sábado, 10 de janeiro de 2015

bandas do coração: The Frumpies

Desculpem a podreira, essa é a minha primeira colagem no Photoshop - Carla

Guest post por Luan  

Conheci a Frumpies através de outra banda maravilinda: a Bikini Kill, que por sua vez, conheci através do Nirvana e toda aquela história: Kurt amigo das minas riot de Seattle, Kathleen Hanna pixa o quarto dele e a pixação vira o hit dos anos 1990 "Smells Like Teen Spirit". Mas só muitos anos depois que fui de fato pegar pra ouvir Bikini Kill e várias outras bandas fodas que eu nunca tinha ouvido falar até então. E daí lá foi minha vida entortar com todas as bandas riot e pop punk (e não mais por punk de macho).

Para mim a Frumpies é uma preciosidade caótica, foi uma banda que literalmente veio pra confundir e desconstruir, e mandavam muito bem. Faziam as gravações no porão da casa dos pais da Tobi com gravadores portáteis, tinham quatro guitarras (isso aí mesmo que você leu!) na banda, nunca teve baixo e o som delas era simplesmente o caos em forma de música. Algumas guitarras eram sempre com MUITA distorção, enquanto outras quase não tinham distorção alguma, aí no meio desse caos sinfônico de distorção, imagine cinco pessoas dentro de um porão com 4 guitarras ligadas. 

O resultado é um emaranhado de microfonia! Mas elas não ligavam pra microfonia, o negócio era fazer barulho mesmo, então entravam os vocais da Tobi e Kathi, às vezes juntas, às vezes separadas, ora berrando, ora cantando belamente. Nada soava planejado ou devidamente ensaiado no som delas e acho que é isso que da todo o charme. Não da pra explicar o que o som delxs me desperta, mas até hoje é a banda que mais tenho gosto em ouvir, talvez justamente por esse tom badernista da banda, enfim, o caos! Aliás, outra banda super caótica da mesma leva que já foi falada aqui e que coincidentemente já excursionou junto com a Frumpies, é a Huggy Bear, na Coluna do Mama.

To aqui contando tudo isso pra contextualizar um pouco e também porque eu sempre fui um nerd de música, daqueles que faz árvore genealógica das bandas que curte e sai caçando bandas e projetos paralelos dos integrantes e foi assim que conheci a The Frumpies. A junção de duas bandas fodas e promissoras do Riot Grrrl, Bikini Kill e Bratmobile, deu origem a monstrinha de 5 cabeças, aka The Frumpies.

A banda surgiu como uma forma de desconstruir o skate punk da época. Todxs da banda curtiam skate, porém, não se encaixavam muito em nenhum “padrão de skatista”, e nem queriam isso. Assim nasceu o “Manifesto For The Nu SkateMovement”, escrito pela Michelle Mae e Tobi Vail. Publicado na Grand Royal Magazine, o texto basicamente jogava para o alto as “skate rules”, afinal, a regra (se é que ela existe) é simples e clara: se você quer andar de skate, ande! Ou como disse Tobi Vail no manifesto: “Make up your own rules! Skate creatively, skate to entertain, skate to challenge accepted skating norms, etc.”

Então, em 1992 a banda começou suas atividades em Olympia (Washington) e da bancada Bikini Kill trazia Kathi Wilcox, que assumia o vocal e guitarra (às vezes a bateria também), Tobi Vail, que também mandava nos vocais e guitarra e Billy Karren também na guitarra. Do Bratmobile vinha Molly Neuman na bateria e ainda tinha o reforço da Michelle Mae (Weird War, The Make-up) na guitarra. 


Disco a disco: Donna Dresch in da house


Elas lançaram três ep's em 1993, todos produzidos ou mixados pela Donna Dresch.  O primeiro, "Alien Summer Nights" é de longe meu preferido. Mostra logo de cara o que era a banda: punk do barulho! Tobi Vail canta em todas as músicas do lado A da bolachinha (faixa 1 a 4), enquanto a Kathi Wilcox canta da faixa 5 em diante. O que mais chama atenção nele são as guitarras (tirem um dia pra ouvir esse ep com o volume no talo e prestando atenção nas guitarras, uma experiência e tanto, garanto!) e a crueza e espontaneidade em geral do som. A impressão que me passa ao ouvir esse ep é de que simplesmente estou ouvindo alguma banda insana ensaiar em alguma garagem!

Outra coisa que chama atenção são as letras (a cara dos anos 1990), que falam sobre não se ter o que fazer, nem com quem andar na cidade onde vive e de não se encaixar em nada. Como na letra de “I Just Wanna Puke On The Stereo”:  “if only boring people are bored i guess i'm one of them, i want so much more from this thing than it could ever give, you're bored and i'm sick well i guess we've switched” e no segundo verso Tobi manda a ideia “i guess i'm not supposed to say these things in front of your friends, a girl could say a lot to you that you could never hear, i wanna puke on your stereo!”. E o ep segue nessa pegada descompromissada, raivosa e badernista que acho difícil não gostar. Uma característica massa da Frumpies é que a cada ep elas iam mudando um pouco o som, mas sempre com o elemento caos no meio.


