quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Carta aberta ao Festival Roque Pense aponta presença de banda com integrante acusado de machismo e misoginia


O Cabeça Tédio, e eu, Carla Duarte, assinamos também a carta aberta que questiona a presença da banda Cretina no Festival Roque Pense. A banda tem um integrante acusado de machismo e misoginia e o festival privilegia bandas feministas e de mulheres. Denúncias não são exageros e a abertura de diálogos é fundamental. Todo apoio, suporte e força a sobrevivente.





Acionadores: machismo, misoginia, sobreviventes de situação de assédio e abuso























Não é de hoje que recai sobre a vítima o ônus de contar, recontar, confirmar e comprovar as agressões, ameaças e silenciamentos sofridos. O que se esperar de uma sociedade machista que culpabiliza a vítima e relativiza agressões? O que esperar dos mecanismos que sustentam e operam o patriarcado a não ser descrédito e indiferença? Porém, é neste cenário que a luta feminista se dá. No meio cultural essa batalha também se trava. Para cada mulher que empunha um instrumento ou um microfone, escreve uma letra, sobe ao palco ou produz um evento, milhares e milhares de situações de assédio, constrangimentos e relações de poder já foram reproduzidas. 

Ser mulher no meio musical é desafiar assédios e sexismos. É confrontar o machismo e lutar para que os espaços e oportunidades sejam abertos às mulheres. E é também exigir que os espaços sejam seguros. Que não reproduzam a norma opressora de desacreditar a vítima e seu relato, mas que antes de tudo, garanta que nenhum opressor será acobertado ou confortavelmente aceito. Se a arte e a cultura são ferramentas potentes para a propagação de ideias, cada projeto que se reivindica feminista se compromete a preservar o espaço e a fala da mulher. Se compromete a empoderá-la e fortalecê-la. Mas para isso se dar verdadeiramente é necessário romper diretamente com o machismo e todas as formas de opressão do patriarcado.

Diante disso tudo é que questionamos ao Festival Roque Pense e sua organização sobre a presença da banda Cretina, que entre seus integrantes possui um homem com graves acusações de machismo e misoginia. O festival acontece na Baixada Fluminense durante os dias que antecedem o Dia da Mulher e é famoso por receber inscrições de bandas de meninas de todos os lugares do Brasil, interessadas em fazer valer a promessa de um festival com música e intervenções culturais feministas! 

Temos certeza que muitas bandas talentosas e criativas e que verdadeiramente se engajam no combate ao machismo e no empoderamento feminino terão se inscrito e poderão ocupar o espaço que lhes é de direito. Numa sociedade machista, onde todos os lugares são acessíveis a machistas, chega a parecer provocativo que um machista tente não apenas transitar livremente, mas subir ao palco para mandar sua mensagem. Nós mulheres oprimidas uma vida inteira, nos recusamos a assistir a tudo isso como meras expectadoras e exigimos assim uma posição efetiva.

Se o lema deste ano é "‪#‎violênciaeunãosouobrigada"‬ reafirmamos que ‪#‎machistaseunãosouobrigada‬. 

Assinam esta carta
Coletiva Raiotagë
xereca
Belicosa
Vivá
Catilinárias
Teenage Micha
Tailor
Los Borges
Coletiva Leila Diniz
Bah Lutz
Canetão nosso de cada dia
Isabella Haru
Genice Silva
Cruz Eduardo
Marcela Valverde
Ana Luiza Marciano
Nathalia Sodré
Noélly Augustinho
Bonnie Misdemeanor
Rosario Amarante
Sofia Paiva
Beatriz Lopes
Cabeça Tédio

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