Um catatau de texto, Harry Potter, astrologia e uma mixtape no final
Por Carla Duarte e Marcelo Mama
O “Dig Me Out”, terceiro álbum
do Sleater Kinney e um dos mais cultuados do trio, completou 16 anos no dia 8
de abril. Um sweet sixteen para comemorar a nova idade do disco me parece uma
boa idéia, mas o que podemos fazer hoje nesse blog para celebrar o disco é um
post, escrito à quatro mãos (eu e Marcelo entramos nessa empreitada) e claro,
uma mixtape apropriada para o momento. Essa é nossa homenagem ao Dig Me Out,
que mesmo atrasada é do coração.
O ano de lançamento? 1997. O
mesmo ano em que o primeiro livro da coleção Harry Potter - Harry Potter e a Pedra Filosofal - foi
lançado. Sem dúvida 1997 foi um ano que valeu a pena. Uma parte sonhadora de
mim gostaria de acreditar que Hermione seria fã de Sleater Kinney, mas o lado
apegado aos fatos sugere que talvez ela seja um pouco conservadora para o som
delas. Mas, ela é a nerd com a personalidade pouco simpática, e isso talvez
pudesse ser uma porta de entrada para que ela gostasse do trio. Sleater Kinney
em Hogsmeade, já imaginou? Mas, voltemos ao álbum.
O disco tem 13 canções, e foi
o primeiro álbum da banda lançado pela gravadora Kill Rock Stars. Hits como “Dance Song ’97”, “Jenny”, “Turn It On”, “Words and Guitar” e
claro, “Dig Me Out” são desse disco. Ele aparece na
lista “Os 500 melhores álbuns de todos os tempos", da revista Rolling
Stone, lá no número 272. Está presente também na lista dos “Melhores álbuns
lançados entre 1985 e 2005”, da revista Spin, nela, o álbum fica na 24ª
posição. Essas listas de melhores qualquer coisa, que são o grande vício
de revistas de música, tem a frieza da Sibéria, e o terceiro disco do Sleater
Kinney não tem nada a ver com isso.
Se álbuns tivessem signos o do
Dig Me Out seria áries. Áries é o
primeiro signo do zodíaco, por isso simboliza o começo de tudo. E o Dig Me Out
é um novo começo para o Sleater Kinney, pois esse é o primeiro disco que Janet Weiss grava com Corin e Carrie, e
consolida seu lugar no banquinho da bateria. Os dois primeiros álbuns do trio –
Sleater Kinney e Call The Doctor, ambos lançados pela Chainsaw Records – tinham
nas baquetas Lora McFarlane.
O elemento de áries é o fogo, e
a impulsividade é uma das principais características do signo. Se você está levando
esse parágrafo e o anterior a sério – eu estou – percebe que essa impulsividade
do signo está presente no álbum? Talvez não de maneira explícita e clássica,
ateando fogo em tudo, mas está lá sugerindo em leve nervous breakdown.
O disco começa com “Dig Me Out”,
com um riff que já cria expectativas, a bateria entra e logo depois a segunda
guitarra. Na medida em que a música avança, o vocal de Corin vai mudando, e a
música oscila entre momentos menos agitados e momentos em que o ritmo é
mantido. É tudo sobre expectativa. Você espera pela explosão da música, o
momento em que Corin vai chegar em agudos que são só dela. A música, por si só,
não é uma grande explosão, mas é uma música que te deixa em alerta, talvez
sugerindo que você faça algo impulsivo.
Foto retirada daqui |
De um jeito a faixa de abertura já nos mostra como será o resto do cd. A guitarra de riffs e mais agudinha da Carrie Brownstein fica no lado direito, a bateria da Janet Weiss com um som sequinho que chega não só marcando, mas se impondo durante as músicas. E do lado esquerdo a guitarra da Corin Tucker que é mais grave no geral, mas que também faz seus riffs e levadas sejam elas graves ou passeando nos médios e agudos, dependendo da parte da canção. Também acho que fica mais para a esquerda a voz da Corin, e a da Carrie mais para a direita, mas isso pode ser só meu cérebro me enganando. Enfim, uma mix estéreo que funciona muito bem para esses sons do Sleater-Kinney.
A segunda é a muito bonita, e de adeus, “OneMore Hour”, que acalma o clima que tinha sido agitado pela primeira música,
acalma, mas também tem momentos em que quer te agitar um pouquinho. Mas o que
fica é o clima desajeitado que existe quando alguém se afasta de alguém.“Turn It On” chega pedindo para
ser aumentada, e sem dúvida, é uma música para se ouvir em alto e bom som. Essa
sim é a música da impulsividade, que segue em mesmo um ritmo acompanhando a voz
de Corin, e os solos que se encaixam na batida de Janet. É um pouco depois do
meio da música que as três diminuem o ritmo para o aumentar de novo, e
“impulsivar” tudo.