Em seu segundo ep, “Tommy Slich”  - que traz uma bebê muita da fofa na capa -, a diferença no som é bem significativa. As músicas são mais melódicas, tudo ainda continua com requintes de crueza!  Sempre quando ouço-o, a primeira coisa que me vem à cabeça é uma festa lotada de gente esquisita e geral dançando estranho, mas tudo isso num cenário anos 1990 (sim, eu gosto bastante dos anos 1990 ^^). 

Ah, e é nesse ep que Michelle Mae faz sua estreia no vocal, cantando a primeira faixa, que dá nome a bolachinha. Tobi se encarrega dos vocais da baladinha do ep e quiçá, da música mais fofonística da história da banda: “Deliberate Indifference”. E pra fechar, elas nos brindam com “Fuck Yr. Frumpies”: “Michelle's so vengeful, kills people nearly everyday, have you forgotten, I'm the evil bitch no-one can slay, Kathi's a diva, Molly is a ballbreaker, Billy's a genius, no one can play tricks on us!Precisa falar mais alguma coisa?


“Babies And Bunnies” é o terceiro disco de 1993 – com sons que lembram bastante o primeiro ep e outros que lembram mais o segundo -  e o barulho volta a reinar novamente! Nesse ep acho que fica um pouco mais claro as diferenças das músicas cantadas por Kathi e Tobi. Enquanto as cantadas por Kathi prezam mais pela insanidade e a gritaria, como, “Weird Machine” e “She's A Real Cutie Pie”, Tobi é mais garageira e canta as outras 3 faixas do ep.

Safety First” é lançado em 1994, com uma sonoridade bem mais lo-fi que os anteriores. Essa foi a última gravação de Michelle Mae antes dela sair da banda para seguir como baixista do The Make-Up e alguns meses depois Frumpies decide parar as atividades.

Bye, Donna Dresch!


Já em 1996, com o fim da Bikini Kill e com o hiato da Bratmobile, The Frumpies decide se reunir e dois anos depois lança “Eunuch Nights”, seguindo a mesma pegada lo-fi do disco anterior, tanto no som quanto na gravação, que segundo as infos do encarte, as músicas foram gravadas em uma garagem e diversos banheiros de Olympia. Já sem Michelle e com “apenas” três guitarras, as músicas ficam um pouco mais lentas, mas ainda com o mesmo ar de baderna de sempre. 

Considero esse como o ep mais fácil de ouvir para quem tem ouvidos mais sensíveis à barulho e baderna, por ter músicas mais lentas e sem tanta microfonia. Outro detalhe são as letras, que mesmo com o passar do tempo elas ainda continuavam no mesmo clima “still weird in town”, o que me deixa feliz. Afinal, é bom saber que não estamos sozinhxs com esse sentimento. E esse foi o primeiro trabalho delas sem a assinatura da Donna Dresch nos créditos.

Em 1998, para compensar a falta de catálogo dos primeiros materiais, é lançado o “Frumpie One-Piece”, um cd com todo o material que elas haviam lançado até então.
Em 2000 é lançado o “Frumpies Forever”, último trabalho antes delas encerrarem as atividades novamente. Mas nada como uma viagem de despedida pra fechar o role e firmar a amizade, por isso, elas ainda fizeram um tour pela Itália! Esse é o mais garageiro de todos os trabalhos delas, com um som mais limpo do que os anteriores - mas gravado num porão, como sempre! - e pela primeira vez com Tobi e Kathi dividindo o vocal em quase todas as faixas!

 É um ótimo ep, com letras que falam basicamente sobre nostalgia, como em “We Don't Wanna Go Home” em que elas cantam “I remember better days when all my friends were here, we never did live in one place, this is what we used to say: we don’t wanna GO home, we don’t live anywhere” e completam com “Molly is in Oakland now and Kathi’s in DC, Bill lives in Olympia and Michelle is on TV”.



Falando em Michelle, ela não fazia mais parte da banda, mas ganhou a capa do ep (é ela a moça da foto da capa) e a mãe da Kathi também ajudou com um desenho no encarte. Umas fofas elas, né? Pra fechar o ep rola um cover mais do que inusitado do Rolling Stones, que claro, ficou muito melhor com elas do que na versão original dos múmias ingleses. Em dezembro foi meu aniversário e ganhei de presente a bolachinha “Frumpies Forever” e fiquei super feliz! Valew, Carla, valew, Mama! ^^

E é isso, não sei se falei demais, acho que sim, mas espero que tenham gostado, pois eu gostei de fazer o post e a essa altura até meus vizinhos já devem estar curtindo Frumpies de tanto que ouvi no repeat a discografia enquanto escrevia o post. Frumpies Forever! o/

Bom, eu sou o Luan, nerd punk e adorador de gatos;  fui convidado pela Carla pra escrever um guest post sobre o Frumpies e claro que topei na hora com um sorriso de orelha à orelha, afinal, elas são uma das minhas bandas favoritas (junto com a Bratmobile) da era 1990 Riot Grrrl! Faço o zine Desova e era vocalista do Isabella Superstar.

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