Fotos Marcelo Mama |
Coluna do Mama
“And when the body finally starts to let go
Let it all go at once
Not piece by piece.”
Então era isso, eu estava ali no Albert Hall em Manchester.
Vendo e ouvindo e sorrindo e dançando Sleater-Kinney! Carrie, Corin e Janet
tocavam "Get Up" e era já a metade do
set, eu acho. Na hora eu nem sabia disso e só me importava com não perder a
cadência da respiração. Eu sou uma pessoa que se abate fácil e constante e,
quando elas começaram a tocar esse som com Corin dando esses conselhos do começo
da letra:
“E quando o corpo finalmente começar a se esvair
Deixe ir de uma vez
Não em pedaços”,
foi pra mim um dos momentos de maior catarse nesse show ( e olha, não foram poucos não! :) ), meu coração batia na rítmica de Weiss e eu sentia minha corrente sanguínea fluindo com os riffs daquelas duas guitarras da união Browstein-Tucker, as vozes que entravam em mim se aconchegando no meu peito, e um tal burburinho que estava no meu coração (quase como aquela água que começa a ferver pro café) numa ligação direta com a cabeça, apenas aguardando o momento correto de se deixar levar e explodir num “Oooooooh get up!”. Deixando as pernas, braços e quadris irem juntos, no meio de tanta gente desconhecida mas também incrivelmente alegres/eufóricas/chocadas/insanas/chorosas, que fizeram daqueles minutos essa experiência, de fato, inesquecíveis.
Eu mantenho essa
memória muito viva, parece que eu saí de lá com uma tatuagem numa região especifica
do cérebro pois é algo que eu sempre acabo precisando. Não foi por acaso que eu
resolvi começar a falar do show por esse momento.
Esse é um texto
que devo ter escrito há mais de 2 meses já, foi dia 24 de Março e uma das promessas que eu
fiz quando saí das perdizes, foi que com certeza iria escrever sobre isso para o
blog/zine mais sleaterzístico do pedaço, esse Cabeça Tédio. Mas as palavras não saíam. Então, ter lido
a experiência da Puni me ajudou muito. Perceber as emoções dela
descritas da maneira que estão, por também ter presenciado essa coisa mágica
que é estar presente num show das Sleater-Kinney. Isso me inspirou a finalmente
pôr meu relato pra fora. Assim como as sábias palavras de Carla me motivaram
bastante.
E é por isso que eu volto a esse momento delas tocando "Get Up". Pois é uma das memórias que eu cultivo pra não deixar a tristeza se fazer muito confortável dentro de mim. E ah, como eu preciso de momentos assim! É reconfortante poder existir (dentre outras bandas, claro) esse S-K que pode promover isso. Me evitar enlouquecer em sofrimentos auto-depreciativos ou problemas despropositadamente desproporcionalizados. E o melhor de tudo, sabe qual é? A importância da banda e a relação que muitas pessoas também tem com ela! Não é só comigo, cada pessoa tem suas sensações e euforias revitalizadas, remexidas e saber disso é como respirar tranquilamente em um momento de paz.
Por favor não
estranhe essa resenha de show baseada num instante congelado. Mas a minha experiência
foi bem próxima a isso por ter uma relação especifica com a banda. Assim como
cada uma tem a sua e eu tenho com outras bandas. Viva as nossas pessoalidades
que se encontram por conta disso!
É impossível não passar
por uma jornada paralela de pensar nas pessoas queridas, amigas que gostam da
banda, com quem já conversei sobre, com quem já ouvi um som... pessoas que eu desejo muito
que vejam elas ao vivo, porque todas merecem. As saudades que bateram... o fato de um dos
meus melhores amigos ter visto o show delas antes no Canadá e ter naquele
relato de whatsapp o ótimo sentimento que elas deixaram nele. Poxa, isso é
Sleater-Kinney pra mim também! É um pouco do efeito que tiveram a minha vida.
Né Carla? Quando a gente se conheceu foi uma das nossas primeiras conversas e
cá estou eu, depois de ter visto o show, escrevendo sobre.
Ok, tem uma
maneira mais prática aqui de descrever o show, que foi como eu me senti no
final. Era muita ansiedade antes delas subirem ao palco e parecia que aquilo
já durava dias. Quando, de repente, lá estavam Carrie, Corin, Janet e Katie com
seus instrumentos encaixando música atrás de música... ah, como tocam! Pareciam que
30 segundos haviam se passado e elas já não estavam mais lá, as luzes se
acenderam. Ai ai, foi muito rápido... (como na canção do Fragile Arm
“...que vem forte, passa rápido e seca logo”).
Mas, me organizado
um pouco melhor, a visão mais crítica do show consegue vir à tona. A banda de
abertura, The Pins, foi bem bacana. Deu aquela refrescada ouvir musicas que eu
nunca tinha ouvido antes. A baterista tinha uns trejeitos parecidos com os de outro
dos meus melhores amigos (que também estava naquela mesma conversa de whatsapp),
e me fez gostar ainda mais! Deu aquela marejada nos olhos. Elas todas cantavam
numa dinâmica bem legal mesmo e deixaram a casa num clima muito do bom.
