam válidas, eu também acho que para mim, naquela época, e para várias pessoas jovens e queers, a luz no fim do túnel é clara o suficiente para te fazer querer continuar. Tendo dito isso, ainda existem momentos que eu me sinto desconfortável, e aonde eu sinto como se as coisas não tivessem melhorado tanto, e essa música é sobre lidar e superar essas inseguranças. 


Clipe de "Untouched", do último ep do High Dive


(CT) O que é necessário mudar na comunidade punk/queer/faça você mesmo para que respeite e seja amigável aqueles que não fazem parte de um grupo privilegiado?

(HD) Hmm... Eu não tenho certeza se eu realmente sei a resposta para isso, infelizmente.


(CT) Falar sobre comunidade é algo constante nas letras do High Dive. Porque comunidade é um conceito importante na prática faça você mesma? Quais ações são necessárias para criar uma comunidade que respeite e seja amigável à todxs?

(HD) Bom, eu acho que a razão de muita gente se interessar no "punk" é porque estão infelizes com o jeito que o mundo funciona, e querem tentar melhorar isso. Mas para melhorar, eu acho que você precisa começar pequeno e ter um grupo forte de pessoas que te apoie, para que você possa confiar e e importar com eles, e você pode começar a construir daí. 

High Dive por Chris Eaves

(CT) Qual é a melhor coisa de fazer parte de um grupo de pessoas que são amigas e podem criar algo forte e grande juntas?


(HD) Ter um grupo de amigos forte e que te apoie e que te dê a confiança para ir em frente com novos projetos e ideias. High Dive tem muita sorte nisso, nós estamos todos realmente tentando fazer com que grande ideias aconteçam, tanto com nossas bandas quanto nas nossas vidas pessoais. 

(CT) Quando eu ouço High Dive eu me divirto e fica fácil ignorar as coisas chatas que estão ao meu redor, se eu escolho fazer isso. Não que essas coisas ruins vão desaparecer, mas o som me dá um estado de espírito melhor para lidar com isso. Geralmente melhora o meu humor. Como vocês se sentem tocando suas músicas?

(HD) Eu acho que vários temas sobre os quais eu escrevo tem algo de "As coisas estão meio ruins, mas elas estarão okay, e existem várias coisas boas também" e acho que quanto mais eu as canto, mais eu me sinto desse jeito. Eu estou contente de ouvir que você sentiu algo parecido. 





(CT) O Hardcore Melódico e o Pop Punk em suas raízes são famosos por ter letras misóginas e sexistas. Por outro lado, atualmente, há muitos queers, mulheres e trans, folks, no genders, fazendo Pop Punk e dando um novo significado a ele. Sabendo que vocês são uma parte dessa mudança e viram isso acontecer, porque isso aconteceu, na opinião de vocês?

(HD) Eu não sei se eu sou qualificadx para responder essa pergunta. Eu não ouvi muitas bandas punk ou poppunk quando eu era mais novo.


(CT) Toby e Ryan são donos de um restaurant VEGetariaANO chamado The Owlery, certo? Você poderia nos contar mais a respeito?

(HD) Bom, nós começamos o restaurante porque é o tipo de trabalhos que nós gostamos, e parece que é um jeito honesto de se sustentar. Eu não sei se nós cobrimos uma agenda política, mas nós tentamos criar um ambiente positivo de trabalho aonde as pessoas se sintam valorizadas e possam lucrar mais do que elas lucrariam em um primeiro emprego.


(CT) Ok, muito obrigado por ter respondido nossas perguntas. Esperamos que não tenha sido muito confuso, como algumas perguntas podem ser. Vocês querem dizer mais alguma coisa?

(HD) A única pessoa que eu conheço do Brasil é o meu amigo Victor, que se mudou para lá há alguns anos. Ele tem falado conosco sobre talvez ir para o Brasil algum dia, o que eu acho que seria incrível.

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English

Cabeça Tédio (CT): One of the first things that got me was the band’s description on the bandcamp page, stating that you are a pop punk queer positive band. Why do you feel it is important to put it there? Is it just because that represent yourselves, or do you felt that’s important for other reasons also, such as lyrics interpretations and/or for a greater political stand with your sounds?


High Dive (HD): We self-describe ourselves as "queer positive" because it is an important part of why we play music together and what we hope to achieve with this band.  Ever if not all of our songs are specifically about queer issues, they are all shaped largely by our experiences as queer individuals, and we hope to give a voice to and be able to relate to other people that might have had similar experiences.
High Dive por Daniel Ryan Balderas

(CT) High Dive’s new ep, “There Are Day’s”, brings piano sax and trumpet and its sounds amazing and suits pop punk style. I wanted to know if there’s any particular thing that gave you the inspiration/idea to do so. And do you played some song of the new album live with these instruments (or plan to do so)? Oh, and do you play any cover in shows?

