terça-feira, 11 de agosto de 2015

resenha: #1 Bazar de Garagem do Coletivo Tiamät


Todas as fotos por Ana Luísa Flores

O inesperado demora, mas acontece. E hoje vou falar sobre ele: rolou no sábado, dia 08, em Volta Redonda (RJ) o primeiro bazar de garagem do Coletivo Tiamät. O coletivo é formado por mulheres envolvidas na cena punk/hardcore do Sul Fluminense, é para "punks e feministas" e quer justamente criar um espaço de diálogo e criação com as mulheres dessa região.

É inesperado porque, mesmo que mulheres participem dessa cena há tempos, até hoje elas não tinham se organizado em número e de forma politicamente feminista-mulherista. Há um tempo vagueio por essa cena com meus zines e banquinha, mas eu era só uma. E tinham outras que faziam o mesmo, de forma descentralizada. E o bonito desse evento foi justamente o propósito político feminista que ele coloca, que é acolher as punks e feministas e juntar as garotas todas. Por eu ser de onde o evento é, e por poder participar dessa movimentação na minha área, esse texto se torna um tanto pessoal. MAAAS, eu prometo tentar manter a objetividade e manter um número baixo de divagações. 

A proposta do evento era arrecadar dinheiro, com a venda de roupas e comidas, para que o coletivo tenha estrutura para organizar shows, eventos e debates com recorte de gênero, para empoderar as mulheres que estiverem por ali. O bazar rolou na garagem da casa de uma das meninas do Tiamät, em Volta Redonda.




O clima era acolhedor e bonito. Vi garotas que participam do coletivo Feminismo Sul Flu, que debate feminismo e gênero, vi meninas que colam no role punk/hardcore, vi meninas que eu não conhecia e isso tudo foi massa, porque conectou diversos universos das minas que flutuam por Volta Redonda e Barra Mansa; universos que têm tudo a ver e que ainda estão um pouco distantes. Sabe como é, juntas somos mais fortes, respeitando nossas diferenças e experiências de vida, sempre.

Além de abrir a casa, o coletivo lançou o fanzine PROFANA - #1 Manual de acessórios eróticos femininos e outros devaneios. E você o via logo na entrada, quando assinava a lista de presença do evento. Na garagem rolou o encontro do grupo Sagrado Feminino (olha os universos das minas se esbarrando de novo!), que era fechado para homens cis. Nenhum deles interferiu ou agiu de maneira que eu pudesse criticar, e isso me surpreendeu. No quintal da casa, muitas roupas cheirosinhas, pisca pisca, banquinhas de zines e muita muita comida vegana gostosa. Todas as minas do coletivo estavam com um crachá se identificando e tudo estava lindamente sinalizado e organizado. Você podia se sentir confortável.

VitaVeg por Lauren Baqueiro 

Participei com a banquinha Cabeça Tédio, e lancei o zine Ainda Não #2 e o meu novo zine, One Beat, e em algum momento falarei mais sobre eles aqui. Colada comigo, estava a banquinha da coletiva Maracujá Roxa, que veio do Rio de Janeiro especialmente para o evento. Estou falando de zines feministas faça você mesma, de riot grrrl, de patches, de colagens e materiais feitos (visivelmente) com muito cuidado e atenção. A Maracujá Roxa são Gricha, do zine Ciborgue de Pele, Puni, do zine Grrrito Mouco e que faz colagens lindíssimas e publicou resenha do show do Sleater Kinney aqui e também a Tássia, que não pode ir ao evento.   bazar foi mais especial para mim porque pude compartilhar dias e espaço com a Maracujá Roxa, minhas aliadas políticas afetivas. Ah, e Gricha e Puni também são autoras da Didática Zine, publicação que aponta metodologias para debater gênero e sexualidade com estudantes!

Ainda Não #2 

Maracujá Roxa e seus cadernos artesanais

Patches Maracujá Roxa

Foi extremamente empoderador encontrar muitas amigas - as mega íntimas, as zineiras, as que eu vejo pouco - todas juntas num mesmo lugar. Se antes o punk/hardcore daqui tem sido há muito tempo um local com o qual eu não me identifico mais, no bazar eu me senti em casa. Porque ali falavam a minha língua. Foi muito bonito reencontrar mulheres criativas interessantes e com trampos fodas, como a Ana Luísa Flores e a Thamyrys de Mattos. Eu nunca tinha vivido isso aqui e foi especial demais. É porque refletir o nosso tempo e o local geográfico que estamos inseridas é importante demais. É dizer: "nós existimos", é nos aproximarmos porque compartilhamos afinidades.

Colagens de Tamyrys de Mattos


E se isso não está com "cara" de uma resenha no sentido mais clássico, é porque rolou um feminismo intimista, um troço cheio de sentimento, que para mim sobre criar algo com as suas pares no crime. Aquelas que estão com você há mais tempo do que você se lembra. Aquelas que você não tem tanta intimidade mas tem carinho e tenta ajudar na vida e no role, tanto quanto possível. O Tiamät viabilizou para mim um encontro de muitas coisas empoderadoras e lindas. Ah, e teve a Ive Seixas, a Andorinha Só, cantando e tocando também!

Ive Seixas 

Eu passei (e passo) muito tempo falando sobre os outros locais e os outros países e é muito foda pelo menos uma vez falar sobre a minha área. Por isso talvez esse texto não seja inteligível para tantas pessoas. Mas no fim das contas, isso é sobre nós que mesmo com uma chuva de misoginia continuamos ocupando esse espaço do punk/hardcore e sendo feminista. É porque esse espaço é nosso.

E que mais e mais afetos politicamente conscientes e que querem falar das garotas e para as garotas apareçam.

2 comentários:

Camila Puni disse...

Fazemos das suas palavras as nossas.
Maracujá Roxa <3
Cabeça Tédio, obrigada por existir!

boredcarla disse...

Obrigada pela Maracujá Roxa (r)existir! =)