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domingo, 8 de janeiro de 2017

Retrospectiva: Destaques de 2016




Vocês acharam que eu tinha morrido depois do golpe, né? Hahaha. Eu tinha comentado com vocês que o meu notevelho estava morrendo. E, apesar dele ainda ligar, é impossível usá-lo. Ele desliga de tempos em tempos, tornando este hobby prazeroso algo bastante irritante. Isto, mais os 'ossos do ofício' e os acontecimentos da vida contribuíram para que o blog ficasse com muitas moscas durante 4 meses! Ainda assim, espero que o conteúdo publicado tenha sido relevante para alguém. Eu não podia deixar de escrever este post. Esta é a quarta lista de Melhores/Destaques do Ano publicada no Cabeça Tédio e acho que é sempre bom olhar para trás e ver o que ouvimos.

No Destaques de 2016 compartilho os álbuns que mais gostei. O critério de seleção é aquele que você já está careca de saber: bandas de mulheres ou com mulheres na formação, punk feminista, independente, faça você mesma, que não seja homofóbica, racista, especista, capacitista, enfim - toda característica que causa prejuízo para alguém. Ao contrário do Destaques de 2015, neste ano não teremos comentários sobre clipes e shows. Era isso ou abandonar de vez o post, visto que eu continuo sem um computador apropriado. Risos de desespero. Por isso, já adianto que o post vem mais curto e objetivo, sem os meus floreios e viagens de costume. E a organização dos discos foi feita em ordem alfabética mesmo. Vamos lá!



Actual Crimes - Ceramic Cat Traces
Conheci essa banda este ano, mas rapidamente ela me ganhou. Isso porque quando ouço uma banda que é visivelmente inspirada em Sleater Kinney só consigo pensar nisso. Não diminuo o talento e criatividade da banda, mas adoro ouvir os diálogos musicais existentes entre quem inspira e quem é inspirado. E a Actual Crimes, de Londres, se encaixa neste contexto, que também carrega referências post-punk, e de alguma forma, ainda me lembra de Cadallaca. 





Against Me! -  Shape Shift With Me
Dizem que quanto mais velho o vinho, melhor o sabor. Eu não sei, porque não bebo vinho. Mas ao ouvir 'Shape Shift With Me', do Against Me! pensei logo nisso. Não que este seja o melhor disco deles, não é. Mas tem ótimos sons. E sabemos que a banda passou por muita coisa, e mesmo assim, não parou de criar boas músicas até hoje. Que continue assim! Ouça também no Spotify.



Alice Bag - ST
Ela é uma das fundadoras do The Bags - uma das primeiras bandas punks de Los Angeles - e sempre pautou questões de raça, classe e gênero. Hoje, ela carrega mais representatividade ainda, por ser uma pequena parcela da música independente de cabelos brancos que faz jus à sua juventude. Lançado pela Don Giovanni Records que não está para brincadeira, o disco tem momentos rock and roll, sempre carregado de punk rock e requebrância.




Cayetana - Tired Eyes
Olha só, são só duas músicas no EP, mas que musicões da porra! Elas lançaram também um EP ao vivo também, ouça aqui!




Chico de Barro - Nogueira
Chico de Barro é do Rio de Janeiro e bastou um single, Nogueira, para já grudar nos ouvidos. Trata-se de um projeto paralelo de Nathanne Rodrigues, que também toca no DEF. Espere uma letra sobre crush, muitas distorções e uma bela voz. O show de lançamento do EP será no dia 27 de janeiro, no Motim. Assista o clipe.






DEF - Sobre Prédios que Derrubei Tentando Salvar o Dia - Parte 1
Para mim, hoje esta é a melhor banda ativa do Rio de Janeiro. O disco de estreia foi lançado pela Bichano Recs. Ouça logo!




Dyke Drama - Up Against The Bricks
Para quem ainda não sabe, Dyke Drama é o projeto solo de Sadie Switchblade (G.L.O.S.S. e Peeple Watchin') e é aquele pop punk cheio de qualidade e ainda tem as letras no Bandcamp. É foda!





GxIxRxLxSx - Trans Day of Revenge
Essencial para quem gosta de punk/hardcore.




In Venus - Mother Nature
Eu só quero pegar esse show ao vivo. Viva a distorção, a natureza e São Paulo e suas bandas boas.