Não sei se vale ficar falando
de todas as músicas e acho que pode levar pra sempre. E tenho medo que nem eu
tenho pra sempre para escrever ou você terá o pra sempre de ler. Até porque tem
umas que tem certas teorias e bafões, e nem é uma boa ficar fofocando tanto
assim na internet né? Vale mais pena a gente se encontrar pra comer umas delícias
veganas e ficar falando sobre Sleater-Kinney e o que a gente acha sobre a
banda, as musicas, os discos.
Mas o disco continua com “TheDrama You’ve Been Craving”, “Heart Factory” e chega à dançante e animada “Wordsand Guitar”, um dos hits da banda. O ábum segue uma linha de nunca deixar cair,
mesmo com as músicas mais lentinhas, elas fazem o maior sentido estarem onde
elas estão. Porque apesar disso, elas fazem a gente se mexer, e entre as mais
animadas e elétricas, todas seguem essa linha de riffs e harmonias que marcam e
ficam, melodias para cantar junto mesmo sem saber a letra e uma rítmica
dançante.
Foto: Cabeça Tédio
|
As mais que animadas “LittleBabies” e “Dance Song ‘97” te fazem querer dançar, não importa o quão mau humoradx você esteja. Não é a toa que a segunda seja é justamente baseada em loops e repetições na bateria que vão chamando as partezinhas da música e aonde entram certas levadas e notas. Aliás, “Dance Song ‘97” é a única música do Sleater-Kinney que tem um baixo!
O álbum é um clássico do
Sleater Kinney, daqueles para ouvir em longas caminhadas, em casa, numa viagem
e ficar cantarolando sozinha. Ele é um dos favoritos de muita gente. E ele
existe pra um monte de gente gostar mesmo! Seja o seu disco preferido do
Sleater-Kinney, ou mais um dos discos preferidos da banda, ou só um disco que
acha bom de uma banda que você nem conhece. O importante é que é bom e um monte
de gente gostar mesmo, pra provar que essas músicas que vêm de dentro delas e podem
atingir qualquer pessoa, é só estar abertx a elas! E deixar se surpreender
bastante.
“Dig
Me Out” é o primeiro álbum de Janet Weiss no Sleater Kinney
Me lembro de ter lido a Carrie
contar que no primeiro ensaio que elas fizeram com a Janet ela e Corin
resolveram mostrar um som novo que elas ainda estavam fazendo. Elas começaram
tocando esse riffzinho e Janet foi acompanhando, e essa musica era e virou a “dig
me out”! A primeira baterista do
Sleater-Kinney era a australiana Lora Macfarlane, que saiu da banda e voltou para
seu país. Num breve período o SK tentou mais duas bateristas, mas quem chegou para
ficar foi Janet, que tocava/toca no Quasi, dentre muitas outras bandas.
Foto: Cabeça Tédio |
Lora gravou os dois primeiros cd’s e Janet entrou no terceiro para ficar pra sempre. Quanto ao estilo de bateria, cada uma tem a sua maneira, e dentro da banda cada cd tem uma pegada diferente, então as musicas já tem baterias diferentes. Mas de uma maneira geral o estilo de Lora é mais tradicional usando os pratos com freqüência e o bumbo que marca e às vezes põe um momento mais marcante, mas esse estilo tradicional dela não é bem o retão do punk/rock/pop pensando em como as musicas do Sleater Kinney pedem uma rítmica pra poder contrapor as guitarras e os vocais.
Mas quando Janet Weiss entra na
banda ela trás a sua perspectiva por trás do kit, não a toa que ela é
considerada uma das melhores bateristas dos Estados Unidos. Eu também acho, mas
não vou dizer a melhor porque tem muita gente boa, mas é uma das melhores
pessoas que eu já ouvi tocando bateria com certeza!
A bateria de Janet tem um ar mais sequinho,
tem menos sobra, e parece que anda em conjunto. Eu sinto que ela separa
bastante as peças, então o ritmo quebrado ganha uma outra força porque a
bateria age como não se espera tanto.
Foto: Cabeça Tédio |
Ela cria bastantes riffs escolhendo a
hora certa para cada peça ao invés de só sobrepor a todo momento e criar o
ritmo da interação direta. Assim ela chama atenção para cada batida em cada lugar.
Por não ter um baixo, o SK cria um efeito legal pra bateria, onde os tambores
mais graves (pensando mais no bumbo e surdo mesmo) criam um corpo que não pode
ser colocado e usado de qualquer jeito, e Janet já mostra isso com tudo nessa
sua primeira participação na banda. Estilo que ela vai criando e demonstrando a
cada novo lançamento Kinney!
Não sei se ficou muito confuso,
e também não quero generalizar o estilo dela. Porque acho que tem muito mais a
se falar, e eu mesmo não sou baterista. Mas eu sei de algumas coisas que eu
gosto, e puxa como eu gosto dela na bateria!
