Gaffitti de Witch e Kalyne Lima |
Todas as fotos foram retiradas da página da Witch
Me chamo Priscila, sou fotógrafa e grafiteira, nas ruas sou
conhecida como Witch, sou de João Pessoa, na Paraíba, nordeste do Brasil.
Comecei a ter envolvimento com intervenções urbanas através da pixação por
volta de 2004, época da escola ainda, onde conheci outros meninos que também
pixavam e eu achava massa, a adrenalina ia à mil. Naquele tempo não existiam
muitas pixadoras por aqui, acho que além de mim, só algumas meninas que iam com
seus namorados. Parei um tempinho por alguns “probleminhas” com a polícia e com
a família. Mas nesse tempo em que fiquei parada, comecei a fotografar e a
acompanhar alguns rolês de uns amigos da pixação que faziam bombs e conheciam uns grafiteiros da
cidade. Foi conversando com esses grafiteiros que , em 2008, soube de umas
oficinas de graffiti gratuitas e a que tinha perto da minha casa era ministrada
por uma mulher, a Dedoverde – com quem hoje tenho uma crew: a Borboletas de
Passagem - e eu achei o máximo, pois o número de mulheres grafitando por aqui
sempre foi bem reduzido.
Graffiti das Borboletas de Passagem - crew formada por Dedoverde e Witch - no Recifusion Art 7, em Recife |
Apesar de toda a dificuldade que tínhamos em relação ao
material, ao preconceito que ainda existia na época, ao menor apoio de nossas
famílias, eu e Dedoverde decidimos montar a crew, com a ideia de espalhar mais
graffitis feitos por mulheres e convidar outras meninas para pintar conosco. Só
que todas as meninas que grafitaram e tentaram participar da crew não ficaram
por muito tempo. São muitas dificuldades colocadas, principalmente a nós
mulheres, ao fator “ir para a rua”. Tinha o preconceito da sociedade, cólicas,
namorados machistas, gravidez, falta de grana pra compra do material (que era
péssimo por aqui quando começamos), e se fossémos pintar à noite então, os
obstáculos dobravam. Vinha a tensão de talvez ser assaltada -antes, durante e
depois da pintura-, de ser estuprada, vários fatores. Isso fez com que a crew
virasse um duo. Hoje em dia somos só nós, Witch e Dedoverde.
Em relação ao preconceito por parte de grafiteiros daqui,
acho que nem passamos por isso. Pelo contrário, eram nossos amigos e eles
mesmos incentivaram e ajudaram a não desistirmos, como várias que pararam de
pintar. Mas dentro do movimento graffiti em si, existe sim bastante
preconceito, bastante assédio, bastante desigualdade ainda, infelizmente. Como
em qualquer movimento existem alguns machistas –por mais que eles digam “não
sou machista, tampouco feminista” kkkkkkk- e sempre rola de em alguns eventos a
gente não ter um número de participação igual ao dos homens, sempre rola de que
se incomodem com o tamanho da roupa que usamos para grafitar, sempre rola de
tratarem as mulheres super bem, jurando que por que estão sendo prestativos
terão alguma chance de ficar com a pessoa.
O nome Witch, significa bruxa em inglês e as bruxas sempre
foram condenadas por serem hereges, por não seguirem o cristianismo pregado
pela igreja, e em muitos lugares, bastava a mulher ser esquisitona para ser
considerada bruxa, perseguida e levada à fogueira, ou seja, apenas preconceito explícito que causou muitas mortes.
Digamos que não estou “nos padrões” impostos pela sociedade. Sou negra,
periférica, não estou no padrão de "corpo ideal", não vou à igreja e luto pelos meus direitos, isso já
seria motivo para eu ser uma bruxa! Hahahaha (imaginem uma risada maquiavélica!)
Nos graffitis faço críticas diretas e indiretas ao machismo,
ao racismo, à homofobia e a qualquer tipo de violência que nós mulheres e
amigas sofremos todos os dias. Coloco nos muros imagens femininas através da
minha personagem, a Catrina, seja utilizando spray ou fazendo colagens. Às
vezes, ela vem acompanhada com mensagens feministas sobre amor próprio, aceitação
do seu corpo e empoderamento.
Camisas da personagem Catrina |
Um dos quadros de Witch |
A partir do momento em que alguma mulher se identifica com
nossos graffitis, acredito que a mensagem que eu queria transmitir foi passada, mais que isso, o feminismo e a
sororidade das frases também. Mesmo que incomode muitas vezes. Se alguém
criticou construtivamente ou negativamente, é porque foi visto.
Sinto falta ainda de mais mulheres fazendo interveções nas
ruas, seja ela graffiti, colagem, stencil, pixação. Mas o número de mulheres
intervindo já é bem maior que antigamente e acho isso lindo, ver que outras
mulheres querem e precisam se expressar usando a rua como suporte. Espero que
esse número só cresça!
----------------
O objetivo deste guest post é proporcionar um relato em primeira pessoa a respeito da experiência da Witch, para conhecermos mais do universo do graffiti e dos desafios que ela superou para fazer o que faz. A conheci no Vulva La Vida e desde então acompanho os trampos talentosos da Pri. Vida longa, Witch!
O objetivo deste guest post é proporcionar um relato em primeira pessoa a respeito da experiência da Witch, para conhecermos mais do universo do graffiti e dos desafios que ela superou para fazer o que faz. A conheci no Vulva La Vida e desde então acompanho os trampos talentosos da Pri. Vida longa, Witch!
Para informações sobre os preços de telas, blusas e demais criações da Witch é só mandar mensagem direta para a página dela.
Facebook | Matéria pra o G1 Paraíba | Dedoverde
Facebook | Matéria pra o G1 Paraíba | Dedoverde
Nenhum comentário:
Postar um comentário