Mc Carol - Bandida 
Esta é a MC de Niterói que você mais respeita! Foi bom demais a primeira ouvida de '100% Feminista', feat com Karol Conka. Logo, nada mais natural do que incluir o disco da Mc Carol na lista!



Oldscratch - Padrões de Conserva
Hardcore direto, sem firulas de Alagoas. Formado por quatro garotas, a única coisa que está faltando é um tourzão para vermos o show ao vivo.




The Renegades of Punk e Tuna - Split 7"
Se você gosta de punk rock BR você já ouviu esse split muuuuuuuuuuuitas vezes.







Savages - Adore Life
Toda a crudeza e força pós-punk deste quarteto maravilhoso está presente em 'Adore Life'. Se você ainda não ouviu este disco, por favor clica aí no play logo.Confira o site, ouça no Spotify e tente conter o seu crush na banda.




Sheer Mag - III 
Parece que na Filadélfia (EUA) não tem banda ruim. E Sheer Mag talvez seja uma das melhores de lá!



Somnia - How the Moon Shines on the Shit
Mais uma banda da lista 'pop punk pro', e que é boa de verdade. É a banda nova da dupla dinâmica Erica Freas e Matt Canino com David Combs (Spoonboy). Bom demais né gente, dá o play aí e aproveita!




Algumas observações:


Se você conhece o blog, sabe que aqui é um espaço sobre protagonismo feminino há algum tempo, principalmente do independente/faça você mesma. Creio que desde que esta mudança aconteceu, não demos mais destaque nem espaço para projetos formados por homens. Mas, chegou o dia de quebrar esta regra. Nada mais justo do que uma menção honrosa ao álbum póstumo de Sabotage. Extremamente criativo e inteligente, ele misturou samba e MPB antes de qualquer outro por aí. E fez isso bem e trilhou o caminho do sucesso que ele sabia que iria conquistar. A história de vida dele é arrebatadora e triste, mesmo sendo cheia de alegria e de toda a sagacidade das ruas. Reconheço todo o talento dele, mas o que chamou a minha atenção no disco não foi apenas a qualidade da rima, a criatividade dele ou a história de vida. E sim o fato dele ter escrito e gravado o disco há 13 anos e veja só, ele não precisou objetificar nenhuma mulher ou ser machista para fazer um bom álbum. Por toda a história dele e por admirá-lo, nada mais natural do que essa homenagem simples, mas de coração.

Também não é possível finalizar este post sem falar sobre a limonada que Beyoncé fez este ano. 'Lemonade' é uma obra fundamental para pensar racismo, sexismo e as possibilidades de tornar a cultura pop um espaço também de discussão política. Especialmente por estes temas muitas vezes ficarem restritos a determinados espaços. Agora pensa, se ela e o Sabota tivessem oportunidade de gravar algo juntos? Seria meu sonho mesmo! =) Outro feat dos sonhos seria Sabota e Elza Soares, que lançou 'A Mulher do Fim do Mundo' em 2015 e nesse ano ela colheu os frutos do trabalho dela. Ela foi eleita pela BBC de Londres, A Cantora do Milênio - 2007 e pelo APCA - "A Mulher do Fim do Mundo" - Melhor álbum 2015. Também não seria possível este post não mencioná-la! Leia aqui o texto que publicamos sobre ela.

Sentiu falta do 'Hit Reset' (The Julie Ruin) na lista? É que sinceramente o álbum ainda não me conquistou. Não estou dizendo que não irá, muito pelo contrário. Talvez em algum momento eu apaixone e compartilhe com vocês aqui várias coisas sobre ele. Mas, isso ainda não aconteceu. Por isso, não fazia sentido incluí-lo nesta lista. E para fechar, te convido a ler as três listas feitas pelo ótimo Preta, Nerd e Burning Hell. Com certeza é um dos melhores blogs brasil1eiros atuais.

Que 2017 traga coisas boas para você, e que você também mexa essa bunda para conquistar o mundo! E me conta, quais álbuns estão na sua lista?