Então tá, era
chegado o momento.
A felicidade se espalhava,
os gritos e as palmas e pimba: lá foram elas a tocar. O set list estava bem
baseado no último disco, o que não podia deixar de ser... e que belo disco, não?!
É a fase delas e, como até já falamos isso em outros textos (aqui e aqui), a banda acaba se
caracterizando e se diferenciando bastante pela fase de disco (pelo menos nessas
nossas opiniões por aqui). Ao vivo não parecia diferente pois os sons que mais preenchiam
eram mesmo os do No Cities To Love. Também porque ali a galera fez a tal lição
de casa e cantava principalmente esses sons, acho que a bela surpresa que foi a
volta+disco novo+shows deixou todo mundo empolgado pra caramba.
Elas também tocaram bastantes sons do The Woods, que por ser um disco mais próximo a essa continuidade que estavam dando com a banda, eram outros que ressoavam bastante o ambiente inteiro, ficava um som cheião, rock mesmo, bandona!
Elas também tocaram bastantes sons do The Woods, que por ser um disco mais próximo a essa continuidade que estavam dando com a banda, eram outros que ressoavam bastante o ambiente inteiro, ficava um som cheião, rock mesmo, bandona!
A dinâmica do
show funcionava mais ou menos assim: pra tocar os sons do No Cities To Love, a
muito talentosa Katie Harkin (que toca na banda Sky Larkin) se juntava a elas, tocando ao lado de
Janet a sua guitarra, e por vezes um tecladinho ou até uma percusão, preenchendo
as músicas em alto estilo.
E quando ela saía
do palco e deixava as três, era a hora que vinham os sons de antes do hiato. Os hits do nosso cotidiano. Nossa, e teve hits mesmo! Acho que por estar ouvindo
muito o The Hot Rock na época, "Start Together" foi um som cabulosíssimo quando veio.
Mas não era isso
que eu ia dizer. O meu comentário abalizado é que, sem dúvida, ir ao show das S-K teve aquele fator sonho realizado pois tava tudo lá! A bateria da Janet
cheia de sorrisos e balançadinhas de cabeça, sempre direta ao ponto. A guitarra
mais grave da Corin, que mesclam linhas de menos notas com seus riffs que
combinam e destoam ao mesmo tempo dos riffzinhos mais agudos e caminhantes da
Carrie. As dancinhas e jogos de perna invejáveis que só ela sabe! As trocas de
olhares, os sorrisos confortáveis. As harmonias de vozes das três. O vocal da
Carrie meio anasalado. E a Corin que, só ela, chega fazendo aquele agudo,
aquela gritadinha, que vai la em cima e leva a gente junto! Nossa, nossa, show
de Divas!
Outra coisa que
deu pra notar bastante são as diferenças dos climas de discos. E como em alguns
sons mais velhos, aquele estranhamento da individualidade de cada uma em seu
instrumento se somando a uma mesma canção é sensorialmente forte! E causa essa
novidade, a vontade pela empatia e auto-conhecimento, a busca. E ainda mantendo
a unidade da mesma banda, deixando todas as pessoas ali confortáveis. Sim elas
são Sleater-Kinney! Não há dúvidas, nunca haverá.
Na volta ao palco (o tal do encore) Corin volta só com o microfone com Katie na sua guitarra, cheia daquela malemolência, pra tocarem Gimmie Love. Um show à parte dela, muito a vontade só com o microfone, sem precisar da guitarra.
Durante o show eu
fui invadido por muitos sentimentos e seria injusto também não expor que as
músicas daquele jeito, ao vivo e na minha cara, me trouxeram muita reflexão e
aquela busca do auto-conhecimento. Também, o pesar de erros e besteiras feitas e
futuras, mesmo que por vezes não intencionais. Ou movidas reativamente por essa
bagunça que é a cabeça e os pensamentos que nela habitam. Pois a banda faz, sim, lembrar de dias passados e pessoas que ficaram lá, ou pessoas que não se tem a
mesma convivência (pelo motivo que for), mas que sabem que elas também tem, ou poderiam
ter, as suas relações e momentos com a banda. E esse show é uma experiência que
todas deveriam passar. Então é bom poder pôr os pés no chão e tentar seguir
tentando compreender mais os erros e coisas passadas, relembrar bons e maus
momentos nesse pretérito imperfeito. E nunca se esquecer dessas canções que já
te fizeram sentir o que precisava ou o que pode precisar. E tem uma música que
acho que me trouxe em especial pra isso também.
Sim, elas tocaram "One More Hour"! E sim, foi lindo!
E eu vou me
colocar esse limite de ficar lembrando e lembrando e comentando cada som e
momentos que surgem em mente, se não isso nunca vai ser postado haha. Como um comentário
final, acho que muito da magia do show foi por causa dos meus olhos mas eu
tinha uma expectativa e ela foi excedida! Foi incrível pra mim! E isso conta
alguma coisa, eu espero. Cada pessoa viu um show, tem gente que viu elas em
outras cidades, tem gente que viu em outras épocas, tem gente que ainda vai
ver. Os dias são diferentes, os lugares são diferentes, os climas são
diferentes, as pessoas são diferentes.
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