(HD) We were lucky enough to be able to record with a friend of ours, so we had more time to play around with adding instruments and parts, which was fun.  Right now we play as a 5-piece (2 guitars, bass, drums, keyboard), so the way those songs are recorded is pretty close to how we play them live.  The only song we've ever covered is "I Think We're Alone Now" by Tommy James and the Shondells.  It's also recorded on the first album we put out.

(CT) Could you tell about the process of creating the songs inside high dive? Is there anything different that you feel that you do or a different state of mind you get in?

(HD) Usually I will come to the band with a song that's 90% finished, and then we'll talk about it and try to add more interesting parts of other vocals.  Although for the first time in a while we all live in the same town again, so I would like to start working on songs more collaboratively.

(CT) What’s your show politics? I mean do you only play on queer positive festivals/shows/spaces, or do you try to get your message out there on what might be considered unstable places? Do you feel it’s important to do so?

(HD) I don't think that we have a particular set of standards for which shows we will and won't play.  We have all been touring in the U.S. for a lot of years, so we pretty much know what we are getting into wherever we go, and it's pretty rare that we find ourselves unwelcome because of our politics or lifestyle.


(CT) “Tennessee”, song from the band’s first album talks about homophobia and growing up and it seems to have a story behind the lyric. There is? Would you tell us a little about it? And what could you say to those who are struggling with homophobia and with friends requesting to them to act in a certain way?

(HD)
Well, the song was inspired by the It Gets Better Project, which was started by Dan Savage and basically aims to get the message out to queer youth that things get better as you get older, specifically in regards to the way that people treat you for being queer.  I have heard a lot of criticism of the project, saying that to simply sit and wait is too passive of an approach to combating homophobia, and although I think some of that criticism is valid, I also think that for myself at that time, and for a lot of queer youth, the light at the end of the tunnel is bright enough to want to keep going.  That being said, there are still times that I feel uncomfortable, and where I feel like things haven't gotten that much better, and dealing with and overcoming those insecurities is what the song is about.

(CT)  What have to change in punk/queer/diy community to be more respectfull to those that aren’t part of a privileged group?
(HD) Hmm... I'm not sure that I really know the answer to that, unfortunately.

(CT) One constant in High Dive’s lyrics is the discussion of community. Why community is an important concept to DIY practices? What actions are important to create a community that’s respectful and friendly to everyone?

(HD) Well, I think that the reason a lot of people get interested in "punk" is because they are unhappy with the way the world works, and want to try to make it better.  But in order to make it better, I believe that you need to start small, and have a strong, supportive group of people that you can trust and that you care about, and then you can start to build from there.

High Dive por Daniel Ryan Balderas

(CT)  What’s the best thing about being a part of a group of people that are friends and are able to create something strong together?

(HD) Having a strong group of supportive friends can give you the confidence to go forward with new projects or ideas.  High Dive is very lucky in that we are all really into trying to make big ideas happen, both with our band and our personal lives.


(CT) When I listen to High Dive I feel like having lots of fun and that is very easy to ignore bad things around me if I choose to, not that these bad things will go away, but that I bring myself on a better state of mind to deal with them. It usually puts me in a better mood. How do you feel when you lay this songs?

(HD) I think a lot of the themes I write about are something along the lines of "Things are kind of bad, but they will be okay, and there are a lot of good things too," and I think the more times I sing them, the more I really feel that way.  I'm glad to hear that you have felt something similar.

(CT) Melodic Hardcore and Pop Punk in its roots are famous for having misoginy, sexist lyrics. In the other hand, nowadays, there are plenty of queers, woman and folks making pop punk and giving a new sense for it. Seein’ that you are a part of that change and saw it happening, why do you think that happened? It was something that felt natural between people trying to base this sense of community and a more politicized scene inside the diy, or was something the continuation of a struggle, such as we’ve seen with the Riot Grrrl movement for example.

(HD) I'm not sure if I'm really qualified to answer that question.  I didn't get into a lot of older punk or pop-punk music when I was younger.

High Dive por Garret Walters

(CT) Toby and Ryan owns a vegetarian/vegan restaurant called the Owlery, right? Could you say more about it? And still on this subject, how do you feel queer and vegan issues are related? Do you try to expose this with the restaurant/band more openly? Do you have strategies on taking these issues to other people who might not realize a connection between intolerance on gender/sexuality, animal exploration and even capitalism for that matters?

(HD) Well, we started the restaurant because it is the kind of work we like, and it seems like a pretty honest way to try to make a living.  I don't know that we have any overarching political agenda, but we try to create a positive working environment where people feel valued and can make more than what they would make at a minimum wage job.


(CT)
Ok, thanks a lot for taking the time to answer us! I hope it wasn’t very confusing, as sometimes questions can be. Do you have anything else that you want to say? Please feel free tto talk about anything in your minds.
(HD) The only person I know in Brazil is my friend Victor, who moved there a couple of years ago.  He has talked to us about maybe someday going on tour in Brazil, which I think would be amazing.

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