“Papai, você gritou com a vovó! Não pode, tem que conversar..”
Acho que nossa maior lição nesse segundo ano foi aprender a lidar com a autoridade. Não há um minuto sequer que não penso na forma como quero que ela me veja. E me desculpe, não irei repetir nada do que vivi. A minha vida não justifica erros, costumes, nem modos de educar.
Costumo dizer que minha mãe foi meu apoio, minha base de afeto. E o punk foi minha escola, onde reconheci as falhas e outras formas de seguir. E a vida.. bem, a vida é onde tudo isso não faz sentido algum. Mas tem amor demais aqui, gente!
Eu acredito um tanto que possa existir uma relação entre mãepaisefilhes que não seja baseada na autoridade xixi, na autoridade de polícia, no mandar e no obedecer. E que se dane a instituição família, eu quero aquele amor incrível do beijinho de boa noite nas nossas relações, no nosso convívio, nas nossas decisões. Eu quero troca, entendimento. E sei que a pequena também quer. Se soubéssemos o quanto nossas crianças estão dispostas a ouvirem e serem ouvidas..
Eu consigo ver um mundo naquele olhar quando ela nega uma conversa com um desconhecido, quando quer fazer xixi e percebe que não está de fralda. Eu morro junto quando a saudade da mãe aperta e o silêncio dela a conforta. E gente, aí não há autoridade que me convença que devo passar por cima de tudo isso e desrespeitar o que eu sinto nela. “Papai, eu sei falar. Só não quis falar naquela hora”. Claro, minha filha. Mais claro que isso não existe.
Algumas das ferramentas da autoridade de polícia são o castigo, a agressão, o olhar intimidador. Até hoje não entendo como isso ainda é reproduzido nas famílias, como o discurso do respeito e disciplina são abraçados de maneira tão irresponsável. O patriarcado como instância histórica que é, precisa ser revirado e entendido que se não cabe na relação com sua cria, não cabe! Sua casa não é céu, nem parquinho é quartel, certo?
Gente, a autoridade nunca vai conseguir abraçar a grandiosidade do coração das nossas pequenas. Ali está esburrando medo, paixão, um montão de desconfiança. É clichê, mas respeite o tempo delas.
Esses dias na mesa com a avó e tiotia, alguém pergunta se ela amava cada um ali sentado. Já irritada com alguma coisa, disse um firme “não, não amo ninguém!”. Então o silêncio apareceu. O silêncio que ela tanto queria. E aí ela pôde falar com o coração. “Eu amo o papai sim, ta”.
Entendimento, gente. E muito amor pra perceber que somos o apoio delas e não um patriarca de farda com o manual no bolso.
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