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

4way: Ostra Brains, Oldscratch, Raivä e Trash No Star será lançado pela Oxenti Recs

Montagem: Cabeça Tédio - Fotos creditadas: Trash No Star - Filipa Andreia e Ostra Brains - Fê Fotografia

Um álbum formado por quatro bandas brasileiras, com mulheres na formação, que são independentes/faça você mesma, não é algo corriqueiro. Não só porque não existem tantas bandas ativas que caibam dentro deste nicho, mas também porque não há muitos selos independentes brasileiros voltados para, conscientemente, registrar o que as mulheres tem tocado e criado ultimamente. Por isso, o 4way: Ostra Brains, Oldscratch, Raivä e Trash No Star, que será lançado em breve pela Oxenti Recs, chamou tanto a minha atenção.

As cariocas Trash No Star e Ostra Brains representam o lado do sudeste, já Oldscratch e Räivä o hardcore/punk de Alagoas, representando as boas bandas do nordeste. E isto torna o lançamento ainda mais relevante, pois há propositalmente, um recorte regional e de gênero. Outro disco que tem um pouquinho destas características e que me marcou muito (e uma legião de ouvintes de punk/hardcore) foi o 3way: Ofensa, Mais Treta e Triste Fim de Rosilene, lançado há pelo menos 10 anos, pela Estopim e Alea Recs. O cd tinha bandas politizadas, do sudeste e nordeste e que faziam o meu tipo de som preferido na época. Estou dizendo isso tudo porque, mesmo ainda não tendo visto nada de concreto sobre o 4way, acredito que ele será tão relevante quanto o anterior o 3way.

O que os splits têm em comum? Selos do nordeste, letras politizadas e sonoridade punk. A grande diferença entre eles é que no 3way havia apenas uma mulher nas bandas, a Daniela Rodrigues (TFR e hoje The Renegades of Punk) e no 4way há mulheres em todas as bandas. Segundo a Oxenti Recs, ainda não há uma data prevista para o lançamento. Nós torcemos para que seja breve. E para já deixar todas ainda mais ansiosas, conversamos com Ostra Brains e Oldscratch sobre o disco. Confira!


1way: lado Oldscratch da entrevista


Cabeça Tédio) Como nasceu a proposta do 4way? 

O selo que vai lançar é a Oxenti Rec. do Rio. Acho que começou no meio do ano passado, quando estávamos anunciando a gravação do nosso disco ainda. A Bárbara, que faz parte do selo aqui em Alagoas e sempre cola nos rolês com a gente, nos jogou a ideia do split com a Ostrabrains, isso inicialmente, coisa que curtimos muito porque já conhecíamos a Amanda e a banda bem de antes. Meio que na mesma época a Räivä se instigou pra gravar o próprio EP também, acho que aconteceu algo parecido com a Thrash No Star, e por sermos todas bandas próximas (a baixista e a baterista da Oldscratch tocam na Räivä e a Thrash é parceira da Ostra) foi fácil pensar em juntar todas num bonde só, e fico muito feliz por ser um disco que várias amigas fazem parte. O lançamento não tá previsto ainda, mas assim que as gravações de todas as bandas finalizarem, sai.

CT) Qual é a importância de lançar um ep em que todas as bandas contam com alguma mulher na formação?
Acho que pode tanto fortalecer as minas que já estão engajadas em projetos musicais, incluindo nós mesmas, quanto incentivar outras que por algum motivo ainda não começaram, além de demarcar nosso espaço do nosso jeito, dizendo e reivindicando o que nos interessa também. Quanto mais produção feminina, melhor. Vai formando um alicerce.

CT) Há previsão de um tour em conjunto para divulgar o 4way?
Posso dizer que já tá nos planos. Estamos trabalhando ao poucos a ideia.

CT) O que vocês poderiam falar para mulheres que, por acharem que não tocam bem ou que já não 'tem mais idade pra tocar', mas que querem montar uma banda?
Que a vontade tem que estar acima de todas essas coisas. Até porque se aprende mais fazendo do que se apropriando de teorias e regras. Na maioria das bandas que já fiz e faço parte, teve uma ou mais pessoas que tinham pego pouquíssimas vezes no instrumento e aprenderam nos ensaios. Pra isso é importante estar com pessoas que se sente confortável, que não vão embaçar, que estejam afim de fazer algo junto mesmo. Toquei guitarra sozinha em casa por uns 3 anos até a primeira banda, mas a pressãozinha de acompanhar os outros instrumentos nos ensaios é muito diferente, te adianta em muita coisa. Quanto à idade, isso também não tem nada a ver. Enquanto tiver necessidade de expressão e essa for melhor através da música, assuma, na moral!