A homenagem do Sleater Kinney ao The Kinks
A
capa do Dig Me Out é uma homenagem a outra capa de um outro disco. O álbum “The
Kink Kontroversy” dos britânicos The Kinks, lançado em 1965, foi homenageado
pelo Sleater Kinney, de forma muito bem feita e totalmente apropriada, com uma
foto da Carrie tocando uma Rickenbacker. O “The Kink Kontroversy” é um cd bem
legal, mas não é meu preferido deles (me julguem).
Quando a contracapa do encarte é virada claro que damos de cara com uma foto fofíssima de uma menina pequena e um cachorro e seu focinho dando um alô. De resto, o encarte (pelo menos da versão do cd que eu tenho) é bem simples, tem as letras, e algumas fotos delas. Não sei se o encarte também é baseado no cd do Kinks por que eu não tenho. Se alguém souber dizer, me conta tá?
Não
conhece o Sleater Kinney?
O Sleater Kinney foi formado
em 1994 em Olímpia (Washington, EUA). A banda era um projeto de Carrie
Brownstein que tocava no Excuse 17 e de Corin Tucker que tocava no Heavens to
Betsy. As duas são guitarristas e no início o Sleater Kinney era um projeto
paralelo das duas, mas com o fim do Excuse 17 e do Heavens to Betsy elas
passaram a se dedicar somente ao Sleater Kinney. A banda nasceu dentro do Riot
Grrrl, mas há quem as considere uma banda alternativa, em função de
características musicais.
Elas lançaram 7 álbuns oficiais, o mais famoso é o “The Woods”, de 2005, que
foi lançado pela Sub Pop, e tem clássicos como “Jumpers” e “Modern Girl”. A
banda participou de várias compilações, e fizeram uma participação especial no
The L Word, tocando em um dos episódios. Um pouco da magia da banda está em sua
linguagem musical, que é muito própria e da todo o espírito da banda. E para quem quiser ouvir o Dig Me Out, nós upamos e disponibilizamos ele para download.
Dig Me Out Tracklist
01. Dig Me Out
02. One More Hour
03. Turn It On
04. The Drama You've Been Craving
05. Heart Factory
06. Words And Guitar
07. It's Enough
08. Little Babies
09. Not What You Want
10. Buy Her Candy
11. Things You Say
12. Dance Song '97
13. Jenny
Download - Dig Me Out - Link
Sleater Kinney Road, a nossa quinta Mixtape
É tradição: se você vai ao aniversário de alguém é de bom tom que leve um presente. E nada mais natural do que falar do aniversário do Dig Me Out e fazer uma mixtape em sua homenagem, não é mesmo? Nós fizemos isso, e o formato da mixtape - uma música de cada álbum, e uma de alguma compilação - é idéia do Mama. As músicas estão na ordem cronológica, e para não quebrar o ritmo, colocamos no final as músicas da compilação, os "bsides". E foi assim que nasceu a Sleater Kinney Road - Mixtape #5.
Fizemos a mixtape dessa forma porque, como vocês bem sabem não é possível fazer uma mixtape com um único álbum. E esse foi o motivo de não disponibilizarmos essa mixtape online. Nós hospedamos nossas mixtapes no 8tracks, e uma das inúmeras regras deles é: não repetir a mesma banda mais de duas vezes. Por isso, quem quiser ouvir a Mixtape #5 pode fazer o download.
Tracklist Mixtape#5: Sleater Kinney Road
Sleater Kinney - The Day I Went Away (Sleater Kinney, 1995)
Sleater Kinney - Be Yr Mama (Sleater Kinney, 1995)
Sleater Kinney - Little Mouth (Call The Doctor, 1996)
Sleater Kinney - Anonymous (Call The Doctor, 1996)
Sleater Kinney - Not What You Want (Dig Me Out, 1997)
Sleater Kinney - Dance Song '97 (Dig Me Out, 1997)
Sleater Kinney - Don't Talk Like (The Hot Rocket, 1999)
Sleater Kinney - A Quarter To Three (The Hot Rocket, 1999)
Sleater Kinney - Youth Decay (All Hands On The Bad One, 2000)
Sleater Kinney - The Professional (All Hands On The Bad One, 2000)
Sleater Kinney - One Beat (One Beat, 2002)
Sleater Kinney - The Remainder (One Beat, 2002)
Sleater Kinney - Jumpers (The Woods, 2005)
Sleater Kinney - Modern Girl (The Woods, 2005)
Sleater Kinney - Write Me Back Fucker (V.A. Move Into The Villa Villakula, 1994)
Sleater Kinney - More Than A Feeling (V.A. Move Into The Villa Villakula, 1994)
Mixtape#5: Sleater Kinney Road - Download
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