Todas as fotos por Carla Duarte
Se tornou um pedaço de mim ao se personificar em forma de música no rito de passagem mais importante da minha vida. A batida da bateria, torta e cadenciada, os riffs perfeitamente simples e ainda complexos, aquela voz da Corin Tucker que saí direto do estômago direto na minha cara explodindo todas as borboletas com "oh, oh, oh". Tudo isso ficou totalmente impregnado em mim. Minutos depois da música ter parado de tocar, ela ainda dava o ritmo do meu coração e deixava a minha cabeça cheia. Este mês, o zine se tornou mais um pedaço de mim. Foi quando terminei meu primeiro zine sleaterkinneyniano, o não por acaso One Beat, que em meio a colagens registra trechos de algumas letras delas.
Hoje me dei conta da relação cósmica, do acaso e linda que entrelaça a minha história a delas. Em 2002 elas lançavam o álbum pela Kill Rock Stars e um dia depois, em 2015, eu me formava ouvindo a música que dá nome ao álbum. Hoje também é aniversário de uma das minhas melhores amigas, a qual eu presenteei com uma cópia do One Beat em cd em seu último aniversário. Isso pro meu olhar pisciano é significativo e mágico demais. Por isso, não tinha como esse texto não ser ainda mais pessoal do que os meus textos já costumam ser. E isso é incrível. É um sonic push for energy porque I decided to show myself. Oh oh.
Na minha história de ouvinte e apaixonada por Sleater Kinney, demorei muito para ouvir o One Beat. Passei muito, muito tempo ouvindo All Hands On The Bad One, naquela frequência absurda e que hoje não me permite ouvir da mesma forma, pois meus ouvidos ficaram desgastados. Me lembro da Puni, por carta, dizendo que este era um de seus álbuns preferidos e que eu deveria ouvi-lo com atenção, pois este era extremamente politizado e crítico, e sonoramente ele já é diferente do All Hands. Guardei o conselho no meu coração e esperei o tempo apresentar o melhor momento para ouvir o disco. E quando a hora chegou...
Aquele clima soturno (como o de The Remainder) que habita o álbum e perpassa todas as músicas entrou na minha cabeça. O clima de instabilidade política de 2002, com Bush e cia envergonhando a humanidade pode ser um pouco dessa materialização pesada do álbum, nas músicas "Far Away" e "Combat Rock". Esse disco não é leve, não há nada leve nele. Não é fácil. Tem o peso de Corin, Carrie e Janet e quem manja sabe o quanto é pesado e bonito e intenso e mágico. Tem o peso de uma década. De uma bateria forte, de riffs que horas são vulneráveis e hora se protege de um soco que está prestes a chegar. One Beat não é uma coleção de clássicos. É quase um fim. Depois dele, The Woods foi lançado em 2005 e ficamos quase 9 anos aguardando elas saírem do hiato. É o oposto de All Hands e Dig Me Out. One Beat termina como poucos outros, numa sequencia de explosão, em "Hollywood Ending" e de perigo eminente, em "Sympathy". One Beat é uma anunciação de força, de presença, de desconfiança que ratifica que Sleater Kinney não tem a capacidade de produzir algo mediano ou bom.
Um comentário:
Aaaah que post lindo! One Beat também mexe com minha pessoa. Sempre que ouço a específica música "one beat", me dá uma sensação loka que eu não sei explicar. É uma das minhas músicas favoritas.
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