CT) Vocês vão lançar músicas indéditas no 4way? Elas seguem a mesma sonoridade do 'Padrões de Conserva'?
Então, serão duas músicas mais puxadas pra “There’s no Control” que, assim como essa, foram compostas ainda no início da banda, então têm uma levada mais grunge e são em inglês. Separamos elas pra o 4way, mas sempre tocamos nos shows. Nas demais músicas do nosso disco já preferimos abordar nossas questões com letras em português e o split vai contar com uma delas também.


CT) A cena musical independente de Maceió conta com mais mulheres produzindo música autoral? Indica mais alguma banda punk/hardcore para nós?
Sim sim, entre elas posso citar a Katty Winne (indie shoegaze); Lillian Lessa, tá com projeto solo mais psicodélico e toca na Necro; banda C.I.A., punk/hardcore, só de minas; tem a Arielly Oliveira, que fez parte do Biografia Rap – particularmente não ouço rap, hip hop, mas fui num show dela mês passado e achei incrível o trampo e a presença; e, claro, RÄIVÄ, que logo mais o EP sai da mixagem.



2way: lado Ostra Brains da entrevista

Cabeça Tédio) Como nasceu a proposta do 4way? 

A proposta do Fourway surgiu através da Bárbara Oliveira (Binha) e Klebson Silva, da Oxenti Recs. Fomos convidados a participar no dia que abrimos o show do RVIVR em 2015, na Audio Rebel. A ideia inicial era ser um split Ostra Brains (RJ) + Oldscratch (AL), mas a Binha teve a ideia de juntar RÄIVÄ (AL) + Trash No Star (RJ) no bolo e formar um fourway. Terão três faixas de cada banda no álbum, nós estamos gravando com o Ernesto Sena (Parte Cinza).

CT) Qual é a importância de lançar um ep em que todas as bandas contam com alguma mulher na formação?

Imensa importância, porque existem poucos registros de material feminista no punk/HC do Brasil. Fazer parte disso, é como se estivesse levantando milhões de possibilidades de novas bandas feministas surgirem daqui a meses.

CT) Há previsão de um tour em conjunto para divulgar o 4way?

Existe um interesse absurdo nessa tour, seria incrível tocarem as quatro bandas! Provavelmente aconteça lá pro final do ano, pelo sudeste mesmo. Ainda não sabemos ao certo.

CT) O que vocês poderiam falar para mulheres que, por acharem que não tocam bem ou que já não 'tem mais idade pra tocar', mas que querem montar uma banda?

Diríamos "Mete a cara!" rs. Brincadeiras a parte, mas eu, Amanda, faço isso diariamente quando encontro com qualquer menina num show. Acabo tendo uma postura de cobrança, rs. "Como assim você ainda não tem banda?! Você é incrível! O que tá faltando pra começar a tocar qualquer coisa?" Eu me sinto na obrigação de empoderar pessoas a tocarem, porque eu não tive incentivo nenhum, e esse lance de idade não tem limite! Não mesmo!

Quanto a ter banda, eu acredito no potencial de cada mulher. Vale a pena não limitar seus gostos musicais, digo isso por amar Karol Conka, Mc Carol e ouvir Anti-Corpos, sabe? Porque realmente faz falta, o RJ não tem uma banda de hardcore composta por mulheres, mas várias cantoras/musicistas feministas espalhadas por aí, tocando seus instrumentos e isso já me conforta bastante.

CT) O Ostra Brains vai lançar novas músicas no 4way? Elas seguem a mesma sonoridade do Gelato Luv?

Serão lançadas três faixas novas no fourway. Todas são de cunho feminista, uma delas fala sobre estupro, outra sobre não admitir ser silenciada e outra sobre ser uma mulher e ter total liberdade para ter relações sexuais com quantas pessoas quiser, sem ser julgada. A forma de compor as bases e as letras não mudaram, mas com a entrada do Roger (baixo) e Mario (bateria), a banda ganhou mais peso. O EP "Gelato Luv" tem uma bagagem "garage punk", um som bastante primitivo e "cru", porém ainda temos essa essência do Garage Punk e do Riot Grrrl, mas com mais presença devido a mudança na formação. O som acabou ficando mais explosivo.